A publicitária brasileira Juliana Marins, 26, foi encontrada morta nesta terça-feira (24) no monte Rinjani, um vulcão na Indonésia.
Juliana havia se acidentado na sexta-feira (20) ao cair de um penhasco em uma área de difícil acesso quando fazia uma trilha de três dias pela região.
Desde então, várias tentativas de resgate foram realizadas, mas o terreno íngreme, a grande altitude e o mau tempo impediram o sucesso das operações.
A morte da jovem foi confirmada pelo perfil oficial criado pela família no Instagram, o @resgatejulianamarins.
“Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido.”
Na última tentativa, as equipes concentraram os esforços no avanço direto até o ponto onde Juliana havia sido localizada, utilizando técnicas de resgate vertical, apesar dos grandes desafios impostos pelo terreno rochoso e pelas condições climáticas adversas.
Um grupo de sete socorristas conseguiu se aproximar do local, mas, com o cair da noite, precisou montar um flying camp (acampamento provisório montado no próprio local da operação para pernoite e segurança da equipe).
As operações contaram com 48 profissionais de diversas forças e foram acompanhadas por representantes do governo indonésio e da Embaixada do Brasil.
O monte Rinjani, com mais de 3.700 metros de altura, é o segundo maior vulcão da Indonésia e um dos destinos mais procurados por turistas de aventura.
Em entrevista à TV Globo, dois integrantes do grupo de Juliana relataram que a trilha era difícil.
Um deles descreveu a subida como “muito dura” e disse que “estava muito frio, foi realmente muito difícil”.
Outro contou que, no momento do acidente, Juliana estava na retaguarda do grupo, acompanhada do guia.
“Era bem cedo, antes do amanhecer, com visibilidade ruim, usando só uma lanterna simples para iluminar o caminho, que era difícil e escorregadio”, disse.
Segundo relatos da imprensa local e familiares, Juliana teria sido deixada para trás pelo guia Ali Musthofa após manifestar cansaço.
Mas, em entrevista ao jornal O Globo, Musthofa negou ter abandonado a brasileira antes do acidente. Ele afirmou ter sugerido que ela descansasse enquanto ele seguiria um pouco adiante, como já havia sido relatado pela imprensa local.
Segundo ele, o combinado era reencontrá-la um pouco mais à frente na trilha. O guia prestou depoimento à polícia no domingo, após descer da montanha.
A BBC News entrou em contato com a família de Juliana e com a administração do Parque do Monte Rinjani para comentários.
A cronologia da tragédia
- Sexta-feira, 20 de junho, 19h (horário de Brasília)
Juliana sofreu queda durante a trilha no Monte Rinjani, descendo cerca de 300 metros em terreno íngreme.
- Sábado, 21 de junho, 17h10 (horário de Brasília)
Equipes deram início às operações de busca, que se estenderam pelos dias seguintes e foram interrompidas várias vezes por condições climáticas adversas.
Juliana foi vista, sentada na encosta, em imagens captadas por drone de turistas.
- Domingo, 22 de junho, 19h04 (horário de Brasília)
Itamaraty emitiu pronunciamento informando que mobilizou autoridades locais em alto nível, com o embaixador em contato direto com agências de resgate.
Dois funcionários da embaixada se deslocaram para o local para acompanhar as buscas.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieria, iniciou contatos para solicitar reforços nas operações.
- Domingo, 22 de junho, 19h04 (horário de Brasília)
Juliana foi avistada por socorristas por meio de um drone, presa em uma encosta rochosa a uma profundidade estimada de 500 metros. Na observação visual, ela permanecia imóvel.
A informação foi divulgada na segunda-feira, pelo perfil oficial do Parque Nacional do monte Rinjani no Instagram.
- Segunda-feira, 23 de junho, 1h (horário de Brasília)
A página “Visit Mount Rinjani” no Instagram publicou uma nova atualização destacando que já se passaram dois dias desde o acidente na trilha do cume.
O texto mencionou que os gritos desesperados por socorro ouvidos no local ainda ecoam na memória de muitos e despertam profunda comoção.
O parque informou que, até aquele momento, aguardava um comunicado oficial das autoridades e da equipe de resgate, que segue trabalhando em condições desafiadoras.
A nota expressou esperança de que os esforços resultem em boas notícias e no encontro da brasileira em segurança.
- Segunda-feira, 23 de junho, 5h (horário de Brasília)
Tentativa de resgate foi interrompida devido ao mau tempo. Já havia sido informado que buscas não ocorreriam à noite.
- Segunda-feira, 23 de junho
Funcionários da Embaixada do Brasil chegaram ao local para acompanhar pessoalmente o resgate.
- Segunda-feira, 23 de junho, 11h36 (horário de Brasília)
A página no Instagram @resgatejulianamarins afirmou que dois montanhistas experientes da região estavam a caminho do local do acidente, com equipamentos especializados para apoiar as equipes. Não havia confirmação se atuariam durante a noite.
- Segunda-feira, 23 de junho, por volta de 21h (horário de Brasília)
A página no Instagram @resgatejulianamarins afirmou que buscas na Indonésia foram retomadas às 6h da manhã de terça-feira (24/6), no horário local.
Uma furadeira teria sido posicionada para efetuar o “plano B” do resgate, e o uso de um helicóptero estaria sendo avaliado.
- Segunda-feira, 23 de junho, por volta de 23h50 (horário de Brasília)
A página no Instagram @resgatejulianamarins afirmou que a equipe de resgate desceu 400 metros, mas estimou que Juliana estaria mais longe, a cerca de 650m.
Dois helicópteros, posicionados na ilha de Sumbawa e na capital, Jacarta, estariam de prontidão para decolar.
- Terça-feira, 24 de junho, por volta de 4h30 (horário de Brasília)
A página no Instagram @resgatejulianamarins divulgou que havia três planos de resgate em vigor no momento e confirma a impossibilidade de seguir com o helicoptero pela condição climática atual.
- Terça-feira, 24 de junho, por volta de 6h (horário de Brasília)
Autoridades do parque onde aconteceu o acidente fecharam trecho da trilha onde estavam tentando realizar o resgate para evitar a aglomeração de turistas curiosos.
- Terça-feira, 24 de junho, por volta de 11h (horário de Brasília)
A página no Instagram @resgatejulianamarins confirmou que Juliana foi encontrada morta.
6 mortes em 5 anos no monte Rinjani
O monte Rinjani é famoso pelas pelas vistas deslumbrantes, mas também pelas trilhas íngremes e terreno traiçoeiro, com trechos estreitos junto a penhascos e áreas de solo arenoso que aumentam o risco de quedas.
Nos últimos cinco anos, pelo menos outras cinco mortes foram registradas na região, incluindo a de escaladores portugueses, malaios e indonésios.
Em dezembro de 2021, um montanhista indonésio de 26 anos morreu após cair em um desfiladeiro de 100 metros de profundidade enquanto subia o monte pela rota de Senaru, em North Lombok.
Em agosto de 2022, um alpinista português de 37 anos, morreu ao despencar de um penhasco no cume. Ele caiu enquanto tirava uma selfie na beira do abismo.
Em junho de 2024, uma turista suíça morreu após cair na trilha do Bukit Anak Dara, no distrito de Sembalun, em East Lombok. Ela havia se arriscado por uma rota ilegal.
Em setembro de 2024, um escalador de Jacarta desapareceu após supostamente cair em um desfiladeiro na área do Rinjani. O corpo foi localizado por um drone com câmera térmica, a centenas de metros de profundidade, e resgatado uma semana depois.
Em maio de 2025, um montanhista da Malásia de 57 anos morreu ao cair durante a descida do Rinjani pela rota de Torean. Ele despencou em um desfiladeiro com cerca de 80 a 100 metros de profundidade, na trilha de Banyu Urip, quando o grupo retornava do cume.
Além disso, em outubro de 2024, um alpinista irlandês caiu em um desfiladeiro de 200 metros enquanto subia rumo ao cume. Ele foi resgatado pela equipe de busca e salvamento e sofreu apenas ferimentos leves.
Segundo a comunidade local de montanhistas, o Rinjani não é recomendado para iniciantes e é mais adequado a trilheiros experientes.
As trilhas são estreitas e rochosas, com ravinas íngremes e trechos de areia solta que tornam a escalada particularmente escorregadia e perigosa.
“Os montanhistas costumam iniciar a subida por volta das 2h da manhã para tentar ver o nascer do sol do cume, geralmente usando lanternas simples que oferecem pouca visibilidade”, explica Astudestra Ajengrastri, indonésia e editora assistente do Asia Production Digital Hub da BBC.
“Normalmente, são acompanhados por guias, mas a combinação de escuridão, terreno instável e clima imprevisível aumenta bastante o risco. Localizado em uma região remota e sem acesso a transporte motorizado, todo o trabalho de resgate depende de equipes que se deslocam a pé.”
Ajengrastri aponta que, em períodos de mau tempo, ventos fortes podem se transformar rapidamente em tempestades, e a chuva deixa as trilhas arenosas ainda mais perigosas.
“Uma neblina densa frequentemente cobre a montanha, ocultando penhascos e reduzindo drasticamente a visibilidade — o que impõe desafios adicionais tanto aos escaladores quanto às equipes de resgate”, diz Ajengrastri.
“A montanha ficou fechada entre janeiro e março deste ano, durante a estação chuvosa da Indonésia, e só foi reaberta após ser considerada segura.”
Este texto foi publicado originalmente aqui.
Fonte ==> Folha SP