A farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, interrompeu a aquisição da biotech focada em obesidade Metsera pela Pfizer, apresentando uma oferta de até US$ 9 bilhões (R$ 48,4 bilhões) pela empresa. A ação gerou acusações de sua rival americana de que está tentando sufocar a concorrência.
A Metsera, que em setembro concordou com uma oferta de aquisição de até US$ 7,3 bilhões (R$ 39,3 bilhões) da Pfizer, disse nesta quinta-feira (30), após a Novo tornar pública sua oferta não solicitada, que a nova proposta de aquisição era “superior”.
Depois de perder para a Pfizer a guerra de lances pela Metsera em setembro, a Novo retornou com uma nova oferta com uma estrutura incomum, segundo várias pessoas familiarizadas com os detalhes.
A Pfizer classificou a última proposta da Novo como “imprudente e sem precedentes”, afirmando que era “uma tentativa de uma empresa com posição dominante no mercado de suprimir a concorrência, violando a lei ao assumir uma emergente americana do setor”.
A empresa acrescentou que a estrutura do acordo era uma tentativa “de contornar as leis antitruste”, dizendo que estava “preparada para buscar todas as vias legais para fazer valer seus direitos”.
A oferta da Novo desencadeia uma dramática batalha de aquisição enquanto compete com sua rival americana por uma biotech com um portfólio de medicamentos para obesidade.
Sob a proposta da Novo, o grupo pagará à Metsera, e não aos seus acionistas. A Metsera então declarará um dividendo de US$ 56,50 em dinheiro a ser pago aos investidores logo após a assinatura do acordo, garantindo que os acionistas recebam a maioria do dinheiro antes que o acordo passe por completo escrutínio regulatório.
Se o acordo for aprovado pelos acionistas e reguladores, os acionistas receberão pagamentos adicionais de até US$ 21,25, com base em marcos semelhantes aos acordados no acordo entre Metsera e Pfizer.
A Pfizer havia oferecido pagar US$ 47,50 por ação em dinheiro pela Metsera e um adicional de US$ 22,50 mais adiante, avaliando a empresa em até US$ 7,3 bilhões.
A oferta de aquisição da Novo ocorre enquanto ela lida com uma queda no preço das ações, já que os investidores temem que esteja perdendo sua dominância no mercado de medicamentos para perda de peso para a rival Eli Lilly. Na semana passada, o presidente e vários diretores independentes da Novo renunciaram, enquanto o ex-CEO Lars Rebien Sørensen agora planeja retornar como presidente.
As ações da Novo caíram 3,5% nesta quinta com a notícia da oferta, enquanto as ações da Metsera subiram quase 20% nas negociações pré-mercado. As ações da Pfizer permaneceram estáveis.
A última oferta da Novo pela Metsera mostra que a farmacêutica, que historicamente evitou acordos maiores, está disposta a gastar para expandir seu pipeline de obesidade após a chegada de seu novo CEO Maziar Mike Doustdar e o retorno de Sørensen.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Mark Kelly, CEO da consultoria MKI Global Partners, disse que o acordo se tornou “muito político” e a estrutura era um sinal de que a Novo “não tinha confiança em obter aprovações antitruste de forma tão tranquila quanto a Pfizer”.
Sørensen, que deve se tornar presidente no próximo mês, foi fundamental para encorajar a empresa a se tornar mais agressiva na busca por acordos, segundo pessoas familiarizadas com a situação.
A Novo enfatizou que sua proposta “aderiu de perto a todas as restrições do acordo de fusão da Pfizer e estamos confiantes de que os fatos e a lei estão do nosso lado”.
A Metsera, que abriu capital este ano, tem quatro ensaios clínicos em andamento para medicamentos contra obesidade em estágios iniciais e intermediários: uma injeção mensal de longa duração, uma pílula para perda de peso e dois para um medicamento baseado no hormônio amilina, que promove sensação de saciedade. Alguns pesquisadores esperam que medicamentos baseados em amilina não causem a perda muscular associada aos tratamentos atuais.
O novo CEO da Novo, Doustdar, que assumiu em agosto, tem tentado reavivar o entusiasmo dos investidores sobre seu pipeline de medicamentos. Doustdar foi nomeado após o CEO anterior, Lars Fruergaard Jørgensen, ser destituído devido a uma queda no preço das ações de mais de 50% em um ano. O novo CEO prometeu focar nas principais forças da Novo, incluindo tratamentos para obesidade.
No registro da Metsera na SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) detalhando o histórico das negociações antes da aceitação da oferta da Pfizer, foi mencionado que um licitante, que pessoas familiarizadas com o assunto identificaram como a Novo, enfrentava “riscos regulatórios” que poderiam impedir um acordo.
A Novo disse nesta quinta: “Não teríamos feito esta oferta se não acreditássemos que um acordo poderia obter aprovação, mas um acordo potencial estará, é claro, sujeito às aprovações regulatórias habituais.”
No início deste mês, a empresa concordou em pagar até US$ 5,2 bilhões pela biotech americana de doenças hepáticas Akero Therapeutics devido ao seu potencial para tratar MASH, uma condição hepática que é uma das complicações mais comuns da obesidade.
Fonte ==> Folha SP
