Uma intervenção no Viaduto do Chá, que deve ser iniciada em breve pela prefeitura, deve facilitar a reabertura da galeria Prestes Maia, que ocupa a área do viaduto do lado do centro velho e tem acessos pelo vale do Anhangabaú e pela praça do Patriarca. Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a previsão é abrir a licitação no início de agosto.
A concessionária Novo Anhangabaú tem usado o espaço para eventos ocasionais, mas afirma ter dificuldades de encontrar uma destinação definitiva para o espaço por conta das infiltrações. “A gente tinha uma dificuldade de encontrar a origem do problema”, diz Gustavo Torres, diretor da concessão.
Desde 2022, o local, segundo a concessionária, recebeu cinco eventos comerciais e outras cinco programações culturais gratuitas, entre elas, duas edições da Casa de Criadores. Com a restauração, a ideia, segundo Torres, é pensar em uma destinação definitiva para a galeria. “Pensamos em algo relacionado à economia criativa ou na própria possibilidade da criação de um museu..”
Antes da concessão, o projeto mais recente era de construção no local do Museu dos Direitos Humanos e da Cidadania. Outras gestões chegaram a colocar em pauta a criação do Museu da Cidade de São Paulo (apesar de o nome existir e reunir casas tombadas do município, não há um espaço dedicado a contar a história paulistana) e um espaço de exposição do Masp. Todas essas opções acabaram sendo descartada nos últimos anos.
Além da reforma estrutural, segundo Marcos Monteiro, secretário Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, está prevista também a restauração do piso, construção de uma baía de embarque e desembarque. Pontos de ônibus também devem ser remanejados e um vagão de bonde deve ser instalado, ao lado do shopping Light, para um serviço de informações turísticas.
Na praça do Patriarca, o piso deve ser reformado, novas árvores plantadas, balizadores instalados e a marquise, de autoria do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, deve ter a sua parte inferior envidraçada. O local é um acesso à galeria. A prefeitura chegou a cogitar a transferência da marquise, mas desistiu por conta da resistência da família do arquiteto, morto em 2021.
A gestão municipal ainda cogita a mudança da estátua de José Bonifácio, chamado de patriarca da Independência, da proximidade da rua Direita para o meio da praça.
Segundo Pedro Mendes da Rocha, filho do arquiteto, não só a possibilidade de mudança, mas o próprio envidraçamento desagrada a família, porque fere o conceito do projeto. “A parte de cima é um pórtico, de entrada no centro velho e a marquise é não só uma proteção para quem vai para a galeria, mas também para criar um espaço de integração das pessoas lá, com proteção contra a chuva e o sol excessivo”, afirma.
Para Torres, a nova utilização da galeria deve ser integrada a outros projetos com a participação da concessionária, como a organização de grandes shows e festivais e as atividades gratuitas no vale, além do Formosa Hi-Fi, bar de música que será inaugurado oficialmente na noite desta quinta-feira (31).
Com os empresários Alê Youssef, Facundo Guerra e Ale Natacci como sócios, o bar deve funcionar na galeria Formosa, junto à praça Ramos de Azevedo. Os empresários se comprometeram a restaurar e manter a passagem subterrânea que fica entre o viaduto do Chá e a entrada do antigo Mappin. Eles já recuperaram a reinaugraram a fonte dos Desejos, localizada na praça.
O bar usa tecnologia de sala de orquestra para audição de registros fonográficos de artistas em mídias físicas. “O projeto existia há pelo menos 10 anos, e foi adaptado para ocupar a galeria Formosa”, afirma Facundo. “Um projeto tão especial merecia um lugar especial como o espaço que Mário de Andrade quis utilizar para ser o primeiro restaurante de comida brasileira da cidade.”
Além dos projetos em conjunto com a concessionária, a área terá uma nova unidade Sesc, justamente onde funcionava o Mappin.
Segundo a presidente do Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do Brasil (IABsp), Raquel Schenkman a integração com o entorno foi levada em conta na seleção do projeto arquitetônico pelo Sesc.
“O projeto vitorioso tinha como um de seus diferenciais justamente a integração daquele espaço com o teatro e outros prédios em torno, tanto que o Sesc tem chamado a unidade de Sesc Galeria”, diz. O IABsp participou da seleção ao lado da entidade.
Ela alerta para a necessidade de os projetos da prefeitura para a região falarem entre si, inclusive o veículo leve sobre trilhos (VLT), previsto para passar no viaduto. E também com os outros projetos em andamento da iniciativa privada.
A prefeitura chegou a cogitar alterar o trajeto de quase 40 linhas de ônibus, que deixariam de passar na lateral e na parte de trás do Theatro Municipal, para passarem na frente e na lateral inversa. Para isso, a calçada na frente do teatro teria de ser reduzida. O objetivo era criar um boulevard entre a praça e o teatro.
A proposta foi abandonada em razão dessa integração com os projetos do Sesc e ligados à concessionária. No local onde a calçada seria reduzida também existe um trecho preservado de trilhos dos bondes que passavam em frente ao teatro.
Fonte ==> Folha SP