A OpenAI estaria interessada em comprar o Chrome do Google se as autoridades antitruste dos Estados Unidos tiverem sucesso em forçar a Alphabet a vender o popular navegador da web, segundo declarou em testemunho um executivo da OpenAI nesta terça-feira (22) durante o julgamento antitruste do Google, em Washington (EUA).
A movimentação do judiciário norte-americano é parte de uma tentativa de restaurar a concorrência nas pesquisas.
O chefe de produto do ChatGPT, Nick Turley, fez a declaração ao testemunhar no julgamento, onde o Departamento de Justiça dos EUA busca exigir que o Google tome medidas de longo alcance para restaurar a concorrência nas pesquisas online. A OpenAI é proprietária do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial que revolucionou o setor.
O juiz que supervisionou o julgamento concluiu no ano passado que o Google detém o monopólio das pesquisas online e da publicidade relacionada.
O Google não colocou o Chrome à venda. A empresa planeja recorrer da decisão de que detém o monopólio.
O início do julgamento, considerado de alto risco, forneceu um vislumbre da corrida da inteligência artificial (IA) generativa, em que grandes empresas de tecnologia e startups estão competindo para desenvolver seus aplicativos e ganhar usuários.
Os promotores levantaram preocupações em declarações iniciais na segunda-feira (21) de que o monopólio de buscas do Google poderia lhe dar vantagens em IA e que seus produtos na área são outra maneira de levar os usuários ao seu mecanismo de busca.
O Google destacou a concorrência entre empresas que oferecem produtos de IA generativa, como a Meta Platforms e Microsoft.
Turley escreveu no ano passado que o ChatGPT era líder no mercado de chatbots para consumidores e não via o Google como seu maior concorrente, de acordo com um documento interno da OpenAI apresentado pelo advogado do Google no julgamento. Ele testemunhou que o documento tinha como objetivo inspirar os funcionários da OpenAI e que a empresa ainda se beneficiaria de parcerias de distribuição.
“MELHOR PRODUTO”
Turley é testemunha do governo e declarou no início do dia que o Google rejeitou uma proposta da OpenAI para usar sua tecnologia de busca no ChatGPT. A OpenAI entrou em contato com o Google após enfrentar problemas com seu próprio provedor de busca, disse Turley. O ChatGPT usa tecnologia do mecanismo de busca da Microsoft, o Bing.
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“Acreditamos que ter vários parceiros, e em particular a API do Google, nos permitiria fornecer um produto melhor aos usuários”, disse a OpenAI ao Google, de acordo com um e-mail mostrado no julgamento.
A OpenAI entrou em contato pela primeira vez em julho, e o Google recusou o pedido em agosto, dizendo que envolveria muitos concorrentes, de acordo com o e-mail.
“Não temos nenhuma parceria com o Google hoje”, disse Turley.
A proposta do Departamento de Justiça de fazer o Google compartilhar dados de pesquisa com outras empresas como forma de restaurar a concorrência ajudaria a acelerar os esforços para melhorar o ChatGPT, disse Turley.
A pesquisa é uma parte essencial do ChatGPT para fornecer respostas às consultas dos usuários que sejam atualizadas e factuais, disse Turley. O ChatGPT está a anos de distância de sua meta de conseguir usar sua própria tecnologia de pesquisa para responder a 80% das consultas, acrescentou.
ACORDOS EXCLUSIVOS
Em agosto, o juiz distrital dos EUA Amit Mehta concluiu que o Google protegeu seu monopólio de pesquisa por meio de acordos exclusivos com a Samsung Electronics e outras empresas, para ter seu mecanismo de busca instalado como padrão em novos dispositivos.
O Google havia considerado acordos com fabricantes de celulares Android, como a Samsung, que forneceriam exclusividade não apenas para seu aplicativo de busca, mas também para seu aplicativo Gemini AI e navegador Chrome, de acordo com um documento mostrado no julgamento.
Em vez de firmar contratos mais exclusivos, no entanto, o Google flexibilizou seus acordos mais recentes com os fabricantes de dispositivos Samsung e Motorola e com as operadoras de telefonia móvel AT&T e Verizon, permitindo que eles carregassem ofertas de busca rivais, mostraram outros documentos.
Os acordos não exclusivos refletem o que o Google disse ser a solução para lidar com a decisão de Mehta. O Departamento de Justiça quer que o juiz vá mais longe, proibindo o Google de fazer pagamentos lucrativos em troca da instalação de seu aplicativo de busca.
O Google enviou cartas na semana passada reiterando que seus acordos não proibiam as empresas de instalar outros produtos de IA em novos dispositivos, testemunhou o executivo do Google, Peter Fitzgerald, nesta terça-feira.
Fonte ==> Folha SP