Pela primeira vez em uma série histórica iniciada em 1991, o estado de São Paulo registrou saldo migratório negativo, o que significa que a saída de moradores locais (emigrantes) superou a entrada de habitantes de outras regiões do país (imigrantes).
É o que indicam novos dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta sexta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, São Paulo viu Santa Catarina assumir, em 2022, o posto de estado com o maior ganho de saldo populacional em razão dos movimentos migratórios entre as unidades da federação.
O quadro, diz o IBGE, mostra uma “mudança histórica”, já que a liderança do ranking havia sido ocupada por São Paulo nos recenseamentos anteriores, de 1991, 2000 e 2010.
Para levantar os dados, o instituto calcula o saldo migratório de data fixa para cada unidade da federação.
Na prática, esse indicador mede a diferença entre as pessoas que um estado conseguiu atrair (imigrantes) e as que deixaram o mesmo local (emigrantes), considerando um período de cinco anos.
No Censo mais recente, o IBGE avaliou os fluxos ocorridos de 2017 para 2022 –intervalo que inclui a pandemia de Covid-19.
Segundo a pesquisa, o estado de São Paulo teve saldo migratório de menos 89,6 mil pessoas, resultante da diferença entre a chegada de 736,4 mil imigrantes e a saída de 826 mil emigrantes. No início da série, em 1991, o saldo paulista estava positivo em 625 mil pessoas.
Em 2022, os principais destinos dos emigrantes de São Paulo foram Minas Gerais (19,1%), Bahia (15,4%) e Paraná (12,8%).
A pesquisa não detalha o que motivou as mudanças, mas processos migratórios tradicionalmente estão bastante associados a fatores como mercado de trabalho, diz Marcelo de Sousa Dantas, analista do IBGE. Ele afirmou que pode ter ocorrido alguma “saturação” de São Paulo na área.
Além disso, os movimentos migratórios também podem indicar um retorno de habitantes para os seus locais de origem.
Conforme Marcio Minamiguchi, gerente de projeções e estimativas populacionais do IBGE, a migração de São Paulo para a Bahia é bastante caracterizada pela volta de baianos para a terra natal.
Já no caso da ida para Minas Gerais e Paraná, os números sinalizam fluxos majoritariamente de paulistas, apontou o pesquisador.
“Ainda não é possível fazer um diagnóstico mais preciso sobre as motivações, mas a questão econômica sempre tem um papel muito importante para os fluxos”, afirmou.
“No caso da migração de retorno, o envelhecimento da população pode ter tido um papel nesse aumento dos fluxos de São Paulo para os estados do Nordeste, já que existe um grande volume de pessoas naturais da região morando em São Paulo, e que estão envelhecendo”, acrescentou, em nota.
SC GANHA PROTAGONISMO
Santa Catarina, por sua vez, teve o maior ganho populacional do país ao registrar saldo migratório positivo de 354,4 mil pessoas em 2022. O número reflete a chegada de 503,6 mil imigrantes e a saída de 149,2 mil emigrantes.
O estado costuma aparecer entre os locais de maior dinamismo econômico do país, com mercado de trabalho mais aquecido. No primeiro trimestre de 2025, período mais recente com dados disponíveis, Santa Catarina teve a menor taxa de desemprego do Brasil, segundo o IBGE.
O Censo 2022 indicou que Rio Grande do Sul (26,8%), Paraná (19,1%), São Paulo (12,4%), Pará (8,9%) e Bahia (4%) foram as principais origens de quem passou a morar no território catarinense.
O saldo migratório de Santa Catarina (354,4 mil) gerou uma contribuição equivalente a cerca de 4,7% da população local (7,6 milhões), o maior percentual do país. O indicador é chamado de taxa líquida de migração.
Saldos negativos não significam que estados como São Paulo tenham deixado de atrair moradores de outras regiões. Mostram, na verdade, que a saída foi mais elevada do que a entrada.
Tanto o número de imigrantes quanto o de emigrantes registrados em São Paulo (736,4 mil e 826 mil) foram os maiores em termos absolutos no Censo. Na visão do IBGE, isso ainda reflete a “centralidade” paulista na redistribuição da população.
RJ TEM MAIOR PERDA
A exemplo de São Paulo, o Rio de Janeiro também teve saldo migratório negativo em 2022: menos 165,4 mil pessoas. Trata-se da maior perda em termos absolutos do país.
O número fluminense resultou da diferença entre a chegada de 167,2 mil imigrantes e a saída de 332,6 mil emigrantes.
Entre as pessoas que deixaram o estado, destacam-se os deslocamentos para os vizinhos São Paulo (21,4%), Minas Gerais (17,7%) e Espírito Santo (7,3%), diz o IBGE.
O dado do Rio de Janeiro também faz parte das mudanças detectadas pelo Censo. Antes de 2022, o estado só havia registrado saldo migratório negativo em 1991 (-69,5 mil).
O Rio tem a segunda maior economia do Brasil, atrás apenas de São Paulo, mas amargou uma série de turbulências na última década.
No primeiro trimestre de 2025, o estado registrou a sexta maior taxa de desemprego do país e a mais elevada do Sudeste, apesar da melhora dos números depois da pandemia, como noticiou a Folha neste mês.
No Censo 2022, Goiás teve o segundo maior saldo migratório do país (186,8 mil), atrás apenas de Santa Catarina. O Distrito Federal foi a principal origem de imigrantes que chegaram ao estado, respondendo por 28,2% do total.
O DF, aliás, teve saldo migratório negativo (-99,6 mil). Assim, registrou uma taxa líquida de migração de -3,6%, a menor do país.
É possível, segundo o IBGE, que o Distrito Federal esteja experimentando a saída de pessoas para o interior ou cidades periféricas, algo já visto em outras regiões urbanizadas.
SUL E CENTRO-OESTE DEIXAM SUDESTE PARA TRÁS EM SALDO
Os dados do IBGE também mostram mudanças quando a análise considera as grandes regiões. No Censo 2022, o Sudeste registrou saldo migratório negativo (-120,6 mil pessoas).
Foi a primeira perda na região desde 1991, diz o instituto. Como consequência, o Sudeste deixou de ser o local com o maior saldo positivo do Brasil. O ganho havia sido de 325,5 mil migrantes na pesquisa anterior, de 2010.
O Sul passou a ocupar a liderança desse indicador. O saldo migratório da região permaneceu positivo, ao saltar de 76,3 mil em 2010 para 361,6 mil em 2022.
A outra região que voltou a apresentar ganho foi o Centro-Oeste. No local, o saldo positivo foi de 262,8 mil em 2010 e de 208,8 mil em 2022.
O IBGE associou o resultado do Sul e do Centro-Oeste a indicadores do mercado de trabalho. No caso do Centro-Oeste, o instituto lembrou que os municípios costumam atrair migrantes em razão do agronegócio.
Em 2022, 26,5% da população residente no Centro-Oeste era composta por pessoas nascidas em outras partes do país ou no exterior –o equivalente a 1 em cada 4 moradores. A região se destaca nesse quesito, em um sinal do peso da imigração no contexto local.
O Nordeste, mais uma vez, registrou a maior queda em termos de saldo migratório. A perda populacional com os fluxos de entrada e saída foi de 248,6 mil pessoas no Censo 2022. A redução foi menor do que a observada em 2010 (-701,1 mil).
O Norte também mostrou saldo migratório negativo em 2022 (-201,2 mil). Nesse caso, porém, houve uma inflexão ante a pesquisa de 2010. À época, a região tinha registrado saldo positivo de 36,5 mil pessoas.
Fonte ==> Folha SP