O caixão com o corpo do papa Francisco entrou, sob aplauso dos fiéis, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, às 4h31 (horário de Brasília) desta quarta-feira (23), depois de quase dois dias de velório na capela da Casa Santa Marta, onde o pontífice morava.
Transportado em procissão, na manhã ensolarada de Roma, o caixão aberto deixou Santa Marta sob as badaladas de luto do sino. Antes, uma oração foi comandada pelo cardeal camerlengo, Kevin Farrell. De lá, o cortejo passou pela praça dos Protomartiri Romani e sob o Arco dos Sinos e chegou à praça São Pedro. Entrou na basílica pela porta central.
Lá dentro, no altar da Confissão, o camerlengo presidiu nova cerimônia reservada, já com o caixão posicionado sob o chão. No período, a basílica esteve fechada para o público, que pode acompanhar a procissão na praça. Foram ocupadas as 10 mil cadeiras disponíveis para os fiéis. Segundo o Vaticano, cerca de 20 mil pessoas acompanharam, no total, a cerimônia da praça, que contou com telões de transmissão ao vivo.
Morto aos 88 anos, Francisco será sepultado em caixão de madeira, com vestes vermelhas e mitra papal branca. Em suas mãos, foi colocado um rosário.
Ao fim da cerimônia, os presentes na basílica iniciaram a fila que passa aos pés do caixão, para uma saudação final. Às 6h o velório foi aberto ao público. Por três dias, até o início da noite de sexta-feira (25), os fiéis poderão velar o corpo do papa.
O funeral está marcado para sábado (26), com missa às 5h, na presença de chefes de Estado e de governo. Segundo o Vaticano, a lista das delegações internacionais presentes ainda está em elaboração. Após a missa do funeral, na praça São Pedro, o caixão do papa Francisco deverá ser levado para a basílica de Santa Maria Maior, onde será enterrado.
O percurso de cerca de 6 km será feito em velocidade de cortejo, segundo o Vaticano, para que as pessoas possam se despedir do papa. O caminho exato ainda está sendo discutido com as autoridades italianas, por envolver questões de segurança.
Foi informado que a Santa Maria Maior ficará fechada durante à tarde, período em que o sepultamento deverá ocorrer, de forma reservada. Em seguida, será reaberta, no início da noite. Às 16h está prevista a reza de um rosário, aberta aos fiéis.
Na tarde desta quarta, aconteceu a segunda congregação geral, com a participação de 103 cardeais, de um total de 252 —no dia anterior, o quórum foi de 60. Foi decidida a programação dos nove dias de luto no Vaticano, que começam a ser contados com a missa do funeral. Com exceção do domingo (27), quando ocorrerá do lado de fora da basílica, as demais celebrações serão no interior. O nono e último dia será 4 de maio.
O conclave deve acontecer somente depois dessa data, uma vez que a programação já escalou cardeais para conduzir as celebrações —quando inicia o processo de votação, os cardeais devem ficar em isolamento. O Vaticano não comenta o conclave, com a justificativa de que a prioridade é o funeral.
A fila de quem queria ver o corpo do papa começou a se formar antes mesmo de terminar a cerimônia da manhã, dentro da basílica. No começo da tarde, pessoas que estavam saindo do local relatavam ter passado cerca de três horas em todo o processo. Em pouco mais de oito horas, entraram na basílica 19.430 mil pessoas.
Pela praça, no entanto, circulava um volume muito maior de gente. A fila chegou a dar volta na colunata. Diante da movimentação, o Vaticano estuda ampliar o horário de entrada para além da meia-noite, como era previsto para esta quarta e quinta. A decisão seria tomada de acordo com a quantidade de presentes na hora do fechamento.
Quem persistia na fila entrava na São Pedro pela porta santa, aberta em dezembro em função do Jubileu da Igreja, que ocorre a cada 25 anos. Dentro, era preciso percorrer todo o corredor da nave central até o altar onde o caixão foi colocado.
“Irmãs, não parem de andar”, disse um segurança ao repreender um grupo de religiosas que diminuíram o passo logo após avistar o corpo de Francisco. Todos querem ver o papa e todos querem fotografar o papa. Quando a fila se aproxima do caixão, grande parte empunha o celular e começa a filmar ou fotografar. Um gesto tão comum como o sinal da cruz com a mão.
Lá Fora
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É impreciso chamar esse grupo de fiéis. Entre aqueles que se dedicam a esperar horas para ver o papa, há um pouco de tudo. Há turistas, que viram coincidir suas férias com um evento histórico; peregrinos, que tiveram cancelados seus acessos prioritários; famílias com crianças, já que parte da Itália está em pausa escolar por causa da Páscoa. Há ainda os moradores da capital italiana, padres, freiras e, sim, os fiéis.
Alguns que passam pelo caixão se comovem. “Foi uma emoção enorme. Poder ver tantos rostos emocionados, de jovens, crianças, idosos. É uma sensação profunda que faz bem para o coração”, disse Angelo Oliveri, 28, que mora em Roma e estava na praça São Pedro desde cedinho para pegar um lugar e assistir à chegada do caixão na basílica. Acabada a cerimônia, ele entrou na fila e passou mais de três horas nela. “Vale a pena. Teria ficado até mais na fila se necessário.”
Fonte ==> Folha SP