Araras voltam ao Rio de Janeiro 200 anos após extinção – 13/06/2025 – Ambiente

A imagem mostra uma arara com plumagem azul e amarela, focando em seu rosto. O pássaro está olhando diretamente para a câmera, com um fundo desfocado de vegetação. A luz natural destaca as cores vibrantes de suas penas e os detalhes de seu bico.

Quatro araras-canindé (Ara ararauna) chegaram na sexta-feira da semana passada (6) ao Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, mais de 200 anos após a espécie ser extinta da cidade. A última observação das aves em vida livre no município data de 1818, ainda no período colonial.

Três fêmeas e um macho vindos do parque Três Pescadores, em Aparecida (SP), passam por um período de aclimatação em um viveiro construído especialmente para as aves na floresta da Tijuca. A estimativa é que a soltura definitiva ocorra em até seis meses.

A reintrodução das araras na capital fluminense é liderada pelo Refauna, projeto de restauração ecológica, com apoio do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), gestor do parque da Tijuca.

“Existem alguns registros pontuais na cidade de aves que fogem de casas e outros ambientes sob cuidados humanos, mas não é uma população de araras em vida livre. Esses quatro animais vão ser os primeiros, desde o último registro confirmado, a viver livremente e com a ideia de formar uma população viável a longo prazo”, diz Marcelo Rheingantz, diretor do Refauna e biólogo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

As araras-canindé transferidas para o parque da Tijuca foram resgatadas em operações de apreensão de posse ilegal de fauna. Elas passaram por uma bateria de exames e testes de doenças até serem consideradas aptas para a introdução na floresta.

Um macho da espécie apelidado Johnny, morador do parque de Aparecida, estava entre os animais cotados para viver no Rio de Janeiro, mas faleceu antes da transferência. O filme “Meu Nome Não É Johnny”, estrelado por Selton Mello, motivou os biólogos a batizar o macho que foi para a mata da Tijuca como Selton.

Uma arara que demonstra comportamento próximo ao macho Selton foi nomeada como Fernanda, em homenagem à atriz Fernanda Torres, que contracenou com Mello no filme “Ainda Estou Aqui”. As duas outras fêmeas são chamadas Fátima e Sueli, em referência às protagonistas do seriado “Tapas & Beijos”, interpretadas por Torres e Andrea Beltrão.

Além de enriquecer a biodiversidade, as araras-canindés têm um papel importante na dispersão de sementes de árvores nativas da mata atlântica. Essas aves voam por grandes distâncias e são as únicas capazes de espalhar diversas espécies de plantas.

Na primeira semana após a chegada ao parque, as araras comem frutas, ração e outros alimentos oferecidos para aves sob cuidados humanos. Elas serão estimuladas a se alimentar de frutos nativos da floresta da Tijuca nos próximos dias. Ninhos artificiais também serão instalados no viveiro para ajudar na adaptação dos animais à floresta.

A equipe de pesquisadores se prepara desde já para o momento da soltura das aves. Eles planejam colocar radiotransmissores nas araras, para monitorar a localização à distância, além de marcações individuais com anilhas coloridas nas patas.

A população ao redor do parque da Tijuca será alertada sobre os cuidados com os animais. “Vamos criar um programa de sensibilização com as comunidades e escolas do entorno, para que as pessoas possam entrar em contato com a gente”, diz Rheingantz.

A ideia é que os moradores enviem fotos das araras. Assim, os pesquisadores poderão acompanhar os locais onde as aves circularem e estimular a ciência cidadã.

Os visitantes do parque da Tijuca também serão avisados para não interagir com as araras nem oferecer alimentos, para não prejudicar a autonomia delas.

A beleza e a aparência chamativa das aves, que têm as cores da bandeira do Brasil, tornam-nas alvo de traficantes. “As araras foram muito capturadas e caçadas até o século 19, porque elas se comportam bem em cativeiros, são muito inteligentes e respondem às pessoas”, afirma Rheingantz.

Segundo o pesquisador, a ideia é ampliar a população de araras no parque nos próximos anos. “Estamos tentando conseguir mais machos, para formar mais casais. Temos sete potenciais araras que vão passar agora pela fase dos exames de sangue, e aí vamos ter uma ideia de quantas poderão vir”, diz.

O retorno das araras à floresta da Tijuca era previsto desde 2019. A demora em encontrar animais com as condições de saúde necessárias e as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19 levaram ao atraso na chegada dos animais, de acordo com Rheingantz.

Breno Herrera, gerente regional do sudeste do ICMBio, diz que a reintrodução da espécie no parque é um marco científico, educativo e de manejo.

“Alguns séculos atrás, o ser humano transformou a área da floresta da Tijuca em um grande cafezal. Agora, no século 21, depois de um esforço de restauração florestal, o parque dá um passo adiante, recompondo também a fauna. Nossa esperança é que em poucos anos ou décadas esses animais estejam bem estabelecidos no parque, se reproduzindo, e possam recolonizar os céus da cidade”, diz.



Fonte ==> Folha SP

Leia Também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *