O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 —a conferência sobre clima da ONU (Organização das Nações Unidas)—, afirmou que não há plano B para a realização do evento e que ele será em Belém.
“A COP vai ser em Belém, o encontro de chefes de Estado vai ser em Belém e não há nenhum plano B”, afirmou nesta sexta-feira (1º) em entrevista coletiva. A fala à imprensa foi organizada após, na quinta (31), dizer que alguns países não desejam que a cúpula climática ocorra em Belém, em razão das diárias abusivas cobradas por hotéis.
A CEO da COP30, Ana Toni, completou que o governo não estuda, no momento, nenhuma alternativa, e que “acredita que tem maneiras de solução” para o preço alto das hospedagens.
Como revelou a Folha, negociadores de 25 países enviaram uma carta pressionando para que o evento aconteça fora da capital paraense. O documento foi endereçado à secretaria da COP30 do governo Lula (PT) e à UNFCCC (o braço sobre clima da ONU).
Parte dessa pressão é para que seja realocada ao menos a cúpula de chefes de Estado e de governo, que neste ano acontece em 6 e 7 de novembro. A reunião foi antecipada nesta edição, para diminuir a demanda por hospedagem em Belém durante a COP, que vai de 10 a 21 de novembro.
No texto, os signatários —inclusive de nações ricas— pedem que condições mínimas de acomodação e custo sejam atendidas, “seja em Belém ou em outro lugar”. A principal reclamação é pelo preço das hospedagens.
O presidente da COP30 admitiu que o problema ameaça a participação das nações que tem menos condições financeiras de pagar pela viagem.
Segundo Lago, os países menos desenvolvidos afirmaram à organização que podem pagar até US$ 70 por diária (R$ 388), mas atualmente, os valores praticados tanto por hotéis quanto por casas disponíveis para aluguel estão muito acima disso.
“Os preços mais baratos que foram oferecidos não estão sendo aceitos [por exemplo] pelos países africanos e países de menor desenvolvimento relativo”, disse.
“Então, sim, [pelo valor atual] eles não poderiam vir, temos que encontrar uma maneira que eles venham”, continuou.
Segundo Lago, o governo federal ainda busca formas de baratear o preço da hospedagem.
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“Há uma operação em curso para assegurar que todos os países, mesmo os mais pobres, possam vir para a COP”, afirmou.
Ele acrescentou ainda que o fato de países terem formalizado a reclamação dentro do espaço da ONU foi o estopim para que o tema passasse a contaminar inclusive as negociações diplomáticas sobre clima.
[Isso] está interferindo no tempo que nós deveríamos estar discutindo questões de substância”, afirmou Lago.
A carta enviada à COP reconhece o trabalho do governo Lula (PT) e da organização para viabilizar o evento e celebra a escolha de Belém como sede —uma cidade que vive as realidades das mudanças climáticas—, mas deixa explícitas tais preocupações.
“[Ter condições de participar] significa ser possível viajar para Belém, ficar em acomodações adequadas e acessíveis, e ir ao pavilhão e voltar de forma segura e eficiente em termos de tempo, inclusive tarde da noite”, diz a carta.
“Se a COP inteira for mesmo acontecer em Belém”, os países pedem que essas condições sejam garantidas —mas reiteram que a situação é preocupante, a cem dias do início do evento.
Como revelou a agência Reuters, uma reunião de emergência da UNFCCC foi realizada na última terça-feira (29) para tratar exatamente dos problemas logísticos. Uma próxima reunião está agendada para o dia próximo dia 11.
Desde que a COP foi anunciada na capital paraense, o preço dos hotéis explodiu e a organização busca alternativas para dar conta tanto do preço da hospedagem quanto do déficit de leitos para acomodar todas as cerca de 50 mil pessoas que devem comparecer.
Dentro dessa estratégia estão apurações internas no governo sobre práticas abusivas do setor hoteleiro e a mobilização de imóveis em plataformas como Airbnb, além do uso de escolas, habitações do Minha Casa, Minha Vida e até navios cruzeiros para tentar resolver o problema.
A carta, segundo negociadores, vem sendo elaborada há semanas, mas eles preferiram esperar que a plataforma online oficial de hospedagem, encomendada pelo governo, ficasse pronta para, só então, finalizá-la.
Com atraso, a organização da COP lançou a plataforma, inicialmente restrita aos países participantes da conferência, com foco em oferecer quartos por até US$ 220, ou R$ 1.225, para nações em desenvolvimento ou insulares.
A secretaria extraordinária de organização da conferência destaca que cada delegação dos países menos desenvolvidos e insulares terá direito a 15 quartos por até US$ 200 e as outras, a 10, por até US$ 600 —o total é de 2.500.
Na carta, os representantes ressaltam que, neste momento, acomodar todos os participantes é a preocupação principal do grupo e que a falta de clareza sobre como este problema será resolvido é preocupante. Eles afirmam que nunca antes tantas delegações estão sem saber como vão participar do evento, a cem dias da realização.
Os países alegam também estarem se esforçando para reduzir suas delegações —como foi pedido pelo Brasil— para se adequar à realidade de Belém, mas que há um limite nisso, uma vez que muitos temas são negociados simultaneamente na COP.
O documento também critica a possibilidade de que pessoas tenham que dividir quartos para conseguir economizar custos, dizem que também a sociedade civil precisa ter sua participação garantida e pedem apoio da UNFCCC.
“Se essas condições não forem atendidas para todos que precisam estar em nossas negociações multilaterais, não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso”, diz a carta.
Fonte ==> Folha SP