Carta de 25 países pressiona para tirar COP30 de Belém – 01/08/2025 – Ambiente

A imagem mostra uma vista aérea de uma área urbana em desenvolvimento, com várias construções e um grande espaço verde. Há estradas que cercam a área, com um padrão de caminhos coloridos e áreas de lazer visíveis. Ao fundo, pode-se ver uma cidade com prédios altos e um céu parcialmente nublado.

Um grupo de 25 negociadores da COP30, a conferência sobre clima da ONU (Organização das Nações Unidas), assinou um documento no qual sugerem que, se os preços de hospedagem exorbitantes no Pará não forem resolvidos, o evento deveria, ao menos em parte, acontecer em outro local.

A Folha teve acesso ao documento e conversou com representantes de parte desses países. No texto, os signatários —inclusive de nações ricas— pedem que condições mínimas de acomodação e custo sejam atendidas, “seja em Belém ou em outro lugar”.

Segundo pessoas a par das discussões disseram à reportagem sob anonimato, a insatisfação dos países é principalmente com as opções de hotéis, mas também com a logística em geral, segurança e transporte.

O documento reconhece o trabalho do governo Lula (PT) e da organização para viabilizar o evento e celebra a escolha de Belém como sede —uma cidade que vive as realidades das mudanças climáticas—, mas deixa explícita tais preocupações.

“[Ter condições de participar] significa ser possível viajar para Belém, ficar em acomodações adequadas e acessíveis, e ir ao pavilhão e voltar de forma segura e eficiente em termos de tempo, inclusive tarde da noite”, diz a carta.

“Se a COP inteira for mesmo acontecer em Belém”, os países pedem que essas condições sejam garantidas —mas reiteram que a situação é preocupante, a cem dias do início do evento.

O documento é endereçado tanto para a organização do evento quanto para a UNFCCC (o braço sobre clima da ONU).

Procurada pela Folha, a secretaria-extraordinária da COP30 confirmou o recebimento da carta, mas disse que não tratou do tema com outros países.

“Não há a possibilidade da COP30 ou parte da Conferência acontecer fora de Belém”, disse o órgão. A UNFCCC não respondeu.

Além de coletivos como o Grupo de Negociadores Africanos e o Países Menos Desenvolvidos (LDC, em inglês), dentre os 25 signatários do texto há nações desenvolvidas como Áustria, Bélgica, Canadá, República Checa, Finlândia, Holanda, Noruega, Suécia e Suíça.

A reclamação recai em especial sobre a cúpula de chefes de Estado —que reúne o mais alto nível dos representantes dos países. Segundo um influente diplomata das negociações climáticas da ONU disse à Folha sob anonimato, há uma grande pressão para que ao menos este segmento, que acontece antes da COP em si, seja transferido.

Como revelou a agência Reuters, uma reunião de emergência da UNFCCC foi realizada na última terça-feira (29) para tratar exatamente dos problemas logísticos. O Brasil tem até o próximo dia 11 para responder os receios levantados no encontro.

“O Brasil tem muitas opções para termos uma COP melhor, uma boa COP. Por isso estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse à agência Reuters Richard Muyungi, presidente do Grupo de Negociadores Africanos.

A reunião do dia 11 já estava agendada e ocorreu para “dar continuidade ao diálogo sobre o conjunto de ações para realização da COP30”, acrescentou a secretaria da conferência.

Nesta quinta (31), o presidente da COP, André Corrêa do Lago, confirmou que alguns países pediram para que a conferência não seja realizada na capital paraense.

“Acredito que talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que eles estão provocando”, disse.

Desde que a COP foi anunciada na capital paraense, o preço dos hotéis explodiu e a organização busca alternativas para dar conta tanto do preço da hospedagem, quanto do déficit de leitos para acomodar todas as cerca de 50 mil pessoas que devem comparecer.

Dentro dessa estratégia estão apurações internas no governo sobre práticas abusivas do setor hoteleiro e a mobilização de Airbnb, escolas, habitações do Minha Casa, Minha Vida e até navios cruzeiros para tentar resolver o problema.

A carta, segundo negociadores, vem sendo elaborada há semanas, mas eles preferiram esperar que a plataforma de hospedagem do governo ficasse pronta para, só então, finalizá-la.

Com atraso, a organização da COP lançou a plataforma, inicialmente restrita aos países participantes da conferência, primeiro focado em oferecer quartos por até US$ 220, ou R$ 1.225, para nações em desenvolvimento ou insulares.

À Folha, A secretaria da conferência acrescentou que cada delegação dos países menos desenvolvidos e insulares terá direito a 15 quartos por até US$ 200 e as outras, 10, por até US$ 600 —o total é de 2.500.

A reportagem procurou o setor, por meio Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, mas não houve retorno.

Na carta, os países pedem que este grupo tenha condições de se acomodar por diárias de até US$ 164 (R$ 918) e perto das intermediações do pavilhão onde acontecem as negociações, que ficará no Parque da Cidade.

Os representantes dizem que, neste momento, acomodar todos os participantes é a preocupação principal do grupo, e que a falta de clareza sobre como este problema será resolvido é preocupante. Eles afirmam que nunca antes tantas delegações estavam sem saber como iriam participar do evento, 100 dias antes dele acontecer.

Os países alegam também estarem se esforçando para reduzir suas delegações —como foi pedido pelo Brasil— para se adequar à realidade de Belém, mas que há um limite nisso, uma vez que muitos temas são negociados simultaneamente na COP.

O documento também critica a possibilidade de que pessoas tenham que dividir quartos para conseguir economizar custos, dizem que também a sociedade civil precisa ter sua participação garantida e pedem apoio da UNFCCC.

“Se essas condições não forem atendidas para todos que precisam estar em nossas negociações multilaterais, não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso”, diz a carta.



Fonte ==> Folha SP

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