Argentina: Supermercados barram altas após desvalorização – 30/04/2025 – Mercado

A imagem mostra um mercado de frutas com várias bancadas. À esquerda, há frutas como cerejas, limões e uvas, com preços escritos em placas pretas. À direita, há uma grande quantidade de bananas e outras frutas. Um homem de costas observa as frutas. O ambiente parece ser um mercado ao ar livre.

O governo de Javier Milei apelou para que as grandes redes de supermercados da Argentina recusassem aumentos de preços por parte dos fornecedores, após a desvalorização cambial feita há duas semanas, e agora parece deixar para trás um dos seus principais temores: um novo aumento da inflação.

Na esteira do acordo do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a Casa Rosada anunciou a eliminação do “cepo” cambial —a restrição para a compra de dólares— para pessoas físicas desde 14 de abril e implementou a flutuação da moeda oficial, entre 1.000 e 1.400 pesos argentinos.

O sistema terá atualização mensal de 1% do limite das bandas, e o banco central deve intervir sempre que o preço da moeda ultrapassar esses marcos —o que até agora não ocorreu.

Inicialmente, se temia que a moeda iria ficar mais próxima do teto da banda, de 1.400 pesos. Mas não tem sido assim. Na última terça-feira (29), o dólar oficial fechou a 1.194,45 pesos para venda, de acordo com o BCRA (banco central argentino).

Como o dólar oficial estava cotado a 1.097 pesos antes da adoção do novo sistema, a desvalorização do peso é de 8,7%.

O dólar chegou a cair para menos de 1.100 pesos após o abrandamento do “cepo” (para as empresas, a compra de dólares ainda não foi liberada).

Milei comemorou o desempenho da moeda nos primeiros dias, mas parte dos analistas agora pondera que o dólar se comportou de maneira semelhante nos primeiros meses em que o governo de Mauricio Macri liberou o “cepo”, em 2015. O governo Macri precisou voltar atrás nessa decisão, há seis anos.

O comportamento da moeda levou a uma revisão das previsões para a inflação, que inicialmente eram de 5%. Consultores privados agora esperam que o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) de abril ficará entre 2,5% e 3,8%, com uma expectativa de desaceleração em relação ao mês anterior.

Em março, o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos) divulgou que a inflação mensal no país foi de 3,7%, bem acima do que havia sido registrado em fevereiro (2,4%).

Nos três primeiros meses do ano, a inflação acumulada foi de 8,6% e, em 12 meses, de 55,9%.

A inflação de abril vai ser divulgada no próximo dia 14 de maio, mas o diretor do Indec, Marco Lavagna, já adiantou que não espera grandes diferenças no IPC em relação a março por conta da mudança no regime cambial.

A Fundação Libertad y Progreso indicou que a unificação da taxa de câmbio não teve um impacto significativo nos preços até a terceira semana de abril, com vegetais apresentando o maior aumento, de 7,9%.

Já a Analytica aponta que na quarta semana de abril os preços dos alimentos e bebidas subiram 0,4% na Grande Buenos Aires, com uma média de 2,8% em quatro semanas.

Economistas ouvidos pela agência Reuters dizem acreditar que a inflação média em abril ficará abaixo dos 3,8% de março, apesar de esperarem uma aceleração em preços que são mais impactados pela taxa de câmbio, como combustíveis, que representam 4% do índice de inflação oficial.

“Agora não esperamos um impacto imediato sobre os preços”, diz o economista Fausto Spotorno, da consultoria OJF, acrescentando que o aumento da concorrência e a falta de pesos no mercado devem compensar qualquer inflação importada por uma moeda mais fraca.

Evitar que a inflação volte a subir é uma das principais batalhas do governo Milei. O governo espera que após a adoção do sistema de bandas cambiais tenha havido uma elevação dos preços, mas conta que ela tenha sido mais fraca do que ocorreu em outros momentos em que a moeda foi desvalorizada.

Nos primeiros dias do novo regime, grandes fornecedores, como a Unilever e a Molinos (alimentos), enviaram tabelas de preços atualizadas, com aumentos na faixa de 7% a 9% em produtos de consumo.

Além dos aumentos, houve uma redução nos descontos e promoções, com expectativa de diminuição de ações comerciais, como três produtos pelo preço de dois e 70% de desconto, isso acendeu um sinal amarelo na Casa Rosada.

Para tentar evitar que os repasses chegassem com força ao consumidor, o governo pediu que as grandes redes de supermercado recusassem os aumentos.

Dois dias após o novo regime cambial, o ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou que grandes supermercados na Argentina rejeitaram mercadorias com aumentos de preços de 9% a 12% devido à especulação cambial.

Nos pequenos comércios, no entanto, onde a margem de negociação com os fornecedores é menor, os aumentos de preço ocorrem apesar dos apelos do governo.

“Acho que gastei quase 10% a mais nesta semana pelas mesmas frutas e verduras que comprei no início do mês”, diz a professora Norma Aderni, 45, ao sair de uma quitanda no bairro portenho de Balvanera. “Ninguém me convencerá de que os preços estão controlados.”



Fonte ==> Folha SP

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