Dados da Nasa mostram aceleração no aquecimento global – 30/06/2025 – Ambiente

Um trabalhador de construção civil está em um canteiro de obras, usando um colete de segurança amarelo e um chapéu. Ele enxuga o suor do rosto com a mão. Ao fundo, há uma vala aberta, equipamentos de construção e barreiras de segurança. O ambiente é ensolarado e há materiais de construção ao redor, como tubos e baldes.

O verão no hemisfério Norte começou há pouco mais de uma semana e os Estados Unidos já foram sufocados por uma “cúpula de calor” que quebrou recordes. O Alasca teve seu primeiro alerta de calor neste mês. E tudo isso vem na esteira de 2024, o ano mais quente já registrado.

O mundo está ficando mais quente, mais rápido. Um relatório publicado neste mês revelou que o aquecimento global causado pelo homem está aumentando agora a uma taxa de 0,27°C por década. Essa taxa era de 0,2°C na década de 1970 e vem crescendo desde então.

Isso não surpreende os cientistas que têm analisado os números. Por anos, as medições seguiram as previsões de que a taxa de aquecimento na atmosfera aceleraria. Mas agora, padrões que eram evidentes em gráficos e tabelas estão começando a se tornar uma parte maior da vida cotidiana das pessoas.

“Cada fração de grau adicional de aquecimento traz um aumento relativamente maior nos extremos atmosféricos, como chuvas extremas, secas severas e incêndios florestais”, afirmou Daniel Swain, cientista climático da Universidade da Califórnia.

Embora isso esteja alinhado com as previsões científicas de como as mudanças climáticas podem intensificar tais eventos, o aumento na severidade destes eventos pode parecer repentino para as pessoas que os enfrentam.

“Quando tínhamos níveis menores de aquecimento, essa relação era um pouco menos dramática”, disse Swain. “Há evidências crescentes de que os extremos mais extremos provavelmente aumentarão mais rapidamente e em maior extensão do que costumávamos pensar”, acrescentou.

A chuva, por exemplo. Geralmente, chuvas extremas estão se intensificando a uma taxa de 7% a cada grau de aquecimento atmosférico. Mas estudos recentes indicam que eventos que ultrapassam substancialmente recordes anteriores estão se multiplicando ao dobro dessa taxa, disse Swain.

“São coisas que estão se manifestando no mundo real”, disse Kate Marvel, cientista climática e autora do livro “Human Nature” (natureza humana), citando catástrofes como o furacão Helene e as enchentes históricas no estado americano de Vermont em 2023.

De acordo com Swain, os cientistas ainda não chegaram a uma compreensão universal desses eventos, em parte porque a natureza infrequente dos valores discrepantes os torna difíceis de estudar.

À medida que o aquecimento se intensifica, também aumentaram os impactos em regiões vulneráveis do planeta, como o Ártico e a Antártica, tornando mais aparentes consequências anteriormente raras ou ocultas. Os cientistas estão aprimorando seus modelos para entender como as vastas camadas de gelo nesses lugares se comportam para responder às rápidas mudanças que estão acontecendo.

Em março, uma análise da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, descobriu que os níveis do mar subiram mais rápido do que o esperado em 2024, em parte devido a uma combinação de derretimento de geleiras e calor penetrando mais profundamente nos oceanos, fazendo com que eles se expandam termodinamicamente.

As temperaturas da superfície do mar também estão subindo mais rápido do que o previsto anteriormente, de acordo com um estudo publicado em abril por pesquisadores do Centro Nacional de Observação da Terra na Grã-Bretanha.

Desequilíbrio acentuado

Cecilia Bitz, professora de ciência climática na Universidade de Washington, disse que fazer modelos da Terra é algo complexo e que há uma quantidade inumerável de pequenos fatores que poderiam ser levados em conta. Mas mesmo com essas incertezas, os cientistas têm formas de construir seus modelos para identificar tendências que são amplamente precisas.

“Não há nada que desafie nossa visão geral sobre a física do sistema climático”, afirmou Bitz.

O aquecimento atmosférico tem seguido as previsões de modelagens por décadas. Mas, recentemente, o desequilíbrio fundamental por trás desse calor tem aumentado —pegando até mesmo os cientistas de surpresa.

O aquecimento global é um sintoma do desequilíbrio energético da Terra, que é uma medida da diferença entre a quantidade total de calor que chega à Terra vindo do sol e a quantidade que irradia de volta para o espaço.

Em maio, um artigo analisando dados de um satélite da Nasa descobriu que esse desequilíbrio havia crescido mais rápido do que o esperado, mais do que dobrando nas últimas duas décadas e tornando-se quase duas vezes maior do que se previa anteriormente.

Zeke Hausfather, pesquisador da organização Berkeley Earth, disse que os cientistas climáticos ainda estão tentando entender essas descobertas. Existem várias teorias, como menos emissões de aerossóis —um tipo de poluição do ar que é prejudicial à saúde humana e que aumenta a refletividade das nuvens, que devolvem o calor do sol ao espaço.

Historicamente, as emissões de aerossóis mascararam o efeito de aquecimento dos gases de efeito estufa como o dióxido de carbono. Nas últimas cinco décadas, à medida que as nações reduziram certos tipos de poluição do ar, as emissões de aerossóis caíram significativamente. De acordo com Hausfather, essa mudança é a principal razão pela qual o aquecimento atmosférico acelerou nas últimas décadas.

Mas a possibilidade mais preocupante por trás do desequilíbrio energético da Terra, disse ele, é como a natureza geral das nuvens pode estar mudando em resposta ao aumento nas temperaturas. É um ciclo que poderia potencialmente exacerbar o aquecimento e é “uma das maiores incertezas na previsão do clima futuro”, disse ele.

Enquanto o mundo continua a emitir gases de efeito estufa que aquecem o planeta, e as temperaturas ultrapassam o que o mundo humano foi construído para suportar, Marvel disse que mais pessoas irão vivenciar as mudanças climáticas de maneiras prejudiciais e assustadoras.

“É sempre pior do que o esperado quando acontece com você”, disse Marvel. “É uma coisa ver algo em um modelo climático, e é totalmente diferente experimentá-lo em sua própria vida”.



Fonte ==> Folha SP

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