Estudar fora requer planejamento e portfólio além do Enem – 14/06/2025 – Educação

Duas pessoas de costas, vestindo togas de formatura roxas e chapéus, estão levantando os braços em celebração em direção ao campo do Yankee Stadium. O céu está nublado e o estádio está cheio de pessoas. Ao fundo, há uma tela com o nome

O desejo de estudar e viver no exterior faz parte dos planos de muitos adolescentes brasileiros. No entanto, transformar esse sonho em realidade vai muito além de conquistar uma boa nota em exames como o Enem. A preparação precisa começar cedo e envolve uma série de etapas, desde o planejamento financeiro até a criação de um portfólio acadêmico.

Além da formação acadêmica, a vivência internacional tem impacto direto na vida dos estudantes. Para Alexandre Sayão, coordenador de escolas internacionais da Inspira Rede de Educadores, estudar fora do país é uma oportunidade de crescimento que vai muito além da sala de aula.

Ao sair da zona de conforto e se abrir para novas culturas, o adolescente amplia seu repertório e fortalece a autoconfiança. “É uma experiência de vida acadêmica que reflete também na vida pessoal e na carreira, abrindo muitas portas de modo geral.”

Além de facilitar o acesso a universidades em Portugal, o Enem também passou a ser considerado por instituições de ensino em países como Canadá, Estados Unidos, França e Reino Unido.

Nestes casos, a nota do exame do ensino médio brasileiro pode ser utilizada como parte dos critérios de seleção —ainda que de forma complementar, ao lado de outros requisitos obrigatórios.

Roberta Mayumi, coordenadora da escola FourC Bilingual Academy de Bauru, no interior de São Paulo, ressalta que cada universidade tem autonomia para definir seus critérios de admissão, mas, de forma geral, o processo vai além das notas. “As instituições querem saber quem é o aluno que está entrando lá.”

“Não analisam só o desempenho em uma prova, mas o histórico escolar, as disciplinas em que se saiu melhor, além da proficiência no idioma. […] Muitas faculdades pedem o resultado do Enem, não focando na nota que o estudante tirou, mas como se fosse um fechamento de ciclo do aluno”, explica Mayumi.

Segundo Edmilson Motta, coordenador de internacionalização do Colégio Etapa, países como Irlanda, Escócia e Inglaterra costumam exigir uma etapa extra no processo seletivo, já que não reconhecem a educação básica brasileira como completa.

“Para estudar lá, é preciso fazer o chamado ‘Foundation Year’, que é um ano de adaptação que complementa a formação do estudante e o prepara para o ensino superior”, afirma Motta.

Segundo Mayumi, da escola FourC Bilingual, estudantes que pretendem estudar nos EUA, por exemplo, devem iniciar a preparação já no 9º ano do ensino fundamental. Além de um bom histórico escolar, o processo seletivo exige um portfólio consistente de atividades extracurriculares, que tem um peso significativo na avaliação.

“O portfólio com trabalho voluntário, participação em competições e olimpíadas de matemática, por exemplo, é importante. Se o aluno estuda em período parcial, como só de manhã, precisa aproveitar a tarde para se dedicar a outras atividades que ajudem a rechear essa compilação”, explica.

Outro ponto importante é o alinhamento entre o perfil do estudante e o tipo de universidade que ele deseja. Segundo a coordenadora, é fundamental refletir sobre preferências pessoais e acadêmicas. “Quero morar na Europa, no Canadá ou nos EUA? Prefiro uma cidade grande ou uma cidade menor perto de um centro urbano? Gosto de frio ou prefiro clima mais ameno?”, exemplifica.

A New York University (NYU) é uma das universidades americanas que aceitam a nota do Enem como parte do processo seletivo de estudantes internacionais.

Em entrevista à Folha, a porta-voz da instituição, Carol Ourivio, afirma que a NYU considera diversos testes padronizados, incluindo os tradicionais SAT e ACT —exames de admissão amplamente usados nos EUA.

Com aceitação de cem exames internacionais como parte do processo seletivo, incluindo o Enem, os alunos estrangeiros têm a possibilidade de escolher entre testes padronizados ou exames aplicados em seus países de origem.

“Fazemos isso porque entendemos que alguns estudantes internacionais podem sentir que outros testes representam melhor sua capacidade acadêmica, já que toda a sua escolaridade foi em um currículo diferente”, explica Ourivio.

De acordo com a porta-voz, o exame brasileiro é aceito pela NYU há mais de 13 anos e pode contribuir para fortalecer a candidatura de admissão. “Os alunos do Brasil podem optar por se inscrever com ou sem testes padronizados e, se optarem por incluir as pontuações dos testes, podem enviar suas pontuações finais do Enem em vez de SAT ou ACT”.

E como fica no caso dos EUA?

O cenário, no entanto, nem sempre é favorável. Recentemente, os Estados Unidos apertaram as regras para a entrada de estudantes internacionais. Com a política migratória mais rígida sob Donald Trump, muitos jovens que sonhavam com uma vaga em universidades americanas passaram a encarar o processo com insegurança e incerteza.

Embora aqueles que já haviam agendado o visto consigam dar continuidade ao processo, a situação permanece incerta para quem ainda não iniciou a solicitação.

“As universidades americanas continuam a emitir os documentos, seguindo o processo regular de matrículas, enquanto os estudantes aguardam a liberação de novas datas de agendamento para o visto de estudante”, explica José Carlos Hauer, CEO do STB, consultoria em educação internacional.

Mesmo antes das medidas anunciadas pelo governo Donald Trump, houve uma alteração na preferência de destinos dos estudantes nos últimos meses, de acordo com Hauer. Segundo ele, os jovens começaram a direcionar os interesses para outros países, como Reino Unido, Austrália, Canadá e Alemanha.

“[Esses países] se destacam por suas universidades de excelência e não só oferecem uma educação de altíssimo nível, mas também apresentam opções viáveis de intercâmbio, muitas vezes com um custo-benefício mais acessível quando comparados aos EUA, aliado à qualidade de vida e acesso a diferentes culturas”, afirma o CEO do STB.

Atualmente, cerca de 200 estudantes brasileiros estão matriculados na NYU, e outros 50 planejam ingressar na universidade no próximo ano letivo. Em relação às recentes mudanças nas políticas migratórias dos EUA, Ourivio, porta-voz da instituição, afirma que a entidade “está monitorando de perto a situação e buscando apoiar nossos estudantes internacionais.”

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Fonte ==> Folha SP

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