Macacos-prego sequestram bebês de outra espécie em ilha – 21/05/2025 – Ciência

A imagem mostra um macaco de pelagem clara e escura em um ambiente florestal. O macaco está de costas, próximo a uma pedra e um objeto redondo, possivelmente uma fruta ou uma bola. O fundo é composto por árvores e folhagens verdes, com folhas secas espalhadas pelo chão.

Os macacos-prego geralmente não convivem com seus vizinhos, os bugios, na ilha de Jicarón, no Panamá. Por isso, a imagem de um filhote de bugio agarrado às costas de um macaco-prego-de-cara-branca confundiu a ecologista Zoë Goldsborough, do Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha. Ela se deparou com isso em 2022 enquanto examinava imagens de câmeras remotas na ilha.

Ela e seus colegas chegaram a uma conclusão surpreendente que descreveram em um artigo publicado na última segunda-feira (19) na revista Current Biology. Em várias ocasiões, jovens macacos-prego machos daquela ilha sequestraram filhotes de bugios e os carregaram por dias. As vítimas morreram de desidratação ou fome.

“Olhar para as imagens sem saber o que iria acontecer era como assistir a um filme de terror que estava sendo escrito”, disse o antropólogo evolucionista Brendan Barrett, também do Instituto Max Planck, orientador de doutorado de Goldsborough.

Os dois pesquisadores, que também são afiliados ao Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian, geralmente se concentram no uso de ferramentas de pedra pelos macacos-prego, não em sequestros e assassinatos de filhotes.

De janeiro de 2022 a julho de 2023, pesquisadores documentaram 11 diferentes filhotes de bugios sendo carregados por cinco jovens macacos-prego machos. A tendência parece ter sido estabelecida por Coringa, um indivíduo macho apelidado assim pelos pesquisadores por causa de uma pequena cicatriz no canto da boca. Outros jovens parecem tê-lo imitado meses depois.

Nem os autores do estudo nem outros especialistas que revisaram a pesquisa disseram acreditar que os sequestradores pretendiam prejudicar os bebês. Barrett comparou os macacos-prego a crianças que capturam vaga-lumes em potes e não os libertam antes que morram.

Macacos-prego já foram observados se comportando de forma agressiva em em relação a outras espécies e foi demonstrado que assediam bugios em outros locais.

A antropóloga Susan Perry, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, que não participou do estudo, disse ter testemunhado espécimes torturando filhotes de quati antes de comê-los na Costa Rica. Ela afirmou ainda que uma vez observou um grupo de macacos-prego jogando um filhote de jupará que haviam capturado como se fosse uma bola.

Os bugios passam grande parte do tempo digerindo folhas —isso quando não estão realizando seus chamados de sedução com graves profundos.

Nas imagens que os pesquisadores coletaram no Panamá, Coringa é visto com um filhote de bugio em sua barriga ou costas, não muito diferente de uma pessoa no supermercado carregando um chihuahua em sua bolsa. Ele e os outros macacos-prego não brincavam ou faziam catação (o ato de afagar os pelos de outros animais para retirar parasitas) nos filhotes que roubaram —pelo menos, não diante das câmeras.

Outras cenas são mais perturbadoras. Em um vídeo, um grupo de macacos-prego impede que um filhote de bugio escape enquanto bugios adultos o chamam.

As filmagens de câmeras remotas têm limitações. Os pesquisadores não puderam seguir os macacos até a cena do crime, mas viram que quatro dos bebês morreram e suspeitam que aconteceu o mesmo com os demais porque não tinham acesso ao leite de suas mães.

Barrett e Meg Crofoot, também antropóloga do Instituto Max Planck e coautora do estudo, estavam entre os primeiros a documentar o uso de ferramentas de pedra entre essa população de macacos-prego, e eles têm acompanhado continuamente o grupo desde 2017. Esses animais descobriram como usar pedras para quebrar moluscos, caracóis e outras iguarias comestíveis que têm cascas duras.

Os cientistas dizem que pode não ser coincidência que macacos que vivem em em uma ilha remota e que sequestram símios de outras espécies tenham anteriormente mostrado evidências de uso de ferramentas. Embora o comportamento de roubo e transporte de bebês exibido pelos macacos pareça perturbador, também é uma forma de inovação cultural.

Os autores do estudo chegam a sugerir que os macacos podem inventar novos comportamentos e rituais por estarem entediados. É apenas em Jicarón, assim como na vizinha ilha de Coiba, que essa espécie usa ferramentas. Em ambos os lugares, não tem predadores a temer e tem comida abundante.

“Eles podem simplesmente ter muito tempo livre”, disse Crofoot.

Observações adicionais seriam necessárias para documentar evidências de tédio, segundo Charlotte Burn, especialista em bem-estar e comportamento animal do Royal Veterinary College em Londres, que não participou do estudo.

A equipe planeja estudar imagens adicionais de câmeras para obter pistas sobre o que provoca esse comportamento. Os cientistas também querem entender o status social de Coringa no grupo de macacos-prego antes de ele iniciar essa tendência.

Burn concordou que seria importante saber se os sequestros de bugios ajudaram Coringa a ganhar proeminência entre seu bando e se a solidão poderia tê-lo levado a esse comportamento estranho.

“Se ele é um pária, então é mais um mistério por que os outros estão copiando”, disse Burn. “Talvez eles também estejam sentindo falta do que quer que ele estivesse sentindo falta.”



Fonte ==> Folha SP

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