A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) disse na quinta-feira (17) que daria às empresas que prestam serviços públicos, como energia, um ano adicional para começar a limpar a contaminação de aterros de cinzas tóxicas de carvão em todo o país.
As cinzas de carvão, um subproduto da queima de carvão em usinas de energia, podem conter chumbo, lítio e mercúrio. Esses metais tóxicos podem poluir cursos d’água e fontes de água potável e foram associados a danos à saúde, incluindo câncer, defeitos congênitos e atrasos no desenvolvimento em crianças.
A medida da EPA foi uma vitória para as concessionárias que pressionaram a administração Donald Trump para adiar a limpeza obrigatória. Mas ambientalistas alertaram que isso ameaça a saúde das comunidades predominantemente pobres que vivem próximas às usinas de carvão.
Sob uma regra finalizada pela gestão Joe Biden no ano passado, as concessionárias tinham até fevereiro de 2026 para relatar à EPA qualquer contaminação de seus aterros de cinzas de carvão. As concessionárias tinham até maio de 2028 para instalar sistemas de monitoramento de águas subterrâneas e começar a elaborar planos para fazer a descontaminação.
A EPA disse na quinta que estenderia esses prazos em pelo menos um ano, até fevereiro de 2027 e agosto de 2029, respectivamente.
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“O presidente Trump reconhece que energia acessível e confiável é fundamental para a força de nossa nação e para a dominância energética do nosso país”, disse Lee Zeldin, chefe da EPA, em um comunicado. “As ações de hoje fornecem um alívio regulatório muito necessário para o setor de energia.”
A regra da era Biden fazia parte de um acordo entre a EPA e grupos ambientais, incluindo o Environmental Integrity Project, o Hoosier Environmental Council e o Sierra Club. Os grupos foram representados pela Earthjustice, um escritório de advocacia ambiental.
Lisa Evans, conselheira sênior da Earthjustice, disse que um atraso de um ano pode não parecer significativo para a maioria das pessoas. “[Mas] um ano não é irrelevante quando você está vivendo ao lado de uma usina de carvão“, disse.
“É mais um ano de contaminantes perigosos entrando nas águas subterrâneas”, afirmou Evans em uma entrevista por telefone. “E quanto mais produtos químicos entram nas águas subterrâneas, mais difícil e caro é remediar.”
Andrea Goolsby cresceu em Juliette, Geórgia, uma pequena cidade cujos residentes processaram a Georgia Power pela suposta contaminação da água de poços devido a um aterro de cinzas de carvão. Ela disse que ficou indignada com a decisão da EPA.
“Votei em Trump duas vezes, mas não votei nele e em sua administração para remover proteções que me mantêm segura e aos meus vizinhos”, disse Goolsby. Ela acrescentou que o atraso “definitivamente abriu meus olhos para a maneira como os diferentes partidos abordam questões ambientais e regulamentações que são implementadas para proteger as pessoas.”
Em seu processo, os residentes de Juliette disseram que sofreram com câncer e doenças respiratórias porque as cinzas de carvão haviam infiltrado na água de seus poços a partir da Usina Scherer da Georgia Power, a usina de carvão que mais produz eletricidade na América do Norte. As duas partes chegaram a um acordo extrajudicial no ano passado sem que a Georgia Power admitisse qualquer irregularidade ou divulgasse qualquer pagamento em dinheiro.
Michelle Bloodworth, diretora executiva da America’s Power, um grupo comercial da indústria do carvão, elogiou a nova medida da EPA.
“A America’s Power apoia os planos da EPA de estender os prazos para certos requisitos de cinzas de carvão”, disse Bloodworth em um e-mail. “Essas extensões de prazo são um passo útil enquanto a EPA reforma obrigatoriedades que são desnecessárias para proteger o meio ambiente. A America’s Power espera trabalhar com a EPA neste assunto.”
Em um documento interno que circulou em abril e foi analisado pelo The New York Times, funcionários do Edison Electric Institute, um grupo comercial de concessionárias, escreveram que a EPA deveria adiar os requisitos de monitoramento de águas subterrâneas até agosto de 2029. O grupo argumentou que o prazo da era Biden seria difícil de cumprir devido à escassez de contratados qualificados, bem como “impactos climáticos sazonais na capacidade de concluir o trabalho de campo”.
Jeremy Ortiz, porta-voz do Edison Electric Institute, disse em um comunicado na quinta-feira: “Com a ação de hoje, a EPA reconheceu que o cronograma de monitoramento de águas subterrâneas precisava ser corrigido.”
Em uma carta a Zeldin em 15 de janeiro —cinco dias antes da posse do presidente Trump— altos executivos de dez grandes concessionárias disseram que a administração Biden havia excedido sua autoridade legal com a regra das cinzas de carvão.
“A nova Administração deve se recusar a defender essas regras ilegais e deve buscar sua rescisão imediata”, escreveram os executivos. As concessionárias que assinaram a carta incluíam Duke Energy, Southern Illinois Power Cooperative, Talen Energy e Vistra.
Representantes dessas concessionárias não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.
Fonte ==> Folha SP