O crescimento das redes sociais trouxe avanços na democratização da informação, mas também abriu espaço para a disseminação de conteúdos sem respaldo científico.
Entre os mais recentes e preocupantes movimentos digitais está o chamado ‘anti-protetor solar’, em que influenciadores e usuários propagam a ideia de que o uso de filtros solares seria prejudicial à saúde. Essa narrativa, baseada em informações distorcidas e sem evidência médica, ameaça um dos principais pilares da prevenção ao câncer de pele.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o câncer de pele é o mais incidente no Brasil, representando cerca de 30% de todos os diagnósticos oncológicos do país. Estima-se que mais de 220 mil novos casos surjam por ano, e o uso regular do protetor solar é uma das formas mais eficazes de reduzir esses índices. Ainda assim, cresce a onda de perfis que estimulam a exposição solar sem proteção, apoiados em falsas premissas de que o produto bloquearia a absorção de vitamina D ou seria tóxico para o organismo.
Na minha prática como dermatologista, me preocupo constantemente em como a desinformação pode afetar os hábitos de fotoproteção. Muitos pacientes chegam inseguros, questionando se devem ou não utilizar o protetor solar, e é meu papel reforçar que a fotoproteção é uma das principais ferramentas de prevenção contra o câncer de pele.
Atuo na Siga+ Saúde, em Santa Catarina, clínica de referência em cuidados integrados, onde reforçamos a importância da informação confiável como parte essencial da saúde pública.
Do ponto de vista médico, o problema não se restringe apenas ao risco de câncer. A exposição solar sem fotoproteção adequada também acelera o envelhecimento da pele, aumenta a incidência de queimaduras solares e agrava condições dermatológicas como melasma e rosácea. Quando reduzimos o uso de protetor solar por medo infundado, abrimos espaço para um aumento significativo de doenças de pele, algumas delas irreversíveis.
Pesquisas recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam que não há evidência de toxicidade sistêmica ligada ao uso correto dos filtros solares. Pelo contrário, o organismo aponta a fotoproteção como uma das medidas de saúde pública mais custo-efetivas para a redução de câncer cutâneo. A recomendação é clara: uso diário, inclusive em dias nublados e em ambientes fechados com alta exposição à luz artificial.
O movimento anti-protetor solar, no entanto, mostra como a desinformação pode se espalhar com rapidez em um ambiente digital pouco regulado. Estudos sobre fake news em saúde indicam que conteúdos falsos têm até 70% mais chance de viralizar do que informações verificadas. Isso coloca médicos, pesquisadores e comunicadores diante do desafio de ocupar esses espaços e resgatar a confiança do público em informações baseadas em ciência.
Para mim, combater a desinformação exige esforço conjunto. O que está em jogo não é apenas a estética, mas a saúde de milhões de pessoas. É fundamental que profissionais de saúde, veículos de imprensa e instituições acadêmicas ampliem o debate público, desmistifiquem informações equivocadas e reforcem o papel do protetor solar como aliado da vida.
Diante desse cenário, a mensagem é clara: o protetor solar salva vidas. E, em tempos de desinformação viral, a defesa da ciência se torna não apenas um dever profissional, mas também um compromisso social.