Desinformação solar: o movimento anti-protetor solar nas redes sociais e por que ele representa um risco à saúde da pele

Dr. Arthur Nunes André

​O crescimento das redes sociais trouxe avanços na democratização da informação, mas também abriu espaço para a disseminação de conteúdos sem respaldo científico.

Entre os mais recentes e preocupantes movimentos digitais está o chamado ‘anti-protetor solar’, em que influenciadores e usuários propagam a ideia de que o uso de filtros solares seria prejudicial à saúde. Essa narrativa, baseada em informações distorcidas e sem evidência médica, ameaça um dos principais pilares da prevenção ao câncer de pele.

​Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o câncer de pele é o mais incidente no Brasil, representando cerca de 30% de todos os diagnósticos oncológicos do país. Estima-se que mais de 220 mil novos casos surjam por ano, e o uso regular do protetor solar é uma das formas mais eficazes de reduzir esses índices. Ainda assim, cresce a onda de perfis que estimulam a exposição solar sem proteção, apoiados em falsas premissas de que o produto bloquearia a absorção de vitamina D ou seria tóxico para o organismo.

​Na minha prática como dermatologista, me preocupo constantemente em como a desinformação pode afetar os hábitos de fotoproteção. Muitos pacientes chegam inseguros, questionando se devem ou não utilizar o protetor solar, e é meu papel reforçar que a fotoproteção é uma das principais ferramentas de prevenção contra o câncer de pele.

​Atuo na Siga+ Saúde, em Santa Catarina, clínica de referência em cuidados integrados, onde reforçamos a importância da informação confiável como parte essencial da saúde pública.

​Do ponto de vista médico, o problema não se restringe apenas ao risco de câncer. A exposição solar sem fotoproteção adequada também acelera o envelhecimento da pele, aumenta a incidência de queimaduras solares e agrava condições dermatológicas como melasma e rosácea. Quando reduzimos o uso de protetor solar por medo infundado, abrimos espaço para um aumento significativo de doenças de pele, algumas delas irreversíveis.

​Pesquisas recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam que não há evidência de toxicidade sistêmica ligada ao uso correto dos filtros solares. Pelo contrário, o organismo aponta a fotoproteção como uma das medidas de saúde pública mais custo-efetivas para a redução de câncer cutâneo. A recomendação é clara: uso diário, inclusive em dias nublados e em ambientes fechados com alta exposição à luz artificial.

​O movimento anti-protetor solar, no entanto, mostra como a desinformação pode se espalhar com rapidez em um ambiente digital pouco regulado. Estudos sobre fake news em saúde indicam que conteúdos falsos têm até 70% mais chance de viralizar do que informações verificadas. Isso coloca médicos, pesquisadores e comunicadores diante do desafio de ocupar esses espaços e resgatar a confiança do público em informações baseadas em ciência.

​Para mim, combater a desinformação exige esforço conjunto. O que está em jogo não é apenas a estética, mas a saúde de milhões de pessoas. É fundamental que profissionais de saúde, veículos de imprensa e instituições acadêmicas ampliem o debate público, desmistifiquem informações equivocadas e reforcem o papel do protetor solar como aliado da vida.

​Diante desse cenário, a mensagem é clara: o protetor solar salva vidas. E, em tempos de desinformação viral, a defesa da ciência se torna não apenas um dever profissional, mas também um compromisso social.

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