Firmino acordou com o pé direito. O esquerdo tava lá também, mas era só figurante. Na verdade, ele acordou porque o galo do vizinho, um animal “retado” e nem um pouco previsível, decidiu cantar desafinado, às três da tarde, num horário que “nem São Pedro aprova”. Firmino, como sempre, se espreguiçou e pensou na vida. Devia a “Deus e o mundo” e alguns credores já estavam mais furiosos do que cobra cuspida. E o dinheiro? “Tá ruim pra santo”, pensou.
A situação na casa dele era pra “botar os olhos pra chorar”. Aí lembrou que Santino, seu primo, um sujeito que “tem mais papo que padre de subúrbio”, havia falado de um negócio infalível.
– Firmino, é ‘mamão com açúcar’, garantiu o tal primo. Você investe uma merrequinha e, ‘num piscar de olhos’, tá ‘nadando na bufunfa’.
Firmino, que ‘parecia ter cuspido na cruz’ e que certamente tem uma caveira de burro enterrada debaixo da casa, ficou tentado. A oportunidade parecia boa, mas um restinho de juízo na cabeça sussurrava: “Cuidado, cara! O barato sai caro”. Só que a promessa de ficar ‘com a vida ganha’ foi mais forte. “Vou nessa, ‘mesmo que a vaca tussa!’, decidiu, botando o pé na estrada.
Chegando no ponto de encontro, o tal “negócio” era vender balões na beira da estrada. O primo, é claro, sumiu. ‘Sumiu que nem rabo de pirambú na cheia’, deixando Firmino lá, com um monte de balão e um sol de ‘descascar macaco’.
Firmino, agora ‘feito cego em tiroteio’ com as mãos cheias de balões encalhados, não sabia pra onde correr. Ficou o dia todo gritando: “Balão, balão!”. Vendeu dois. Um pra uma senhora e outro pra um turista que achou “exótico”. No final do dia, cansado, ‘com uma fome do cão’ e o bolso mais vazio que cuia de mendigo, sentou na calçada.
Foi quando dona Maria, a baiana de acarajé da esquina, veio e disse: “Ô meu rei, tu tá com uma cara de quem ‘pegou o boi pelo rabo’, hein?”
Firmino contou a furada. Dona Maria, sábia como só as baianas do acarajé são, deu uma boa gargalhada e disse: “Mais fácil um porco espirrar e um cego catar feijão! Cair nessa conversa mole… Meu filho, ‘cada um sabe onde o calo aperta’, mas trabalho honesto é outra coisa. ‘Devagar se vai ao longe’. Aliás, vai não, vem, me ajuda a descascar uns camarões aqui que a noite vai ser longa. Te pago em acarajé e conselho.”
Firmino, que agora estava ‘que nem sapo em boca de jiboia’, entendeu a lição. Percebeu que queria ‘chover no molhado’, buscando atalho para coisa que leva tempo. Aprendera que ‘o apressado come cru’ e que a verdadeira sorte não é ‘pegar o boi’, mas plantar o milho, colher, moer e fazer seu próprio cuscuz.
No fim, com as mãos cheias de massa de acarajé e o cheiro de azeite de dendê, Firmino sorriu. A vida, afinal, ‘não é um morango’, mas também ‘não é um bicho de sete cabeças’. É só não ‘querer abraçar o mundo com as pernas’. E olha que, no final das contas, aquele dia ruim ainda lhe rendeu o jantar. Como diz o ditado: ‘Não adianta chorar sobre o leite derramado’… melhor é virar ajudante de baiana e vender acarajé, que lá o leite é de coco e ninguém derrama.
Fonte ==> Bahia Notícias