O governo Lula (PT) fechou a contratação de dois navios cruzeiros que vão oferecer cabines de hospedagem em Belém durante a COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas), com diárias de até US$ 600 (R$ 3.340).
A organização do evento também afirmou que colocou a plataforma de hospedagem no ar, mas ainda de forma exclusiva para delegações de países participantes.
A logística completa para operação destes navios ainda tem pontos em aberto e que devem ser definidos nos próximos meses.
Depende, por exemplo, da conclusão de uma ponte, que vai ligar o porto de Outeiro, onde as embarcações ficarão atracadas, ao centro da capital paraense; também da escolha do combustível dos cruzeiros, tópico importante uma vez que o diesel de navegação é um grande produtor de gás carbônico e a COP se comprometeu a compensar todas as emissões causadas pelo evento.
A negociação foi intermediada pela Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) e envolve uma garantia dada pelo governo às empresas de cerca de R$ 260 milhões.
Agora, as companhias MSC Seaview e Costa Diadema passam a comercializar seus quartos e ficam com o lucro da venda. No total, são 3.900 cabines, que podem servir para acomodar até 6.000 pessoas.
O plano é que não precise arcar com a garantia, mas apenas com a oferta de hospedagem para integrantes da UNFCCC (o braço de clima da ONU), uma obrigação contratual do país sede, e pretende que grande parte destas acomodações (600, no total) fique nestes navios —isso deve custar cerca de R$ 30 milhões.
O déficit de leitos em Belém é o principal obstáculo para o governo até aqui. No total, são esperadas de 30 mil a 50 mil pessoas concomitantemente na cidade, e a organização do evento trabalha em soluções para conseguir suprir essa demanda.
Os cruzeiros fazem parte dessa estratégia, assim como habitações do Minha Casa Minha Vida, escolas, vilas militares, reforma de hotéis e aluguel de casas e mansões.
Também gerou uma disputa com o setor hoteleiro, que estão sob análise da Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça, sob suspeita de prática de preços abusivos.
Países já enviaram cartas ao Brasil demonstrando sua preocupação com a hospedagem. Um importante gargalo são os escassos leitos da categoria AAA, a mais alta, usados por chefes de Estado e de governo —que também demandam um complexo esquema de segurança.
Os cruzeiros não devem oferecer este tipo de acomodação, mas focar no corpo diplomático da nações.
As embarcações estarão disponíveis entre os dias 5, quando começa a reunião da cúpula de chefes de Estado, até o dia 21, data final da COP.
Se tudo der certo, todos os leitos serão vendidos e o Brasil não precisará arcar com o valor dado em garantia —o lucro excedente fica com as empresas.
Em um primeiro momento, os quartos dos cruzeiros serão ofertados a uma lista de 98 países em desenvolvimento ou insulares e que terão prioridade para adquirir as cabines mais baratas (com diárias de até US$ 220, ou R$ 1.225), etapa que deve durar uma semana.
Depois, a oferta será aberta para um segundo bloco, dos outros países participantes da conferência. Na sequência, entra o público em geral.
A estratégia vale, inclusive, para todas as opções do site de hospedagem oficial da COP. Segundo o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, a plataforma foi colocada no ar após acordo com a ONU nos últimos dias —ela estava previsto para ficar pronto em junho, mas atrasou, o que gerou críticas de delegações e organizações sociais.
“Ela já está no ar em forma fechada para os países e a UNFCCC. E a partir do momento que a gente fechar o segundo bloco [de nações], vamos abrir para todos os demais”, afirmou.
O objetivo, segundo ele, é garantir priorizar a hospedagem dos negociadores, para depois abrir a um público maior.
“Obviamente que ela não é pública neste primeiro momento porque estamos garantindo a participação de todos, para ter legitimidade absoluta, ter todos os países presentes e representados em Belém”, disse.
Inicialmente, a ideia era que os cruzeiros ficassem atracados no porto de Belém, mas para isso seria necessário realizar uma obra de dragagem do rio Guamá, que cerca a cidade.
O empreendimento, porém, fracassou, e a organização do evento mudou os planos: passou os navios para Outeiro, que já tinha capacidade para recebê-los, mas que é mais longe, e por isso depende agora da conclusão das obras da ponte que liga este local à região da cidade em que acontecerá a conferência.
Fechada a contratação dos cruzeiros, o governo busca como abastecê-los.
“Estamos tentando estabelecer o melhor combustível, para causar o menor problema ambiental possível, mas tudo que for causado, será compensado”, afirma Correia.
A conferência tem como compromisso ter uma pegada de carbono neutra, o que significa que qualquer emissão de CO2 que seja feita, precisa ser compensada com soluções de captura do gás.
“Vamos ter empresas auditando e relatórios específicos sobre isso, para avaliar impacto e avaliar compensação ambiental de tudo isso que eventualmente a gente venha a fazer”, completou.
Nesta quarta-feira (16), o governo também anunciou a criação de um visto eletrônico especial para os participantes do evento.
Ele servirá para pessoas dos países que compõem a COP ou apátridas credenciados para a reunião, e vale por 90 dias, não prorrogáveis.
Fonte ==> Folha SP