Um leitor mandou a seguinte pergunta à seção Ask the Therapist (Pergunte à Terapeuta), do jornal The New York Times: Eu sou amigo de duas mulheres que formaram um casal por nove anos. Elas terminaram recentemente. Continuei amigo de ambas, tentando apoiá-las igualmente durante a separação. Uma delas, que chamarei de Alice, queria que eu não fosse amigo de Jane. Ela diz que precisava de um amigo que fosse só dela. Eu disse que não poderia fazer isso e queria continuar amigo de ambas.
Depois de alguns meses, Alice começou a namorar outra pessoa e parecia feliz. Ela me disse que estava seguindo em frente.
Cerca de uma semana depois disso, Jane e eu começamos a ter sentimentos românticos um pelo outro. Depois de determinarmos que isso poderia ser um relacionamento sério, contamos para Alice. No início, Alice diz que estava feliz por nós e que essas coisas acontecem. Mas depois de desligar a ligação, ela mandou mensagem dizendo que precisava de espaço. Ela não fala mais comigo e contou coisas que não são verdadeiras sobre mim para amigos em comum. A maioria dos nossos amigos está tentando manter amizade com os dois, mas alguns estão me excluindo.
Meu relacionamento com Jane está indo bem. Não estamos ficando mais jovens e realmente queremos nossa chance de ter um relacionamento duradouro. Mas sinto falta da minha amiga.
Eu errei ao começar a namorar a ex da minha amiga tão cedo? Quanto tempo as pessoas “deveriam” esperar?
Resposta da terapeuta: O problema aqui é que relacionamentos (incluindo amizades) não funcionam com um sistema claro de “certo” e “errado”. Eles operam nas águas turvas dos sentimentos.
Sentimentos e moralidade são duas coisas diferentes, e você tem considerado a situação a partir do que acredita ser uma posição moralmente defensável. Você apoiou ambas as amigas durante a separação —um ato delicado e complicado. Quando ficou claro que um relacionamento romântico com Jane estava surgindo, você refletiu, conversou e revelou. E da sua perspectiva, Alice já havia alcançado um novo capítulo em sua vida —pelo menos externamente.
Mas aqui está a dura verdade: Alice pode ter dito que estava seguindo em frente, mas os sentimentos nem sempre acompanham nossas palavras ou intenções. Este foi um relacionamento de nove anos, e apenas dois meses haviam se passado desde o término. Às vezes pensamos que estamos prontos para lidar com algo até sermos realmente confrontados com isso. Ver sua ex com outra pessoa —e alguém que tem sido um amigo mútuo próximo e confiável por muito tempo— poderia compreensivelmente causar dor a ela.
Acho que uma parte de você sabia que este seria o resultado provável. Se Alice se sentia insegura sobre sua amizade com Jane no rescaldo emocionalmente frágil do relacionamento delas, provavelmente ela não aceitaria bem você namorando-a.
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Não existe um “período de espera” universalmente aceito após um término que magicamente absolva todos das várias expectativas das pessoas. Mas tenha em mente que a reação de Alice não é realmente sobre “as regras de etiqueta de namoro” ou quem tecnicamente pode amar quem e quando. É sobre luto: o luto de perder uma parceira, uma amiga próxima e uma confidente leal, no espaço de meses —mesmo que Alice tenha iniciado o término (você não diz como isso aconteceu), ou começado a ver alguém novo, ou você acreditasse que ela deveria estar bem. O fato é que você tomou a decisão de namorar Jane enquanto sua amiga Alice estava de luto pelo próprio relacionamento com ela.
Mas aqui está outra verdade que existe junto com a primeira: você pode escolher priorizar sua alegria.
O que você está experimentando agora —perda, confusão, um efeito cascata social— é o preço dessa complexidade. Você sente falta de Alice porque perder uma amizade, especialmente uma de longa data, tem um impacto profundo. Você deseja que Alice pudesse ver sua felicidade como separada da dor dela, e talvez um dia ela consiga. Mas por enquanto, o espaço que ela pediu pode ser necessário para que ambos encontrem sua própria clareza.
Você pode considerar honrar a necessidade de espaço dela com uma única mensagem atenciosa indicando que, mesmo com esse espaço, ela é importante para você. Algo como: “Pensando em você. Sinto muito que não estejamos em um bom momento agora”, enquanto também a informa que você receberia bem uma conversa se e quando ela estiver pronta. Sem exigências, sem justificativas, apenas um lembrete, já que ela provavelmente se sente traída e abandonada, de que você a tem em mente e está deixando a porta bem aberta para o que quer que possa acontecer a seguir, quando (se é que) o próximo momento chegar.
Quanto aos amigos mútuos que estão excluindo você —isso acontece em términos de todos os tipos. Alguns amigos tomam partido com base na lealdade, em quem conheceram primeiro ou em qual versão dos eventos ouviram. Outros podem simplesmente estar desconfortáveis com as complicações. Concentre-se em nutrir as amizades que permanecem solidárias.
Em questões do coração, nem sempre podemos cronometrar nossos sentimentos de forma conveniente. O que mais importa é que os tratemos com graça e integridade, e aceitemos as consequências que acompanham nossas escolhas.
Fonte ==> Folha SP