Com apoio da ONU, Timor-Leste leva alimentação mais nutritiva para as escolas

Crianças brincam na aldeia de Rai-mutin, em Timor-Leste

No município montanhoso de Manufahi, no sul de Timor-Leste, alimentos saudáveis muitas vezes estão fora do alcance da maioria das famílias, por serem muito caros.

Mas uma iniciativa apoiada pelas Nações Unidas está transformando essa realidade garantindo que estudantes recebam gratuitamente, todos os dias, uma refeição nutritiva.

Carência de alimentação nutritiva

O projeto também assegura que agricultores locais tenham acesso garantido aos mercados da própria comunidade, criando assim uma fórmula em que todos ganham.

O diretor da escola primária de Cossamar, em Same, Domingos de Jesus, afirmou que “os alunos não estavam passando fome, mas também não estavam recebendo uma alimentação nutritiva”. Segundo ele, agora os 500 estudantes recebem todo dia “mais proteínas e vegetais e, proporcionalmente, menos carboidratos.”

Domingos de Jesus enfatizou que “carne, ovos e alguns vegetais são difíceis de comprar para muitas das famílias da região” e algumas não conseguem pagar nem mesmo o café da manhã.

Em Timor-Leste, 18,7% da população enfrenta a fome diariamente e 45,4% das crianças menores de cinco anos apresentam atraso no crescimento, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO.

ONU News/Felipe de Carvalho

Crianças brincam na aldeia de Rai-mutin, em Timor-Leste

Fortalecimento dos cardápios

Melhorar a nutrição infantil está entre as três principais prioridades do governo e é um pilar do novo Marco de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que deverá ser assinado nas próximas semanas e implementado no período de 2026 a 2030.

O programa de alimentação escolar apoiado pela ONU beneficia mais de 70 mil crianças em todo o país, ao mesmo tempo em que fortalece a capacidade governamental em nutrição, garantindo a sustentabilidade a longo prazo.

O Programa Mundial de Alimentos, WFP, e a FAO trabalham em parceria com autoridades nacionais e locais no fortalecimento dos cardápios e das cadeias de abastecimento, na melhoria da infraestrutura das cozinhas e no treinamento de funcionários escolares em nutrição e higiene.

Ensopado de carne e espetinhos de frango

Em uma segunda-feira recente, o cardápio da escola de Same incluía ensopado de carne, legumes e arroz integral, todos servidos em bandejas de aço inoxidável fornecidas pelo Ministério da Educação com apoio do PMA.

A agência colabora com as autoridades na criação de cardápios balanceados com ingredientes locais e ajuda na construção de uma cozinha moderna no terreno da escola. O projeto é financiado pela Agência de Cooperação Internacional da Coreia do Sul.

Já em Betano, onde as crianças, no mesmo dia, saborearam espetinhos de frango com espinafre, acompanhados de arroz e feijão, a FAO forneceu equipamentos de cozinha. O projeto, encerrado no ano passado, contou com financiamento do Governo dos Estados Unidos. O PMA ofereceu capacitação em gestão orçamentária, elaboração de cardápios escolares e higiene na cozinha.

Campos de cultivo de arroz da aldeia Bahadatu aumentaram a produtividade após intervenção do Pnud

ONU News/Felipe de Carvalho

Campos de cultivo de arroz da aldeia Bahadatu aumentaram a produtividade após intervenção do Pnud

Comer o que se produz

Os cardápios incluem 75% de produtos locais, gerando renda estável para os agricultores.

O produtor timorense Andre Pereira de Sousa e seus vizinhos, nos arredores de Betano, passaram a contar com uma demanda constante por tomates, melancias, batatas-doces e bananas. Ele explicou que “a maior vantagem é não gastar tempo e combustível indo ao mercado” e poder usar esse tempo para melhorar as lavouras e passar mais tempo com a família.

A demanda estável também reduziu o desperdício de alimentos e incentivou os agricultores a aumentarem a produção.

Os agricultores de Betano que abastecem as escolas estão entre as 9 mil famílias beneficiadas por um programa da FAO sobre agricultura de conservação. Eles diversificaram a produção com cultivos de maior valor e passaram a usar composto orgânico em vez de fertilizantes químicos, reduzindo custos e o impacto ambiental.

O grupo de agricultores também recebeu pequenos moinhos para produzir farinha e preparar lanches para venda, além de um reboque para transportar a produção.

Uma abordagem unificada

O trabalho coordenado da FAO e do PMA exemplifica uma abordagem que vem sendo cada vez mais adotada pelas Nações Unidas, na qual diferentes agências atuam de forma complementar para apoiar o governo.

A coordenadora residente das Nações Unidas em Timor-Leste, Funmi Balogun Alexander, disse que “este é um excelente exemplo de quando um mais um é mais do que dois, reforçando os benefícios e garantindo maior sustentabilidade dos projetos”.

Ela revelou que o novo Marco de Cooperação entre Timor-Leste e a ONU foi construído com base nesse tipo de ação conjunta.

*Miklos Gaspar é diretor do Centro de Informação das Nações Unidas em Jakarta

 

 



Fonte ==> ONU

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