Mesmo com questões inéditas a cada edição, o Enem apresenta uma previsibilidade em seus conteúdos. Entender os assuntos abordados pode ajudar os estudantes a se prepararem de forma mais objetiva, o que pode fazer diferença na nota final.
A pedido da Folha, especialistas das instituições Aprova Total, Bernoulli Educação e SAS Educação identificaram os assuntos que mais aparecem no exame. A análise, com base nas provas aplicadas a partir do novo modelo do Enem desde 2009, mostra que a prova privilegia conteúdos ligados ao cotidiano dos alunos, ao pensamento crítico e à capacidade de interpretação.
Segundo Vinicius Costa, coordenador do pré-vestibular Bernoulli, o Enem vai além da avaliação de conteúdos. “É uma prova de habilidades e competências, então ela é estruturada a partir dessa lógica.”
Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações educacionais da SAS Educação, reforça essa perspectiva e afirma que o exame nacional valoriza a capacidade de análise crítica e aplicação prática dos conhecimentos. “Mais do que memorizar conteúdos, a prova tem a capacidade de cobrar do aluno compreensão leitora, interpretação e resolução de problemas relacionados ao cotidiano.”
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A elaboração das perguntas segue critérios técnicos e pedagógicos definidos pelo Inep, órgão do MEC (Ministério da Educação) responsável pelo exame.
A análise sobre as questões considerou diferentes recortes: de 2016 a 2024 no caso da Aprova Total; de 2014 a 2024 pela Bernoulli; e de 2009 a 2024 pela SAS Educação.
Composto por 180 questões, o Enem está dividido em cinco áreas do conhecimento: ciências humanas, ciências da natureza, matemática, linguagens e redação. Cada uma delas segue uma matriz de referência, que orienta a elaboração das questões com base em competências e habilidades específicas.
Essas matrizes funcionam como diretrizes pedagógicas, garantindo que o exame tenha uma estrutura padronizada e coerente entre as edições. Isso permite avaliar o desempenho dos estudantes e garante a comparabilidade dos resultados ao longo dos anos.
Os temas do cotidiano dos estudantes estão entre os mais frequentes nas questões do Enem. Segundo Celedônio, a prova se mantém atual e alinhada às tendências, especialmente ao incorporar temas transversais. “É como se houvesse uma aplicabilidade do conteúdo.”
“Esses temas não aparecem de forma direta, porque estão distribuídos em diferentes áreas, mas surgem em diversas conjunturas. Ao abordar química ambiental, por exemplo, também se está tratando de ecologia”, explica.
Dentro da área de ciências da natureza —que abrange biologia, física e química—, a disciplina de biologia se destaca porque se aproxima das habilidades e competências previstas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular). De acordo com Vinicius Costa, coordenador do pré-vestibular Bernoulli, essa característica torna a prova de biologia mais acessível e voltada para a interpretação.
Na física, termodinâmica, eletrodinâmica e ondulatória estão entre os temas que mais caíram nos últimos anos. Por isso, dominar os conceitos de cada uma é essencial para evitar dificuldades no exame.
“O Enem não vai colocar fórmulas claras, sempre tem uma contextualização bem interessante, mas não deixa de exigir que o aluno gaste até três minutos na questão, desenvolvendo uma fórmula e o cálculo para conseguir responder o item”, explica Costa.
Em química, os temas mais cobrados foram funções orgânicas e moléculas e propriedades. Em seguida, aparecem conteúdos relacionados a eletroquímica, reações orgânicas, estrutura atômica da matéria e ligações químicas.
Na área de ciências humanas —que aborda história, geografia, sociologia e filosofia—, o foco das questões está na capacidade de estabelecer conexões entre eventos históricos, temas sociais e o contexto contemporâneo.
Os assuntos abordados também costumam dialogar entre diferentes áreas. Temas como a globalização, por exemplo, podem ser explorados a partir da história, da geografia e da sociologia. No entanto, cada disciplina vai trabalhar os assuntos de uma forma, com diferentes perspectivas.
Segundo Costa, o Enem não busca apenas a memorização de conteúdos específicos, como os ciclos do açúcar ou do ouro no Brasil colonial, por exemplo. “O objetivo é avaliar se o estudante consegue conectar com os dias atuais, com a cidadania e com o mundo do trabalho.”
Na prova de matemática, a maior parte das questões são conteúdos do ensino fundamental, com ênfase em temas como razão, geometria, frações, porcentagem e regra de três —conceitos mais aplicáveis ao dia a dia.
Ademar Celedônio, da SAS Educação, explica que esses assuntos aparecem com mais frequência do que os ensinados durante o ensino médio. “60% da prova são de conteúdos relacionados com aprendizagens até o 8º ou 9º ano do fundamental.”
Para Vinícius Costa, da Bernoulli, a representatividade de questões do cotidiano só reforça a proposta da aplicação prática dos conhecimentos. “O Enem não quer que o estudante saiba apenas a trigonometria que aprendeu no terceiro ano do ensino médio para passar uma prova. O exame quer que o aluno não seja enganado com os juros do banco.”
“O Enem cobra conteúdos que entram de novo no eixo da cidadania, do mundo do trabalho e as disciplinas que mais dialogam com esses eixos. […] E, uma dica extra para a matemática, o aluno que consegue ler bem gráficos e tabelas se dá muito bem, porque é uma habilidade de leitura matemática, que também se aprende no fundamental”, afirma Costa.
Apesar de ter uma abordagem interpretativa, a prova de linguagens —que inclui conteúdos de língua portuguesa, inglês ou espanhol, literatura, artes, educação física e tecnologias da informação—, exige conhecimento de tópicos específicos, especialmente de gramática e análise textual.
Isabela Bertolette, analista pedagógica de linguagens da Aprova Total, afirma que o tópico explora a língua como um reflexo da sociedade. Entre os temas mais recorrentes estão os gêneros textuais e a introdução a língua portuguesa, com ênfase na leitura e interpretação de textos.
A variação linguística também ganha destaque, com questões que exploram a diferença entre linguagem culta e coloquial. Além disso, a prova costuma cobrar assuntos como funções da linguagem e a relação entre texto e contexto, exigindo do candidato uma compreensão crítica da linguagem em diferentes situações de uso.
Diferentemente de outras disciplinas, a redação do Enem não apresenta um padrão temático previsível. De acordo com Caroline Coltrin, analista pedagógica de redação da Aprova Total, mais importante do que tentar adivinhar o tema da prova é dominar a estrutura da dissertação-argumentativa, que é decisiva para um bom desempenho.
“O estudante tem que saber construir uma proposta de intervenção, que é uma coisa que o Enem exige especificamente nesse modelo. Sabendo fazer o básico da dissertação, o candidato vai conseguir desenvolver sobre qualquer tema”, afirma Coltrin.
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Fonte ==> Folha SP