Depois das nuvens negras – HOJE BAHIA

Depois das nuvens negras - HOJE BAHIA

Houve um tempo em que o céu parecia ter desaprendido a ser azul. As nuvens, pesadas como culpas antigas, vagavam sobre nós como se o mundo inteiro estivesse preso num eterno entardecer sem promessa de noite e muito menos de dia. Cada manhã começava com o ranger das portas e o suspiro do café sendo passado mais por vício do que por vontade. Era o tempo das nuvens negras.

Nesse tempo, sorrisos escorriam dos rostos como a chuva nos vidros: translúcidos, tristes, passageiros. A esperança se encolheu num canto, enrolada em cobertor velho, esperando que o trovão esquecesse seu nome.

Mas, (sempre há um “mas” quando o coração insiste em bater mais forte) um dia, o vento mudou de tom.

Primeiro foi uma brisa, tímida, como quem não quer incomodar. Depois, um cheiro de terra molhada, não da que chora, mas da que sonha com flores. E então, sem aviso, o céu amanheceu cor de promessa.

A aurora não chegou com estardalhaço. Veio como vêm os grandes milagres: num silêncio de arrepiar a pele. Era um rosa-alaranjado que lavava os pastos, beijava os galhos das árvores e se deitava sobre os rostos ainda adormecidos, dizendo: “acorda, é agora”.

Os sabiás, que tinham esquecido as partituras do canto, voltaram a ensaiar. As crianças correram descalças, não para fugir da dor, mas para alcançar o sol. E os velhos, ah, os velhos… esses começaram a contar histórias não mais com voz de saudade, mas com olhos de futuro.

O tempo das auroras puras havia chegado. Não porque o mundo tinha mudado completamente, mas porque, em algum lugar dentro de cada um, a coragem de acreditar tinha vencido a vontade de desistir.

E então, voltamos a plantar árvores, afetos, poemas. Voltamos a escrever cartas e a pendurar sorrisos no varal da varanda. Voltamos a sonhar, não com a fuga, mas com a permanência. Voltamos a viver.

Porque depois da tempestade, há sempre um sol vestido de aurora. E ele não nasce no céu. Nasce dentro da gente.



Fonte ==> Bahia Notícias

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