Como fez em outras ocasiões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que a persistência das desigualdades sociais é terreno fértil para o surgimento de forças extremistas reacionárias. Lula defendeu que a manutenção e fortalecimento da democracia exige que todos os segmentos sociais, incluindo os super-ricos, trabalhem pelo bem-estar comum.
Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade. Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta os direitos sociais. O salário médio global de um presidente de multinacional é 56 vezes maior do que o de um trabalhador. Políticas de austeridades obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias”, disse Lula, durante seu discurso.
O presidente destacou que o mundo assiste à uma ofensiva do extremismo de direita, que flerta com o fim da democracia e das liberdades individuais. Enfrentar essa ofensiva exige união de forças políticas democráticas e precisa do multilateralismo como ferramenta internacional.
Tanto no plano interno quanto internacionalmente, é preciso que haja desconcentração de renda e que os super-ricos deem sua contribuição, disse Lula.
“A Aliança contra a Fome e a Pobreza, lançada pela presidência brasileira do G20 no ano passado, busca superar definitivamente esse flagelo. A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo. Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço”, destacou.
“Só o combate às desigualdades sociais, de raça e de gênero, pode resgatar a coesão e a legitimidade das democracias. A crise ambiental introduz novas formas de exclusão, com os impactos desproporcionais para os setores mais vulneráveis. Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria”.
Lula pregou união entre todos os setores para defender o Brasil e os demais países do que chamou de “práticas intervencionistas”, em alusão indireta ao tarifaço de Donald Trump e à tentativa do presidente dos Estados Unidos de interferir nos processos políticos brasileiros.
“Nesse momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos. A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado”, advertiu o presidente.
Passado sombrio
Lula recordou que, em passado não tão distante – anos 1960 a 1980 – a América do Sul vivenciou ditaduras que não deseja ver repetidas.
“Este encontro no Palácio de La Moneda, ao lado dos presidentes Boric, Pedro Sanchos, Petro e Amandou, tem uma simbologia muito especial. Aqui, a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina. Nossos países conhecem de perto os horrores das ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram”, discursou, lembrando o golpe que vitimou o presidente eleito Salvador Allende e custou a morte de chilenos pelas décadas seguintes, assim como o fim das liberdades individuais e coletivas em todos os países da região.
“O caminho para a conquista da democracia e da liberdade foi longo. Democracias não se constroem da noite para o dia. Zelar pelos interesses coletivos é uma tarefa permanente”, completou.
Os presidentes do Uruguai, Yamandú Orsi, da Colômbia, Gustavo Petro, do Chile, Gabriel Boric, e o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, também discursaram.
Discurso na íntegra:
“Este encontro no Palácio de La Moneda, ao lado dos presidentes Boric, Pedro Sanchez, Petro e Yamandu, tem uma simbologia especial.
Aqui a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina.
Nossos países conhecem de perto os horrores de ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram.
O caminho para a reconquista da democracia e da liberdade foi longo.
Democracias não se constroem da noite para o dia.
Zelar pelos interesses coletivos é uma tarefa permanente.
Vivenciamos uma nova ofensiva anti-democrática.
Para reagir a esse movimento, Espanha e Brasil promoveram um encontro à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro do ano passado.
De lá para cá, a situação no mundo se agravou.
O quadro que enfrentamos exige ações concretas e urgentes.
A reunião de hoje, organizada pelo presidente Boric, é um passo nessa direção.
A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas.
Cumprir o ritual eleitoral a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente.
O sistema político e os partidos caíram em descrédito.
Por essa razão, conversamos sobre o fortalecimento das instituições democráticas e do multilateralismo em face dos sucessivos ataques que vêm sofrendo.
Concordamos sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação, para devolver ao estado a capacidade de proteger seus cidadãos.
A chave para um debate público livre e plural é a transparência de dados e uma governança digital global.
Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito.
Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade.
Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta direitos sociais.
O salário médio global de um presidente de multinacional é 56 vezes maior que o de um trabalhador.
Políticas de austeridade obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias.
A Aliança contra a Fome e a Pobreza lançada pela presidência brasileira do G20, no ano passado, busca superar definitivamente esse flagelo.
A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo.
Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço.
Só o combate às desigualdades sociais, de raça e de gênero pode resgatar a coesão e a legitimidade das democracias.
A crise ambiental introduz novas formas de exclusão, com impactos desproporcionais para os setores mais vulneráveis.
Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria.
Este encontro também foi um momento de reflexão sobre o estado da integração regional e do mundo.
A América Latina e o Caribe são uma força positiva na promoção da paz, no diálogo e no reforço do multilateralismo.
Com a Espanha e a Europa compartilhamos uma longa história e laços econômicos e sociais.
Somos duas regiões incontornáveis na ordem multipolar nascente.
Enfrentamos desafios semelhantes no enfrentamento da discriminação racial, da xenofobia e da mudança do clima.
Também nos une a promoção e proteção dos direitos humanos.
Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos.
A defesa da democracia não cabe somente aos governos.
Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado.
Logo mais, participaremos de diálogo para aproximar nossa Iniciativa dos movimentos sociais, das ONGs, dos sindicatos, da academia e dos estudantes.
Esta caminhada continuará em setembro, com outro evento em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, envolvendo mais países latino-americanos, europeus, africanos e asiáticos.
Muito obrigado.”
Fonte ==> Bahia Notícias