COP30: Brasil cria balanço ético enquanto leiloa petróleo – 17/06/2025 – Ambiente

A imagem mostra uma pessoa vestida com trajes indígenas, incluindo um cocar colorido e colares. O rosto da pessoa é coberto por uma máscara que retrata um homem idoso com barba e sorriso, possivelmente uma figura pública. Ao fundo, há outra pessoa com características semelhantes, mas menos visível. A cena é vibrante e destaca a cultura indígena.

Ao mesmo tempo em que concedia 19 novas áreas para exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas, o governo brasileiro apresentou, na manhã desta terça-feira (19), a criação do Balanço Ético Global (BEG), instrumento que “propõe uma escuta ética e planetária sobre a crise climática”.

A iniciativa é inspirada no balanço geral, também conhecido pela sigla em inglês GST (“global stocktake”), um mecanismo previsto pelo Acordo de Paris que ajuda a avaliar o progresso dos países em direção às suas metas de redução de gases-estufa.

Formalmente apresentado agora, o Balanço Ético Global irá reunir lideranças de diversas áreas para refletir sobre a questão climática sob um enfoque ético, centrado nas contribuições das vivências pessoais, contribuindo assim, segundo o governo, para trazer outras perspectivas aos processos técnicos e políticos.

Serão organizados seis eventos de diálogo regional, cada um em uma parte do mundo: América do Norte, América Latina e Caribe, África, Europa, Ásia e Oceania.

O primeiro encontro, no continente europeu, acontece já na próxima terça-feira (24), em Londres, durante a semana climática da cidade. A última reunião está marcada para 6 de setembro, em Nova York.

Até 30 representantes serão convidados a participar de cada sessão, “incluindo líderes religiosos, políticos, criadores culturais, artistas, mulheres, afrodescendentes, comunidades indígenas e locais, filósofos, empresários e cientistas de diferentes regiões”.

As contribuições apresentadas nas sessões de diálogo —com duração de três a quatro horas cada uma—, darão origem a seis relatórios regionais e a um documento síntese a ser entregue aos chefes de Estado e de governo e negociadores da COP30, a 30ª conferência mundial do clima da ONU, que acontece em novembro em Belém.

Além disso, as contribuições trazidas serão registradas em diferentes formatos, de textos técnicos à pintura e poesia, com parte delas integrando uma exposição na COP30.

“O Balanço Ético Global nada mais é do que trazer a dimensão da ética para dar suporte às decisões políticas, aos encaminhamentos técnicos, porque só ela será capaz de nos atravessar para dar o sentido de urgência dos problemas que estamos enfrentando”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que idealizou a iniciativa.

“Costumo dizer que já temos praticamente todas as respostas técnicas para fazer o enfrentamento à mudança do clima e à perda de biodiversidade e, por que não dizer, aos problemas sociais graves. Precisamos do necessário compromisso ético para colocar nossa técnica e acelerar nossas decisões políticas com o objetivo de que façamos aquilo que, inclusive, já concordamos em fazer”, completou a ministra, durante apresentação da iniciativa à imprensa.

Ao mesmo tempo, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) realizava leilão que concedeu 19 novas áreas para exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas, na chamada margem equatorial.

A possibilidade de extração de combustíveis fósseis na região tornou-se foco de protestos de ambientalistas no Brasil e no exterior, além de gerar embates dentro do próprio governo.

Além das áreas na bacia Foz do Amazonas, houve lances por blocos nas bacias de Santos, Pelotas e Parecis, sendo essas duas últimas também consideradas novas fronteiras exploratórias. O leilão arrecadou, no total, R$ 989 milhões com a concessão de 34 das 172 áreas oferecidas pela ANP.

Em meio a esse cenário, o Brasil foi alvo de protestos nesta terça-feira em Bonn, onde acontece uma conferência climática que funciona como uma pré-COP, reunindo negociadores e sociedade civil de todo o mundo.

Questionada se o leilão de de petróleo não representaria uma contradição com a organização da COP30 e dos esforços para a criação do Balanço Ético Global, Marina Silva reforçou que a iniciativa irá tratar de todos os temas, “inclusive aqueles que são contraditórios”.

“Só mesmo a perspectiva da sociedade para trazer todos os constrangimentos éticos, que não só o Brasil, mas o mundo inteiro, está passando diante das mudanças climáticas que nós estamos vivendo.”

Para Marina, o balanço ético pode ir contra a “síndrome do espectador climático”. “Onde todos nós estamos vendo o que está acontecendo, mas, infelizmente, quando é uma situação em que todos têm responsabilidades, fica mais difícil que alguém assuma a dianteira”, descreveu.

Segundo a ministra, o Brasil não se furtará ao debate sobre a transição energética. “O que nós queremos é sair de Belém talvez com o mapa do caminho para essa transição para o fim do uso de combustível fóssil.”

O Balanço Ético Global está no centro de um dos quatro círculos de liderança propostos para a COP30, sendo conduzido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

“Esse debate reunirá pessoas fascinantes, que chamarão nossa atenção aos esforços que precisam ser feitos para o cumprimento das medidas necessárias ao combate à mudança do clima”, disse o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago.

Colaborou Nicola Pamplona, do Rio de Janeiro.



Fonte ==> Folha SP

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