Morumbi e Vila Clementino concentram roubos a casas em SP – 28/06/2025 – Cotidiano

A imagem mostra a entrada de um condomínio com um portão de grade branca que está parcialmente aberto. Ao fundo, há uma construção residencial e árvores ao redor. O ambiente parece bem iluminado, indicando que é durante o dia.

Os assaltantes amarraram a cerca elétrica com dois cadarços e usaram uma escada para pular o muro de uma mansão no Morumbi, na zona oeste de São Paulo. Um portão de segurança foi desparafusado. Entraram sem que fossem percebidos por dois funcionários, um porteiro e um segurança, que faziam a guarda durante a madrugada do dia 22 de abril.

Por volta das 3h50, o porteiro havia acabado de ser dispensado para fazer uma pausa para o lanche quando foi abordado. O segurança disse em depoimento à polícia que estava na guarita, no lado de dentro do muro, quando viu o colega já rendido por três criminosos que portavam pistolas e um fuzil. Foi nesse momento que tomaram sua arma, além da munição e o colete balístico.

Os dois, assim como três empregadas domésticas, tiveram as mãos amarradas com abraçadeiras de plástico e foram levados para um cômodo que serve como academia. Os ladrões —em num total de cinco, após abrirem o portão— entraram na casa pela janela e esperaram que os moradores acordassem, pois a porta do quarto é blindada.

Com todos os ocupantes da casa imobilizados, os ladrões levaram colares, brincos, anéis, 13 relógios de luxo —sete da marca Rolex, um Bvlgari, dois Patek Philippe, um Omega, um Chopard e um IWC— e US$ 5.000 em dinheiro (equivalente a cerca de R$ 28 mil). O imóvel pertencia a um executivo de um dos maiores grupos de infraestrutura e transporte do país.

O caso foi um dos 12 roubos a residências registrados de janeiro a abril deste ano no Morumbi, líder nesse tipo de crime na capital. A cidade teve queda de 46% nos assaltos a domicílio nos últimos três anos, mas a quantidade de ocorrências no bairro manteve-se no mesmo patamar.

O Morumbi viveu uma onda de crimes dessa modalidade neste ano. Foram sete ocorrências apenas em fevereiro no 34º Distrito Policial, responsável pela região.

Sete dias depois do assalto de 22 de abril, um grupo de cerca de 20 assaltantes encapuzados e armados com pistolas, revólveres e espingardas invadiu um condomínio no mesmo bairro. Foram levados cerca de R$ 1,2 milhão em relógios, joias, acessórios e aparelhos eletrônicos, além de dinheiro vivo.

No mesmo dia, assaltantes roubaram a casa de um desembargador aposentado no Campo Limpo, na zona sul. Seu filho foi acordado por três homens armados, que o imobilizaram e o levaram até outro cômodo onde sua prima também já estava atada.

O desembargador e a esposa chegaram em casa enquanto o roubo estava em andamento e estranharam a porta aberta. Decidiram ficar no carro e ligaram para o filho. Os assaltantes saíram da casa em seguida e dispararam tiros contra o veículo, que é blindado. As vítimas saíram de marcha ré e arrebentaram o portão da própria casa.

Aquele foi o segundo assalto que a família sofreu no mesmo imóvel, segundo uma das vítimas. Traumatizados, estão tomando medidas para se mudar.

A Folha entrou em contato com o executivo que teve a casa assaltada no Morumbi e com a família do desembargador, mas ninguém quis dar entrevistas, por temerem represálias.

Dois suspeitos de participarem do roubo no Campo Belo foram presos. Menos de uma semana depois, uma tentativa de assalto no Morumbi deixou dois guardas-civis de Diadema feridos.

Vila Clementino, Cambuci e Pinheiros, todos no centro expandido da capital, também concentram ocorrências desse tipo. Na direção contrária ao restante da cidade, os dois primeiros tiveram aumento dos assaltos a residências nos quatro primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024 —apesar de se manter abaixo do patamar de anos anteriores.

Segundo o delegado Clemente Calvo Castilhone Junior, da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, o método do assalto a residências varia de acordo com a quadrilha. Há grupos que levam tudo o que podem carregar da casa, e chegam a simular espécie de mudança.

Outros têm preferências por cofres, joias e dinheiro em espécie. Muitas vezes fogem com os pertences no próprio carro da vítima. Há grupos que preferem a discrição: deixam para trás TVs e outros objetos de grande porte.

“Recentemente, a gente pegou um adolescente com ações em Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia. Ele fazia o turismo do crime”, contou o delegado.

No dia 4 de junho, um crime que começou como assalto a residência terminou como latrocínio (roubo seguido de morte). Dono de uma construtora, o engenheiro Francisco Paulo de Sebe Filippo, 57, teve a casa nos Jardins, região central de São Paulo, invadida por quatro homens.

Os ladrões teriam conseguido clonar o controle remoto do portão de acesso ao imóvel. Segundo o boletim de ocorrência, um dos quartos da casa foi revirado pelos criminosos, que procuravam joias e relógios, que foram levados. Filippo foi morto com um tiro na nuca.

Segundo o delegado Castilhone, que é um dos responsáveis pela investigação, seis dias antes os mesmos assaltantes mantiveram uma família refém por mais de 12 horas.

A conexão entre os dois casos é um carro Hyundai HB20 branco, usado na fuga do assassinato e abandonado cerca de 1,5 km de distância do local do crime. O carro já era alvo de monitoramento dos policiais.

“Desde a época a gente sabe que eles estavam com essa HB20 só trocando as placas. E praticando golpes. Então, é uma quadrilha maior que os quatro, mas eles tinham alternância de componentes”, disse o delegado.

Questionada sobre os roubos a residência, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que “está atenta a crimes desta natureza e atua para coibir os delitos”. A pasta informou que número de roubos a residência caiu de 1.059, no primeiro quadrimestre de 2024, para 748 casos no mesmo período de 2025 em todo o estado, uma queda de 29%. Na capital, a queda foi de 27% nos roubos e de 13% nos furtos, disse a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“Na região do Morumbi, citada pela reportagem, sete casos de roubos a residência foram esclarecidos nos últimos meses e resultaram em prisões de criminosos especializados em crimes desta natureza”. As investigações ocorreram pelo 34° Distrito Policial (Morumbi) e pela 3ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco).



Fonte ==> Folha SP

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