Morte do papa Francisco repercute na China – 22/04/2025 – Mundo

Uma mulher está tirando uma foto com seu celular de um altar em uma igreja. No altar, há uma imagem do Papa Francisco em um quadro, cercada por flores e velas. O ambiente é iluminado e possui arcos altos e detalhes arquitetônicos típicos de igrejas.

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A morte do papa teve grande repercussão também na China. Fiéis no território continental e na região administrativa especial de Hong Kong prestaram homenagens a Francisco nesta segunda (21) e terça (22), com vários católicos se reunindo para orações em memória do argentino.

A diocese de Hong Kong anunciou que realizará serviços e liturgias para seus 400 mil fiéis, permitindo que a comunidade local se despeça do papa. Na China continental, católicos se reuniram espontaneamente em igrejas para orar, e mensagens de condolências de padres e bispos circularam nas redes sociais.

Embora o papa tenha buscado melhorar as relações com a China, o que incluiu a renovação de um acordo sobre a nomeação de bispos em 2024, suas tentativas de estabelecer uma aproximação mais estreita com Pequim não foram totalmente bem-sucedidas. Católicos consideraram o acordo um “compromisso” com o regime chinês.

Embora tenha trazido alguns avanços, Francisco foi alvo em especial de críticas internas da Igreja, capitaneadas pelo cardeal e arcebispo honconguês Joseph Zen que acusava o Vaticano de ceder às exigências do regime chinês.

O Vaticano é um dos poucos países no mundo a manter relações com Taiwan ao invés do governo em Pequim e sempre resistiu a tentativas do Partido Comunista Chinês em controlar as operações da Igreja no país asiático.

  • Relembre: a Igreja Católica foi banida na China em 1953. A liberação só aconteceu em 1982, quando o Partido Comunista Chinês reconheceu o direito à liberdade religiosa, depois do fim da Revolução Cultural de Mao Tse-Tung.

Um acordo selado entre os dois lados em 2022 permitiu à Igreja nomear bispos na China continental pela primeira vez, mas as relações seguiam frágeis diante da percepção entre a cúpula comunista (oficialmente ateia) de que oficiais católicos tentavam interferir politicamente no país.

Por que importa: apesar de seus esforços diplomáticos, o papa nunca conseguiu realizar um encontro com o líder Xi Jinping. O argentino lidou com discussões sobre a nomeação de bispos na China que geraram controvérsia, e a relação entre o Vaticano e Pequim permaneceu marcada por desafios, como a falta de liberdade de culto e a perseguição a religiosos não autorizados. É pouco provável que esta tensão desapareça com o próximo pontífice.


Pare para ver

“Maria e Jesus” aos olhos do artista chinês Chen Yuandu (ou Luke Chen como era conhecido). O Sixth Tone fez há uns anos um belo compilado com pinturas e ilustrações de chineses acerca de figuras cristãs. Leia (e veja) mais aqui (em inglês).


O que também importa

O número de novas empresas privadas na China cresceu 7,1% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o ano anterior, totalizando 1,98 milhão de registros. Esse aumento é visto como sinal de resiliência, apesar dos desafios impostos pela guerra comercial com os Estados Unidos. As empresas privadas, que representam 92,3% do total no país, têm se destacado na inovação, especialmente nos setores de internet e tecnologia. O governo chinês vem intensificando esforços para apoiar o setor privado, visto como vital para a saúde econômica diante de um cenário incerto causado pelas tarifas de Donald Trump.

Os dois principais líderes da oposição em Taiwan convocaram uma cúpula de emergência para esta terça-feira (22), com o objetivo de enfrentar o que chamam de crescente repressão política do governista Partido Progressista Democrático (DPP). A crise é alimentada pela disputa sobre campanhas de recall contra parlamentares do oposicionista Kuomintang em um contexto de crescente tensão judicial. Eric Chu do KMT e Kuo-chang (Partido do Povo de Taiwan, TPP) acusam o DPP de usar a Justiça como ferramenta para suprimir a oposição, após a perda de controle do parlamento no ano passado. Além disso, criticam a gestão econômica do governo diante das tarifas impostas pelos EUA. Os dois ainda não anunciaram iniciativas conjuntas concretas.

A China alertou que não aceitará acordos comerciais que prejudiquem seus interesses, dias após o início de negociações entre Taiwan, Japão e Coreia do Sul com os Estados Unidos. As conversas se deram após a imposição de tarifas pelo presidente Donald Trump, que afetaram diversos parceiros comerciais, mas foram parcialmente suspensas após um pânico nos mercados. Pequim criticou a postura dos EUA, chamando-a de “bullying econômico” e reforçou sua disposição para negociar, embora sem encontros agendados.


Fique de olho

A Huawei está prestes a começar o envio de seu novo chip de inteligência artificial 910C para clientes chineses, oferecendo uma alternativa local à Nvidia, que teve suas vendas de chips bloqueadas pelos EUA.

O chip chega em um momento estratégico para empresas de IA da China, que buscam soluções domésticas devido às restrições comerciais impostas por Washington ainda durante o governo Joe Biden.

  • O 910C foi desenvolvido para competir com o chip H100 da Nvidia, oferecendo um desempenho equivalente e maior capacidade de memória, segundo a Reuters.

  • Com ele, empresas como a DeepSeek continuariam a expandir capacidade a despeito dos embargos;

  • A produção envolve parcerias com empresas chinesas como a SMIC, num esforço da Huawei para reduzir sua dependência da taiwanesa TSMC.

A notícia fez as ações da Nvidia caírem 4,5%. Além disso, outros grandes nomes do setor de chips, como Broadcom e AMD, também registraram quedas, de 2,8% e 2,2%, respectivamente.

Por que importa: o lançamento é um marco importante na tentativa da China de reduzir sua dependência de tecnologia ocidental, o que reforça a competitividade do país no setor de inteligência artificial e tecnologia.


Para ir a fundo

O Comitê Empresarial Brasil-China (CEBC) realizou um webinar com quatro episódios explicando temas centrais da agenda de China no Brasil. O programa contou com convidados como Tatiana Prazeres, Cláudia Trevisan, Vitório Brustolin e Fabiana D’Atri. Assista aqui. (gratuito, em português)

A Funcex lançou o curso China: influência dos aspectos culturais nas negociações”, que acontece em 4 de junho, das 8h às 17h, de forma online e ao vivo. O treinamento aborda desde etiqueta em banquetes até estratégias para superar barreiras culturais nas relações comerciais com chineses. Inscrições e detalhes neste link. (pago, em português)

Estão abertas as inscrições para o curso “Geopolítica Global e Trump: EUA, Rússia, UE e China no Tabuleiro da Guerra” da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ministrado pelo professor Alexandre Coelho, o treinamento começa em maio. Mais informações aqui. (pago, em português)



Fonte ==> Folha SP

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