Enquanto o debate sobre crescimento econômico ainda gira em torno das grandes capitais, uma revolução silenciosa vem ganhando força fora dos centros tradicionais.
Cidades do interior do Brasil, antes vistas apenas como mercado consumidor, agora se consolidam como polos estratégicos para o desenvolvimento empresarial. Dados recentes do IBGE apontam que mais de 70% do PIB do varejo brasileiro em 2023teve origem em municípios fora das capitais, uma inversão histórica que reflete um novo mapa do empreendedorismo nacional.
Esse fenômeno, no entanto, não é exclusivo do Brasil. Em diversos países, especialmente em mercados continentais como os Estados Unidos, empreendedores têm apostado no potencial econômico de regiões interioranas para construir impérios empresariais. A lógica é similar: menos concorrência direta, custos operacionais menores e uma conexão mais próxima com a realidade do consumidor local.
Três nomes ilustram bem essa tendência em diferentes contextos econômicos, revelando que o interior pode ser terreno fértil para empresas de alto impacto tanto no Brasil quanto no exterior.
Pedro Passos – Natura (Brasil)

Cofundador da gigante brasileira de cosméticos Natura, Pedro Passos ajudou a construir uma das marcas mais valiosas do país com uma estratégia fortemente baseada em interiorização. A empresa, que nasceu em São Paulo, expandiu com velocidade ao se apoiar em redes de consultoras espalhadas pelas periferias e cidades do interior. Hoje, com mais de 1,7 milhão de revendedoras e presença global, a Natura é referência em distribuição descentralizada e engajamento local. Seu modelo inspira empreendedores que veem no interior não um desafio, mas uma oportunidade de criar redes sólidas e socialmente integradas.
Sam Walton – Walmart (EUA)

Nos Estados Unidos, o exemplo mais emblemático de crescimento fora dos grandes centros vem de Sam Walton, fundador do Walmart. A primeira loja foi aberta em Bentonville, Arkansas, e o sucesso veio justamente da aposta em cidades pequenas com demanda reprimida. Ao focar em preços acessíveis e estrutura logística robusta, Walton criou um império que hoje conta com mais de 10 mil lojas em 24 países, sendo a maior rede de varejo do planeta. Seu legado é um lembrete de que a geografia pode ser uma alavanca estratégica — e que o interior dos Estados Unidos, assim como o do Brasil, pode ser palco de negócios bilionários.
Eguivan Pinto – Utilíssima Variedades (Brasil)

No Brasil, o mato-grossense Eguivan Pinto personifica o potencial do empreendedorismo regional. Fundador da Utilíssima Variedades, rede varejista especializada em brinquedos e utilidades domésticas, Eguivan iniciou sua trajetória em Matupá, cidade de menos de 20 mil habitantes. Hoje, com seis unidades e um centro de distribuição entre Mato Grosso e Pará, o empresário se destaca pela capacidade de adaptar sua operação à realidade local, investindo em logística própria, atendimento humanizado e expansão planejada. Sua rede movimenta o comércio em diversas praças e emprega mais de 80 pessoas.
Especialistas em economia regional defendem que a chave para o crescimento sustentável no Brasil passa pela valorização dos negócios de base territorial. “O interior não é mais coadjuvante. Ele é o novo vetor de inovação e consumo”, afirma relatório do Sebrae sobre interiorização econômica. Com infraestrutura crescente, digitalização e mão de obra qualificada, cidades médias têm se tornado polos dinâmicos para empreendedores atentos às mudanças do mercado.
A experiência de nomes como Passos, Walton e Pinto mostra que, cada um à sua maneira, soube ler esse novo cenário e construir negócios sólidos longe do radar tradicional. Em comum, compartilham a aposta em modelos de expansão ancorados em realidade local, conexão comunitária e estratégia logística.
Na prática, esses exemplos indicam que empreender fora dos grandes centros não é apenas possível, mas altamente estratégico. E em um país com dimensões continentais como o Brasil — ou mesmo nos Estados Unidos —, é no interior que se escondem as próximas grandes histórias de sucesso empresarial.