Ladrão que rouba aliança recebe até R$ 350 o grama do ouro – 21/06/2025 – Cotidiano

A imagem mostra um recipiente branco contendo várias peças de joias, incluindo brincos e anéis, sobre uma balança digital. A balança exibe o peso de 850 gramas.

Ladrões de anéis, alianças e correntes de ouro em São Paulo vendem os objetos roubados por peso em favelas da cidade. É o que aponta uma investigação da Polícia Civil que busca desarticular o comércio ilegal de joias.

A bordo de motos —sozinhos, em duplas ou em grupos—, criminosos têm feito ataques em todas as regiões, tanto em áreas centrais quanto na periferia. Objetos de ouro e celulares são os itens mais visados.

Depois que os itens são arrancados das vítimas, acabam sendo levados a receptadores espalhados em grandes favelas.

As investigações do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) apontam Paraisópolis, na zona sul, como um dos destinos de alianças e anéis roubados na capital.

É para lá que parte das joias tomadas em Pinheiros, Itaim Bibi, Morumbi e Butantã, todos na zona oeste, são levadas. Esses locais têm vias de ligação rápida com a favela, como a marginal Pinheiros e a rodovia Raposo Tavares.

Em Paraisópolis, por exemplo, os objetos são colocados em copos descartáveis e pesados. O grama é avaliado entre R$ 200 e R$ 350, pagos na hora para o ladrão que age na rua.

“Na hora, a pessoa que está lá nesse entreposto, vamos dizer assim, pesa e paga pelo peso. Tendo pedra preciosa ou não, sendo uma joia desenhada ou não, seja uma aliança, um cordão de grife ou não, ela paga pelo peso e vai deixando esse ouro lá”, afirmou o delegado Clemente Calvo Castilhone Junior, da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio.

“Em um caso que estamos trabalhando, captamos a informação que estão pagando R$ 300 e, em certos casos, até R$ 350 o grama. Antes era menos frequente esse teto. Pode ser efeito da repressão e fiscalização”, acrescentou o delegado.

O delegado também explicou o que ocorre com o ouro acumulado pelo comprador. “Vem uma outra pessoa, que é a que tem autorização para entrar naquela comunidade, e compra. Esse atravessador já leva para ourives e estabelecimentos, que são objetos das investigações em andamento nesta delegacia.”

É na Divisão de Crimes Contra o Patrimônio que casos de latrocínio —roubo seguido de morte— têm sido esclarecidos, como o do ciclista Vitor Medrado e o do arquiteto Jefferson Dias Aguiar, vítimas da violência em fevereiro e abril deste ano.

As investigações não indicam a atuação de ourives dentro das comunidades, e sim de criminosos com conhecimento, no geral, sobre os itens que estão adquirindo.

Durante uma apuração, os policiais encontraram um vídeo de como são realizadas as transações finais. A negociação ocorreu justamente em Paraisópolis. Um homem foi detido.

Clemente Calvo afirmou que também há ocorrências em que os criminosos preferem vender os objetos diretamente no centro da cidade, sem passar pelos receptadores nas comunidades.

“Tem outros [ladrões] que pegam uma pequena quantidade, vão ao centro e negociam em comércios indicados por aqueles plaqueiros. Infelizmente, mesmo comerciantes formais —alguns deles, nunca podemos generalizar— compram. Em alguns lugares o comprador vai pedir identificação, vai questionar sobre a procedência, em outros não.”

A apuração da polícia também identificou ladrões que focam alianças e anéis, descartando celulares. O motivo seria evitar ser rastreado por meio dos aparelhos.

A morte do delegado Josenildo Belarmino de Moura Junior em um roubo em janeiro deste ano desencadeou uma investigação que levou à prisão de Suedna Barbosa Carneiro, conhecida como a Mainha do Crime. Ela foi detida em Paraisópolis. Para a investigação tocada pelo 11° DP (Santo Amaro), onde Josenildo trabalhava, a mulher patrocinava crimes.

Mainha pagava até R$ 2.200 por celular roubado, de acordo com inquérito obtido pela Folha. Ela está presa desde fevereiro. Os preços variavam de acordo com modelo de iPhone e se o aparelho permitia a troca do chip.

“Temos observado um aumento na ousadia dos criminosos. Embora os autores de roubos não saiam deliberadamente com a intenção de matar, muitos atuam armados, especialmente com arma de fogo, e demonstram total indiferença quanto às consequências da violência empregada”, disse Clemente Calvo.

Placas adulteradas

Segundo a Prefeitura de São Paulo, placas decorativas, de preço baixo, estariam sendo usadas por criminosos para adulterar a identificação de motos utilizadas em roubos.

Na última quarta-feira (18), durante evento sobre o Smart Sampa —sistema de câmeras que identifica rostos de foragidos e lê placas dos veículos—, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que uma dessas placas falsas é tão usada na cidade que, quando jogam a sequência de números dela nos computadores para buscar imagens ao vivo de um veículo suspeito, o sistema todo trava.

“Ela roda tanto na cidade que chega a travar o sistema quando fazemos a busca dela”, afirmou o prefeito.

“Eles trocam a placa e a gente não tem registro de roubo ou furto. Portanto, quando passa pelas câmeras, pela polícia municipal [GCM] ou pela Polícia Militar, para todos os efeitos ela está normal e legalizada.”

De acordo com a prefeitura, o Smart Sampa foi usado para ajudar a polícia a chegar a Suedna Carneiro. “Dentro da casa da Mainha do Crime tinha dez placas de moto, que eles iam trocando. Se vocês entrarem na internet, convido a fazerem uma pesquisa, e quiserem comprar uma placa, vai comprar e vai ser entregue na sua casa a R$ 21”, afirmou Nunes.



Fonte ==> Folha SP

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