Metformina pode retardar o envelhecimento? – 06/05/2025 – Equilíbrio

A imagem apresenta uma composição de ícones relacionados a um estilo de vida saudável. No centro, há um comprimido com a inscrição

Há alguns anos, Marc Provissiero, um produtor de cinema se aproximando dos 55 anos, começou a contemplar as próximas décadas de sua vida. Ele se inscreveu em uma clínica de longevidade de alto padrão por alguns milhares de reais por mês e começou a monitorar seus exames de sangue, a se alimentar melhor e a melhorar seu sono. Ele queria se manter ativo à medida que envelhecia —jogando tênis, surfando, fazendo trilhas e passando tempo com sua filha pequena.

Mas durante seu exame físico anual na clínica de longevidade, seu médico, Darshan Shah, deu-lhe um aviso. Apesar de seus hábitos saudáveis, o açúcar no sangue de Provissiero estava se aproximando de níveis pré-diabéticos. Um histórico familiar aumentava seu risco de desenvolver diabetes, o que pode reduzir anos da expectativa de vida de uma pessoa. Quando um regime mais rigoroso de dieta e exercícios não moveu a agulha, Shah prescreveu metformina.

Os cientistas sabem há décadas que a metformina reduz o açúcar no sangue. É aprovada pela FDA (agência reguladora de medicamentos nos Estados Unidos) para tratar diabetes tipo 2 e também é comumente prescrita para perda de peso e síndrome do ovário policístico. Mas alguns médicos, incluindo o de Provissiero, estão apostando que este mesmo medicamento pode evitar uma série de doenças crônicas antes mesmo que elas se desenvolvam, para ajudar pessoas saudáveis a viverem mais e melhor.

“A esperança é que isso leve a um maior número de anos saudáveis”, diz Provissiero, que vive em Malibu, na Califórnia. Após um ano tomando metformina, ele disse que se sente menos inchado, com mais energia e mais no controle de seu peso e açúcar no sangue.

A pesquisa sobre o impacto da metformina na expectativa de vida humana é escassa. A pesquisa existente, grande parte da qual foi feita em camundongos, é muito variada, mostrando efeitos diversos com base no sexo e espécie dos animais, diz Rafael de Cabo, investigador sênior do Instituto Nacional sobre Envelhecimento (NIA, na sigla em inglês) que estuda metformina em camundongos há mais de duas décadas. Estudos humanos, que se concentraram principalmente em pacientes diabéticos, apresentam descobertas conflitantes sobre os benefícios da metformina para pessoas saudáveis, afirma.

Ainda assim, o interesse no potencial anti-envelhecimento da metformina permaneceu alto à medida que os cientistas encontram evidências iniciais, mas promissoras, de que ela também poderia gerenciar ou atrasar outras condições como doenças cardiovasculares, câncer e demência. “A metformina pode estar atingindo a causa raiz” de várias outras doenças cujos riscos aumentam com a idade, potencialmente porque regula hormônios, repara tecidos e alivia a inflamação do sistema imunológico, diz de Cabo.

A promessa de um único medicamento que poderia resolver tudo o torna um alvo especialmente atraente para pessoas ansiosas por evitar doenças mortais relacionadas à idade, afirma Jay Olshansky, professor de saúde pública na Universidade de Illinois, em Chicago.

As evidências da capacidade da metformina de ajudar os humanos a viverem mais tempo são “fracas, mas não são absolutamente definitivamente negativas”, acrescenta Richard Miller, professor de patologia na Universidade de Michigan que estuda o envelhecimento.

Esperando pelo grande estudo humano

Os cientistas ainda estão investigando como a metformina funciona em nível molecular. Parece reduzir o dano celular protegendo os cromossomos da degradação e revertendo as marcas químicas no DNA que estão associadas ao envelhecimento, entre outras funções, diz Nir Barzilai, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Envelhecimento na Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova Iorque.

Originalmente derivada da planta lilás francesa Galega officinalis, o medicamento foi formulado pela primeira vez há cerca de 100 anos para regular o açúcar no sangue em animais. Os médicos começaram a oferecê-lo como tratamento para diabetes em humanos na década de 1950 porque inibe a produção natural e a absorção de glicose pelo corpo, diz de Cabo.

No início dos anos 2000, os pesquisadores começaram a notar que camundongos diabéticos e pré-diabéticos que recebiam metformina viviam mais do que camundongos saudáveis que não estavam tomando o medicamento, sugerindo que ele faz mais do que simplesmente tratar o açúcar no sangue, afirma de Cabo. Por exemplo, um estudo de 2013 que ele liderou descobriu que uma dose baixa de metformina estendeu a expectativa de vida de camundongos machos saudáveis em cerca de cinco por cento (por outro lado, uma dose mais alta encurtou sua expectativa de vida). Parecia ter o mesmo efeito que a restrição calórica, que o campo do envelhecimento considera entre as possibilidades mais promissoras para prolongar a vida.

Alguns outros estudos têm sido encorajadores. Um do ano passado sugeriu que a metformina retardou o envelhecimento nas células cerebrais de macacos machos em até seis anos. Outro estudo observacional amplamente citado em humanos, publicado em 2014, descobriu que pessoas com diabetes tipo 2 que tomavam metformina tinham um risco de mortalidade menor do que pessoas sem diabetes que não a tomavam.

Mas outras pesquisas pintam um quadro diferente. Uma análise de 2022, que visava replicar o estudo de 2014, descobriu que pessoas com diabetes tomando metformina não tinham um risco de mortalidade menor do que pacientes mais saudáveis que não estavam tomando o medicamento. Também há evidências de que o benefício da metformina para pessoas sem diabetes pode ser de curta duração, reduzindo seu risco de mortalidade por apenas alguns anos antes de retornar ao normal.

Um grande ensaio nacional examinando o impacto da metformina em indivíduos saudáveis mais velhos —que poderia finalmente estabelecer quão eficaz é o medicamento em evitar doenças crônicas e mortalidade— tem sido adiado por anos. Chamado de Ensaio Targeting Aging With Metformin (Atingindo o Envelhecimento com Metformina, em português), e liderado por Barzilai, ele visa comparar a incidência de problemas cardiovasculares, demência, câncer e morte em pessoas que estão tomando metformina com aquelas que não estão. Mas devido a restrições orçamentárias e interrupções, a pesquisa não começou a sério e provavelmente levará anos até que dados preliminares sejam publicados, diz Barzilai.

Dando um salto de fé

Não há dados confiáveis sobre quantas pessoas usam metformina estritamente para fins de longevidade. Alguns influenciadores anti-envelhecimento promovem a metformina como parte de seu regime, e médicos entrevistados para esta matéria dizem que os pacientes (mesmo aqueles sem risco de doença crônica) estão cada vez mais pedindo que eles prescrevam o medicamento.

Embora o seguro não cubra medicamentos usados exclusivamente para longevidade, a metformina é relativamente barata: pacientes que não a usam para condições crônicas geralmente pagam de R$ 50 a —R$ 170 por mês do próprio bolso nos EUA.

Especialistas e usuários de metformina dizem que os riscos do medicamento são geralmente mínimos; efeitos colaterais comuns incluem diarreia e dificuldade para desenvolver músculos, ambos os quais parecem diminuir quando os pacientes param de tomá-lo. (Alguns entusiastas da longevidade que foram os primeiros defensores da metformina desde então a abandonaram, em parte devido ao medo de inibir o crescimento muscular, o que eles disseram que superaria os possíveis benefícios de longevidade.)

Efeitos colaterais mais graves são possíveis, no entanto. De Cabo alertou que o medicamento poderia comprometer a função renal em pacientes com doença renal, se não for tomado sob orientação próxima de um médico.

Pacientes como Provissiero acreditam que os benefícios potenciais valem os riscos. Agora que está tomando metformina, ele disse que visita a academia com mais frequência para contrariar quaisquer desafios na construção muscular, embora não tenha experimentado nenhum problema até agora.

Peter Bernard, 59, um executivo de vendas de tecnologia aposentado que vive em Haverford, no estado americano da Pensilvânia, disse que tem tomado metformina por cerca de sete anos. Embora nunca tenha lutado para manter seu açúcar no sangue baixo, ele pensou que a metformina poderia ajudá-lo a atrasar a deterioração biológica que vem com a idade. Para ele, não há “muito lado negativo” em tomar um comprimido de 500 mg duas vezes ao dia, especialmente porque ele nunca notou quaisquer efeitos colaterais negativos. Embora também não tenha visto nenhum benefício dramático da metformina, diz que seus exames de sangue e peso estão consistentemente na faixa saudável, e “a única maneira de descobrir se não funciona é parar”.

Provar que um medicamento ajuda as pessoas a viverem mais poderia levar décadas, diz Shah. Provissiero e outros usuários acreditam que a metformina terá benefícios a longo prazo.

Mesmo que não seja o medicamento mais poderoso, ele “pode muito bem ser bom para pessoas” que lutam para manter seu açúcar no sangue ou peso dentro de diretrizes saudáveis, diz Miller, acrescentando que é “demonstravelmente bom” em retardar a progressão de pré-diabetes para diabetes. “Mas para qualquer pessoa que afirme que a metformina retarda o envelhecimento em pessoas ‘que não têm um traço, ou o menor indício de pré-diabetes, eu teria que dizer, ‘prove’.”

Também é difícil determinar se os benefícios são atribuíveis apenas à metformina, acrescenta Miller. Alguns pacientes que a tomam para longevidade simultaneamente tomam outros medicamentos e suplementos supostamente para retardar o envelhecimento. Por exemplo, Bernard diz que também está tomando testosterona, proteína de soro de leite —whey— e magnésio.

E poderia simplesmente ser que o maior benefício da metformina é que ela desencadeia uma mudança no comportamento, reconheceu Provissiero. Enquanto ele monitora meticulosamente sua glicose e faz exames laboratoriais semestrais para inflamação, sua dose de metformina é um “lembrete diário” de que comer de forma saudável e se exercitar pode reduzir seus níveis de açúcar no sangue, estendendo sua expectativa de vida. Com mudanças no estilo de vida, diz, “eu preciso ser um parceiro disso e me comportar”.



Fonte ==> Folha SP

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