Guilherme Dias Santos Ferreira, morto pelo policial Fabio Anderson Pereira de Almeida na noite de sexta-feira (4), na zona sul de São Paulo, foi baleado pelas costas, de acordo com o boletim de ocorrência.
Segundo o registro policial, foi verificada no corpo de Guilherme uma lesão perfurocontusa —que perfura e contunde ao mesmo tempo— na região da cabeça, atrás da orelha direita.
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o policial teria confundido Guilherme, um homem negro que trabalhava em uma fábrica de camas, com um assaltante. A vítima havia acabado de sair do trabalho e estava a caminho de um ponto de ônibus. Ele carregava carteira, celular, um livro e uma marmita.
No local, um colega de trabalho se apresentou aos policiais civis e afirmou que Guilherme havia acabado de sair do trabalho em uma rua próxima. Um funcionário disse ter os registros que atestam que a vítima registrou o ponto de saída às 22h28, além de mostrar fotos e vídeos no celular que mostram a saída do rapaz da empresa naquela noite.
Pouco antes, o PM voltava para casa em sua moto, ainda segundo o registro, quando foi cercado por criminosos armados em outras cinco motos que tentaram roubar seu veículo. Ele reagiu e atirou contra os suspeitos, que fugiram, abandonando uma das motos.
Ele foi autuado por homicídio culposo, pagou fiança de R$ 6.500 e responderá em liberdade.
Uma testemunha que estava próxima ao PM contou que viu quando ele atirou em Guilherme, que se aproximava de uma motocicleta que estava caída no chão, depois de ter sido abandonada por um dos criminosos. Ainda segundo essa testemunha, o agente atirou afirmando que tinha certeza que Guilherme estava no assalto.
Durante a ocorrência, um colega de trabalho de Guilherme, identificado como Deillan Ezian da Silva Oliveira, 21, foi preso sob suspeita de participar da tentativa de assalto. Assim como Guilherme, ele também saía do trabalho naquele momento.
Ele foi levado à delegacia e liberado depois de afirmar que estava a caminho do ponto de ônibus, usando fones de ouvido. Ele contou que não viu o PM atirando nem os criminosos em motos.
Deillan afirmou que não sabia que o colega havia sido atingido pelo policial.
Uma mulher que estava no ponto de ônibus também foi atingida e socorrida. Não há informações sobre o estado de saúde dela.
O caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), e a Polícia Militar acompanha o inquérito.
Esposa diz que vítima era homem de Deus
Nas redes sociais, a família pede justiça e diz estar indignada por Guilherme ter sido confundido com um criminoso.
A esposa dele, Sthefanie dos Santos Ferreira Dias, afirmou à TV Globo que o marido sonhava em ser pai. “É um homem de Deus, um bom filho, um bom esposo. Nunca se envolveu com nada. O sonho dele era ser pai. A gente ia viajar agora em agosto porque iríamos comemorar dois anos de casados”, afirmou.
“Primeiro a gente ouviu algumas notícias falsas dizendo que meu primo era bandido. E o que revolta é saber que ele não estava na cena do crime e foi morto sem ter sido enquadrado, sem seguir o protocolo que a polícia tem que seguir”, disse Larissa Souza Santos, prima da vítima.
Larissa ainda pediu justiça e o afastamento do policial, acrescentando que pagar R$ 6.500, valor da fiança, “para uma vida que foi perdida não está satisfatório”.
Linha do tempo da morte de Guilherme, segundo boletim de ocorrência
4 DE JULHO
22h28
Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, registra saída no relógio-ponto da empresa Dream Box e caminha até o ponto de ônibus. Deillan Ezlan da Silva Oliveira, 21, também funcionário, bate o ponto em horário próximo;
22h35
- O policial militar de folga Fábio Anderson Pereira de Almeida, 35, passava pela região em sua moto Triumph Scrambler 400x verde, quando cinco motociclistas armados o cercam e anunciam roubo;
- Fábio reage a tiros, e o grupo foge abandonando na via uma Honda CBX 250;
- Guilherme surge correndo rumo ao ponto de ônibus, segundo amigos, para não perder a condução. Fábio o vê e dispara, segundo boletim de ocorrência, acreditando se tratar de um dos envolvidos na tentativa de assalto que estaria voltando à cena do crime. Guilherme morre a cerca de 50 metros do ponto;
- Uma mulher também é atingida pelos tiros e é socorrida;
- Deillan, que também caminhava em direção ao ponto de ônibus, é detido como suspeito de participar do roubo. Acabou liberado na delegacia
5 DE JULHO
4h38
- Perícia chega ao local do crime
- Com Guilherme foram encontrados carteira, celular, chaves, livro, remédios, itens de higiene, uma bolsa térmica e uma marmita com talheres;
- Um funcionário da empresa Dream Box, onde Guilherme trabalhava, se apresenta e mostra vídeos e fotos de WhatsApp que apontam que Guilherme e Deillan tinham saído do trabalho às 22h28 e, portanto, não tinham ligação com o roubo
14h52
Fábio é autuado em flagrante por homicídio culposo, paga fiança de R$ 6.500 e é liberado
Fonte ==> Folha SP