‘Dexter’ é ressuscitado novamente em terceiro spin-off – 12/07/2025 – Cinema e Séries

A imagem mostra um homem com cabelo castanho e curto, olhando diretamente para a câmera. Ele tem uma expressão séria e está vestido com uma camiseta escura e uma jaqueta. O fundo apresenta uma iluminação em tons de vermelho e azul, criando um efeito dramático.


The New York Times

Numa manhã de meados de maio, dentro de um trailer na base de um hotel em Long Island, a figurinista de set Kat St. John atacou uma camisa cinza de colarinho com um borrifador. A camisa estava manchada de sangue. Entre os dias de filmagem, as manchas haviam secado. “Temos que adicionar sangue novo”, disse ela enquanto borrifava.

Isso aconteceu no set de “Dexter: Ressurreição”, a mais nova adição à franquia em torno de Dexter Morgan, o serial killer vigilante interpretado por Michael C. Hall. A série original estreou em 2006 e terminou em 2013. Um revival, “Dexter: Sangue Novo”, estreou em 2021. Uma prequela, “Dexter: Pecado Original”, seguiu em 2024 (e já foi renovada para uma nova temporada).

Embora “Sangue Novo” aparentemente tenha deixado Dexter sangrando na neve, “Ressurreição”, que estreou na sexta-feira (11) no Paramount+, traz o assassino de Hall de volta à TV. Sua sobrevivência é um milagre, mas dado o sufocante abraço da televisão aos reboots, revivals, sequências, prequelas e filmes para TV, também não é realmente uma surpresa. Essa tendência não é nova: o crítico do New York Times James Poniewozik a analisou em 2018, argumentando que com o volume crescente de TV “é uma batalha para qualquer novidade chamar atenção”.

Mas enquanto essa proliferação desacelerou, com redes e streamers agora lançando menos séries roteirizadas do que há alguns anos, a mania de extensão de marca só se intensificou. Até recentemente, as franquias eram, na pequena tela, domínio de procedurais, séries não roteirizadas, “Jornada nas Estrelas” e ocasionalmente sitcoms de Norman Lear. Agora, o impulso para a construção de mundos se estende até mesmo a dramas de prestígio ou adjacentes ao prestígio.

É bastante fácil imaginar um “Dexter” de décadas passadas justificando um spin-off ou um remake. Mas não três deles. E três nem é muito mais.

“Power”, a glamourosa série criminal do Starz, gerou três spin-offs em várias linhas temporais, com mais por vir. Dois spin-offs de “Yellowstone” foram ao ar antes de a série terminar no ano passado; mais três foram encomendados. “Game of Thrones” tem um spin-off no ar (“A Casa do Dragão”), um em produção (“A Knight of the Seven Kingdoms”) e vários outros em desenvolvimento.

Por que existem tantos? Mesmo na era pós-pico, “os consumidores estão absolutamente sobrecarregados com excesso de tudo”, disse John Landgraf, presidente das redes FX (embora a FX não faça frequentemente spin-offs, produziu vários programas baseados em propriedades preexistentes, incluindo “Fargo”, “O Que Fazemos nas Sombras” e o ainda inédito “Alien: Earth”). “Algo que tem algum tipo de reconhecimento ou afinidade pré-vendida ganha mais valor nessas circunstâncias.”

Executivos e showrunners insistem que a propagação em série é o resultado orgânico do impulso criativo e da fome dos fãs, e não estritamente uma estratégia de negócios. “Se você está franqueando algo, é porque é mais do que apenas um programa para as pessoas”, disse Alison Hoffman, presidente das redes Starz, lar de franquias como “Power” e “Outlander” (a prequela “Outlander: Blood of My Blood” está programada para 8 de agosto).

Chris McCarthy, co-CEO da Paramount, que autorizou extensões das séries “Dexter” e “Yellowstone”, foi um passo além —e muito atrás. “Franquias são nossas mitologias modernas”, escreveu em um email. Ele comparou seus personagens e mundos aos das epopeias gregas. “Como ‘A Ilíada’ e ‘A Odisseia’ de Homero, eles perduram através da reinvenção”, disse.

E, no entanto, a ação no set de “Dexter: Ressurreição” não era precisamente uma reinvenção. Mais sangue estava sendo solicitado —sangue novo deliberadamente projetado para combinar com o sangue antigo, enquanto também parecia fresco. Enquanto houver espectadores dispostos a sintonizar ou clicar —e há, “Sangue Novo” tornou-se a série mais assistida da história da Showtime, onde é exibida nos EUA; “Pecado Original” não ficou muito atrás— o sangue continuará jorrando.

Os programas não morrem como costumavam. O thriller de zumbis, “The Walking Dead”, por exemplo, gerou seis spin-offs, muitas séries web e um programa não roteirizado no qual uma estrela do original, Norman Reedus, anda por aí em uma motocicleta. O original terminou em 2022. A franquia continua cambaleando.

“Se você ama esses mundos, esses personagens, você quer continuar contando a história”, disse Scott M. Gimple, diretor de conteúdo da franquia “The Walking Dead”. “E há pessoas que querem que você a conte.”

As vantagens da expansão da franquia são óbvias. Esses programas se beneficiam do reconhecimento do nome e de um público dedicado, bem como de escritores, produtores e membros da equipe já familiarizados com as expectativas desse público.

“Você está orientado quando tem uma franquia de uma maneira que talvez não esteja com algo totalmente novo”, disse Hoffman.

A abordagem mais segura é oferecer ao público mais do que eles amam. Isso é o que “Dexter: Sangue Novo” e “Dexter: Ressurreição” fornecem em grande parte. Mas simplesmente repetir o original arrisca desvalorizá-lo, e cada um foi concebido como uma melhoria em relação ao programa anterior.

O final de “Dexter” foi amplamente condenado em 2013. “Sangue Novo” foi visto por Hall e pelo showrunner Clyde Phillips, que havia deixado o original no final da quarta temporada, como um remédio. Trocando a pegajosa Miami pelo gélido norte do estado de Nova York, o programa reuniu Dexter com o filho que ele tinha visto pela última vez como um bebê e deu a ele uma despedida mais convincente e aparentemente final.

Mas mesmo isso não foi totalmente satisfatório —não para os fãs que lamentaram a morte do personagem; ou para Hall, que descobriu que sentia falta do programa; ou para Phillips, que no final achou que a narrativa era um pouco frágil.

A prequela, “Pecado Original”, já estava em andamento quando Hall ligou e perguntou se havia uma maneira de “desmorrer” Dexter. Phillips tinha ideias. Ele mudaria o programa novamente, desta vez para a cidade de Nova York. Ele introduziria novos personagens de apoio, mantendo apenas alguns dos antigos. Até mesmo Dexter, ferido, na casa dos 50 anos, está um pouco mudado.

“Ele não pode ser o Dexter que conhecemos no início novamente”, disse Hall em uma videochamada. No entanto, os fãs não o querem muito diferente. “As pessoas realmente valorizam sua capacidade de sobreviver, de sair de apuros, de ser resiliente. E esta é uma espécie de demonstração máxima disso.”

Isso encapsula o paradoxo no coração de qualquer spin-off bem-sucedido, a necessidade de garantir tanto a continuidade da marca quanto a originalidade.

“Esse é o código que você está tentando decifrar”, disse Sascha Penn, roteirista de “Power” e showrunner de “Power Book III: Raising Kanan”. Em “Raising Kanan”, Penn mudou a ação para algumas décadas atrás e trocou uma história de crime por um drama familiar —admitidamente, a família comete muitos crimes—, enquanto ainda mantém alguns dos temas e o tom de “Power”.

A febre da franquia mostra poucos sinais de quebra. Ela empurrou os programas bem além de seus ciclos de vida naturais e tornou mais complicado dizer quando e como as histórias devem terminar.

“Chega um momento em que qualquer um sabe que é hora de parar, mas ainda não chegamos lá”, disse Phillips. Hall brincou sobre Dexter um dia eliminando os membros desagradáveis de sua casa de repouso. “Embora isso seja uma coisa horrível de se considerar”, disse ele.

Hoffman disse que uma franquia deve terminar quando o público parar de assistir. Isso não aconteceu com “Power” —a sequência “Ghost”, que terminou em 2024, estabeleceu um recorde de audiência para o Starz e outros spin-offs mantiveram a maior parte do público do original.

Às vezes, o criador é quem decidirá. Penn disse que “Raising Kanan” terminará na próxima temporada, a quinta, porque a história chegará à sua conclusão natural. Ainda assim, ele está ocupado desenvolvendo outros spin-offs. E ele é talvez a exceção.

Então, se o público continuar a clicar, a fazer maratonas, quando esses programas finalmente desaparecerão? “Acho que quando a TV parar”, disse Gimple.



Fonte ==> Folha SP

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