Diabetes gestacional prejudica o desenvolvimento infantil – 24/04/2025 – Equilíbrio e Saúde

A imagem mostra uma mulher grávida deitada em uma maca em um consultório médico. Ela está usando uma blusa branca e um sutiã preto, com uma tatuagem visível na barriga. Um médico, que usa um jaleco e óculos, está examinando a barriga da mulher. Ao fundo, uma enfermeira também está presente, usando máscara. Todos estão em um ambiente clínico.

O diabetes gestacional, uma complicação na gravidez que pode afetar até um terço das mulheres em todo o mundo, está associado a um maior risco de problemas de neurodesenvolvimento em crianças, de acordo com um novo e amplo estudo.

Publicado na segunda-feira na revista Lancet Diabetes & Endocrinology, o estudo se soma a um crescente conjunto de evidências que relaciona o diabetes gestacional a uma série de complicações de saúde tanto para a mãe como para a criança. Embora os resultados descrevam apenas uma correlação, especialistas afirmam que os dados ressaltam a necessidade de triagem e tratamento precoce do diabetes, uma condição que está se tornando mais comum em todo o mundo.

Nos Estados Unidos, estima-se que 10% das mulheres tinham diagnóstico de diabetes em 2021. Outra estimativa é a de que 9% das mulheres americanas grávidas desenvolvam diabetes gestacional todos os anos.

“Sabemos há algum tempo que existe uma ligação entre níveis elevados de glicose na gravidez e futuros transtornos do neurodesenvolvimento”, diz Elizabeth Halprin, chefe de diabetes em adultos no Centro de Diabetes Joslin em Boston, que não participou do estudo. Os novos resultados apontam “para a necessidade de controlar o diabetes durante a gravidez”, ela acrescenta.

A análise, que reuniu dados de 202 estudos com mais de 56 milhões de gestações em todo o mundo, examinou os resultados para crianças cujas mães tinham diabetes tipo 1 ou tipo 2 durante a gravidez ou foram diagnosticadas com diabetes gestacional. Essas condições são coletivamente referidas como “diabetes gestacional”.

Mesmo quando os estudos consideraram outros fatores como a idade da mulher ou o índice de massa corporal, crianças nascidas de mulheres que tiveram diabetes durante a gravidez tinham 28% mais probabilidade de ter um problema de neurodesenvolvimento do que crianças cujas mães não tinham a doença. Os riscos de TDAH e deficiência intelectual eram ligeiramente mais altos em comparação com os de outros problemas, como o autismo.

A análise encontrou uma maior probabilidade de transtornos do neurodesenvolvimento em crianças de mulheres que eram diabéticas antes da gravidez, em comparação com aquelas que tinham diabetes gestacional.

Ter diabetes gestacional por um período mais longo ou ter diabetes gestacional grave o suficiente para justificar medicação também aumentou o risco.

A consistência das associações é surpreendente, dado o tamanho e a diversidade do conjunto de dados, diz Fangkun Liu, um dos autores do artigo e professor associado de neurocirurgia na Universidade Central do Sul em Changsha, China.

Não está claro o que pode estar por trás da potencial ligação entre altos níveis de açúcar no sangue e problemas de neurodesenvolvimento. Os autores do estudo sugerem que o diabetes tipo 1, uma condição autoimune, pode aumentar a inflamação em crianças, correlacionando-se com maior risco de autismo e TDAH. O diabetes gestacional também afeta como os genes são expressos e poderia causar mudanças que afetam a função cerebral, dizem eles.

Os médicos também sabem há anos que o açúcar elevado no sangue aumenta o risco de defeitos neurológicos congênitos, incluindo espinha bífida e uma condição chamada anencefalia, quando o cérebro não está completamente desenvolvido. Portanto, não é surpreendente que o açúcar elevado no sangue também possa afetar outros tipos de desenvolvimento neurológico, diz Susan Spratt, professora de endocrinologia na Escola de Medicina da Universidade Duke.

O estudo “não estabelece a diabetes como causa direta” de transtornos do neurodesenvolvimento, diz Liu, porque era difícil considerar todos os fatores de confusão, particularmente a genética. Alguns estudos na análise examinaram irmãos e não encontraram uma ligação clara entre diabetes gestacional e problemas de neurodesenvolvimento.

Tanto Halprin como os autores observam que o novo estudo não incluiu muitos dados de países de baixa renda, como os do sul e sudeste asiático, onde o diabetes gestacional é mais prevalente.

A maior questão sem resposta é se controlar o açúcar no sangue poderia reduzir esses riscos potenciais.

“Como pesquisador, médico nesta área, e também como pai, eu realmente quero saber mais sobre o impacto do tratamento de controle da glicose na gravidez”, diz Kartik Venkatesh, diretor do Programa de Diabetes na Gravidez da Universidade Estadual de Ohio, que não participou do estudo. Os autores pediram pesquisas mais rigorosas sobre esta questão.

Vários especialistas dizem que o estudo aponta para a necessidade de triagem abrangente de diabetes entre mulheres jovens na faixa dos 20 e 30 anos, para que qualquer pessoa que possa engravidar receba tratamento antes de conceber. Estima-se que 4% das mulheres americanas tinham diabetes não diagnosticada em 2021.

A Associação Americana de Diabetes recomenda que mulheres com a condição consultem um endocrinologista ou um especialista em medicina materno-fetal ao planejar engravidar. Além de controlar o açúcar no sangue antes e durante a gravidez, algumas pacientes podem precisar parar de tomar certos medicamentos, como as sulfoniluréias, que são conhecidas por atravessar a placenta e geralmente não são recomendadas durante a gravidez. Há pouca pesquisa sobre os efeitos de medicamentos como Ozempic durante a gravidez.

A entidade recomenda que pacientes grávidas com diabetes recebam aconselhamento nutricional que promova uma dieta de grãos integrais, proteínas magras e frutas e vegetais frescos. O exercício pode ajudar a melhorar os níveis de glicose e reduzir a necessidade de insulina, que é o medicamento preferido para gerenciar a diabetes na gravidez.

Embora os resultados possam parecer preocupantes, Venkatesh afirma que “a realidade do cuidado da diabetes na gravidez é que temos tratamentos que funcionam”.



Fonte ==> Folha SP

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