Um grupo de grandes fundos de pensão está exigindo que Elon Musk se comprometa a trabalhar pelo menos 40 horas semanais na Tesla, como parte de uma proposta por reformas na governança da companhia, que segundo eles vive uma crise.
O pedido foi formalizado em uma carta enviada nesta quarta-feira (28) à presidente do conselho da Tesla, Robyn Denholm, e assinada por 12 investidores institucionais de longo prazo —Secretário da Cidade de Nova York, a AFT (Federação Americana de Professores) e fundos europeus como o dinamarquês AkademikerPension. Juntos, eles administram cerca de US$ 950 bilhões em ativos (R$ 5,4 trilhões).
Embora Musk já tenha enfrentado outros acionistas ativistas no passado, a ação coordenada por grandes fundos institucionais marca uma escalada inédita na pressão por mudanças na empresa.
Apesar de os signatários deterem apenas 0,25% das ações da Tesla, a iniciativa destaca como a posição polarizadora de Musk na política americana tem incentivado gestores a se posicionarem de forma mais incisiva.
“A crise atual na Tesla evidencia problemas estruturais de longo prazo, ligados à ausência do CEO —agravada por um conselho que se mostra desinteressado e omisso em exigir a dedicação integral de Musk à empresa”, diz a carta.
Diante da queda nas vendas e do aumento da inquietação entre acionistas, Musk prometeu voltar a priorizar a Tesla e reduzir seu papel no governo do presidente Donald Trump. As ações da montadora reagiram após o anúncio, mas ainda acumulam queda de 17% desde o pico em dezembro.
A Tesla não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário.
Folha Mercado
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Musk há anos critica investidores ativistas que usam pequenas participações para tentar influenciar os rumos da companhia.
Um pacote salarial de US$ 54 bilhões (R$ 307 bilhões) aprovado para Musk em 2018 já foi rejeitado duas vezes pela Justiça de Delaware, após contestação de um acionista minoritário. Um novo julgamento está previsto para este ano. Segundo o Financial Times, o conselho da Tesla criou recentemente um comitê para revisar a remuneração do CEO.
Na carta, os fundos de pensão argumentam que qualquer novo plano de remuneração deve incluir a exigência de dedicação mínima de 40 horas semanais à Tesla.
“Diante dos papéis de Musk em quatro empresas privadas e em sua fundação, o conselho precisa garantir que a Tesla não seja apenas mais uma entre suas muitas obrigações”, afirmam os investidores.
Musk já declarou que precisa de um novo pacote de incentivos para manter o foco na Tesla, dividindo-se entre outras companhias como a rede social X, a startup de inteligência artificial xAI, a SpaceX, a Neuralink e a Boring Company.
Os fundos trabalharam em conjunto com o SOC Investment Group, braço financeiro do Strategic Organizing Center —uma coalizão sindical que ganhou notoriedade nos EUA após travar uma batalha por procuração contra o Starbucks neste ano.
“Não sabemos ainda se a Tesla precisa de um novo CEO”, disse Tejal Patel, diretora-executiva do SOC. “Mas o conselho deveria usar esse momento para colocar a empresa de volta nos trilhos.”
A carta pede ainda que o conselho elabore um plano de sucessão para os principais executivos e indique um novo membro “verdadeiramente independente, sem laços pessoais com os demais integrantes”.
A tesoureira do estado do Oregon, Elizabeth Steiner, que também assina o texto, foi direta: “Se você não quer mais ser CEO da Tesla, tudo bem. Mas nos ajude a encontrar quem será o próximo.”
Na semana passada, Musk afirmou que reduziria seus gastos políticos e publicou em redes sociais que voltaria a se concentrar nos negócios.
“De volta a trabalhar 24 horas por dia, dormindo em salas de reunião, servidores e fábricas. Preciso estar super focado na X/xAI e na Tesla… estamos lançando tecnologias críticas”, escreveu.
Musk ajudou a criar o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), que busca cortar trilhões do orçamento dos EUA, função que gerou protestos contra a Tesla. A marca foi alvo de boicotes, manifestações em concessionárias e vandalismo em seus carros.
Randi Weingarten, presidente da federação americana de professores, que representa aposentadorias somando US$ 4 trilhões (R$ 22,8 trilhões), disse: “Está evidente que a Tesla está em crise… e precisa de cuidados intensivos.”
Em fevereiro, a AFT pressionou seis dos maiores gestores de fundos dos EUA —BlackRock, Vanguard, State Street, T. Rowe Price, Fidelity e TIAA —para “reconsiderarem” suas posições na Tesla após a forte queda das ações.
Apesar disso, os acionistas da Tesla vêm apoiando Musk. Em 2023, aprovaram a reincorporação da empresa no Texas, onde as regras corporativas são mais flexíveis, e agora buscam restabelecer o pacote salarial rejeitado pela Justiça.
Fonte ==> Folha SP