COP30: Brasil busca resolver pendências em reunião em Bonn – 15/06/2025 – Ambiente

COP30: Brasil busca resolver pendências em reunião em Bonn - 15/06/2025 - Ambiente

Espécie de ensaio geral da diplomacia antes das conferências do clima da ONU, a nova edição das Reuniões Climáticas de Junho —que acontecem todos os anos em Bonn, na Alemanha— começa nesta segunda-feira (16) com uma delegação do Brasil determinada a amarrar as pontas soltas deixadas nas negociações passadas.

O objetivo é resolver as pendências, abrindo caminho para a extensa agenda prioritária que a presidência brasileira quer impor à COP30, cúpula climática das Nações Unidas que acontece em novembro, em Belém, e pretende ser a “COP da implementação”.

“Temos alguns temas que não foram acordados na última COP [29, em Baku] que se tornaram ainda mais importantes para esta reunião em Bonn”, disse Ana Toni, diretora-executiva da 30ª conferência mundial do clima da ONU.

Segundo ela, entre as prioridades da presidência brasileira destacam-se três temas: a transição energética justa, os indicadores de adaptação e o diálogo para o chamado balanço global, mais conhecido pela expressão em inglês “global stocktake” (GST).

Apesar de alguns avanços, o Grupo de Trabalho para a Transição Justa —que trata do processo de migração para uma economia de baixo carbono de forma equitativa, com proteção de grupos vulneráveis e comunidades afetadas, geração de empregos verdes e participação social— não teve consenso na última COP, no Azerbaijão.

A presidência da COP30 propôs diversas iniciativas para tentar envolver atores que tradicionalmente têm sido sub-representados nos espaços de discussão. Em Bonn, está prevista uma série de encontros nesse sentido, incluindo o diálogo com povos indígenas e comunidades locais.

Essencial para avaliar o progresso dos países em suas metas de redução de gases-estufa, o balanço global é um mecanismo previsto no Acordo de Paris, devendo ocorrer a cada cinco anos. O primeiro relatório foi apresentado na COP28, em Dubai, mas os países não chegaram a um consenso na implementação de elementos fundamentais nos resultados.

Um dos principais objetivos para Bonn é, portanto, chegar pelo menos a uma proposta preliminar sobre a implementação desses resultados.

Os indicadores de adaptação climática, escolhidos como uma das prioridades pela delegação brasileira, também são considerados centrais por ambientalistas para o avanço das discussões em Bonn. Uma versão consolidada desses indicadores será analisada e discutida pelos países pela primeira vez nas Reuniões de Junho.

Na avaliação de Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, que acompanha a conferência em Bonn, os três temas indicados como centrais pelo Brasil são justamente os que têm maiores chances de progresso na reunião, informalmente conhecida como pré-COP.

“Embora não tenha sido o caso para os indicadores de adaptação, a questão da transição justa e do balanço global quase chegaram a um acordo em Baku. Então, faltou muito pouco para chegar, o texto deles não estava ruim, era interessante, embora pudesse ser melhorado”, afirmou.

“A expectativa é que se avance nisso agora, deixando tudo prontinho para que se tenha um acordo nos primeiros dias da COP30”, completou.

A reunião em Bonn, contudo, deve sair com poucos avanços em relação ao financiamento climático, um dos pontos mais sensíveis da diplomacia, que opõe países ricos, responsáveis por pagar a conta, e as nações mais vulneráveis, que recebem os recursos.

Na COP29, em Baku, os países concordaram com o Novo Objetivo Coletivo Quantificado —mais conhecido pela sigla em inglês NCQG—, que ampliou para US$ 300 bilhões anuais, até 2035, os recursos para ação climática, com o objetivo acordado, mas sem nenhum caminho concreto definido, de expandir o valor para US$ 1,3 trilhão, minimizando recursos públicos e privados.

O mapa do caminho para chegar até lá, bem como os pormenores do tipo de financiamento, têm motivado debates acalorados entre as delegações.

Em sua terceira carta pública, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destacou a importância do diálogo em Bonn para reforçar o multilateralismo climático.

A experiência na cidade alemã será uma espécie de termômetro para o ambiente das negociações em Belém. Neste momento, as atenções estão voltadas sobretudo para a postura dos EUA, que já anunciaram a saída do Acordo de Paris, mas que só estarão formalmente desvinculados a partir de janeiro de 2026.

Antes de embarcar para a Alemanha, a CEO da COP30, Ana Toni, participou de uma maratona de eventos ambientais na Europa, incluindo a Unoc3, a 3ª Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, em Nice, na França.

Toni destaca que aproveitou para se aprofundar em diálogos sobre a entrega das atualizações dos planos de redução de emissões, as chamadas NDCs, sigla em inglês para contribuições nacionalmente determinadas.

A COP30 marcará os dez anos da assinatura do Acordo de Paris, e a atualização das NDCs, que medem o progresso dos países rumo às suas metas, será parte essencial do debate.

“Até agora, apenas 22 NDCs foram formalmente comunicadas. Esta passagem aqui pela Europa tem nos dado uma boa visão de onde estão as NDCs em elaboração, tanto as europeias quanto as de outros países.”

Segundo Toni, há sinais positivos, como os recentes avanços na tramitação da NDC da Noruega. Ela diz, contudo, que é preciso cautela até que os documentos estejam realmente entregues.

A CEO da COP30 reflete que parte da demora na formalização dos planos está ligada à dimensão adquirida por esses documentos, que se converteram também em “instrumentos de debate e tensão”.

“Isso acontece em termos não apenas de ter uma meta [de redução de emissões], mas também de ver como vai ser implementada e o quanto isso tudo custará”, afirmou.

“Então, as NDCs estão muito mais detalhadas, envolvendo atores. E isso é um bom sinal: mostra que a mudança do clima virou um tema transversal nas sociedades e que ter debates e ter tensões é uma parte da reflexão, porque vai ajudar na implementação também”, completou.

Formalmente chamadas de 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários (SB62), as Reuniões Climáticas de Junho acontecem até 26 de junho. A expectativa oficial dos organizadores é que haja 5.000 participantes. Ao contrário das COPs, esse encontro técnico não produz um documento final.



Fonte ==> Folha SP

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