O ouvidor das polícias de São Paulo, Mauro Caseri, afirmou em nota que o agente que matou o marceneiro Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, na zona sul de São Paulo, com um tiro na cabeça, não cumpriu regras e agiu de forma dolosa.
De acordo com Caseri, o caso é grave e vem se tornando rotina no estado.
O policial Fábio Anderson Pereira de Almeida, que estava de folga, foi autuado por homicídio culposo, pagou fiança de R$ 6.500 e responderá em liberdade. Procurada, a defesa dele afirmou que ainda não vai se manifestar.
“Procedimento da PM determina três estágios nestes casos: identificar, decidir e agir. O policial desrespeitou essa sequência, agindo antes de identificar, vitimando mais um inocente, num crime de natureza dolosa, que feriu de morte, com um tiro pelas costas, o trabalhador negro, deixando ferida ainda mais uma pessoa, numa clara demonstração de que não se ‘mata por engano'”, afirmou em nota.
O ouvidor afirmou que Guilherme entrou para uma estatística que precisa ter fim.
“De certo modo, o tiro atingiu a Bíblia, a marmita e a vida do marceneiro. Ceifou a fé, a profissão e o futuro de Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, trabalhador brasileiro que entra para uma triste estatística que precisa ter fim, com um sistema de segurança que se paute pela defesa da vida e dos direitos fundamentais de nossos cidadãos”, declarou.
Caseri afirmou que abriu procedimento e solicitou para a Corregedoria da Polícia Militar informações sobre as medidas tomadas pelo órgão e os respectivos relatórios de conclusão. Pediu ainda o afastamento do agente do trabalho operacional, bem como a quantidade de DEJEM (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar) e de participações na Operação Delegada (espécie de bico oficial) do policial nos últimos 12 meses.
Caseri ainda pediu à Corregedoria da Polícia Civil que apure os procedimentos adotados pelo delegado do caso, Kaue Danillo Granatta, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
O ouvidor também oficiou a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) para que a Polícia Civil investigue eventuais implicâncias raciais na ocorrência.
Além disso, Caseri solicitou ao DHPP portaria e relatório de conclusão do inquérito policial; laudo necroscópico; laudos periciais do local do crime, exame balístico e exames residuográficos; imagens de câmeras de monitoramento da região, bem como informações sobre a distribuição judicial do caso.
Guilherme Dias Santos Ferreira, morto pelo policial Fabio Anderson Pereira de Almeida na noite de sexta-feira (4), na zona sul de São Paulo, foi baleado pelas costas, de acordo com o boletim de ocorrência.
Segundo o registro policial, foi verificada no corpo de Guilherme uma lesão perfurocontusa —que perfura e contunde ao mesmo tempo— na região da cabeça, atrás da orelha direita.
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o policial teria confundido Guilherme, um homem negro que trabalhava em uma fábrica de camas, com um assaltante. A vítima havia acabado de sair do trabalho e estava a caminho de um ponto de ônibus. Ele carregava carteira, celular, um livro e uma marmita.
No local, um colega de trabalho se apresentou aos policiais civis e afirmou que Guilherme havia acabado de sair do trabalho em uma rua próxima. Um funcionário disse ter os registros que atestam que a vítima registrou o ponto de saída às 22h28, além de mostrar fotos e vídeos no celular que mostram a saída do rapaz da empresa naquela noite.
Pouco antes, o PM voltava para casa em sua moto, ainda segundo o registro, quando foi cercado por criminosos armados em outras cinco motos que tentaram roubar seu veículo. Ele reagiu e atirou contra os suspeitos, que fugiram, abandonando uma das motos.
Ele foi autuado por homicídio culposo, pagou fiança de R$ 6.500 e responderá em liberdade.
Uma testemunha que estava próxima ao PM contou que viu quando ele atirou em Guilherme, que se aproximava de uma motocicleta que estava caída no chão, depois de ter sido abandonada por um dos criminosos. Ainda segundo essa testemunha, o agente atirou afirmando que tinha certeza que Guilherme estava no assalto.
Durante a ocorrência, um colega de trabalho de Guilherme, identificado como Deillan Ezian da Silva Oliveira, 21, foi preso sob suspeita de participar da tentativa de assalto. Assim como Guilherme, ele também saía do trabalho naquele momento.
Ele foi levado à delegacia e liberado depois de afirmar que estava a caminho do ponto de ônibus, usando fones de ouvido. Ele contou que não viu o PM atirando nem os criminosos em motos.
Deillan afirmou que não sabia que o colega havia sido atingido pelo policial.
Uma mulher que estava no ponto de ônibus também foi atingida e socorrida. Não há informações sobre o estado de saúde dela.
O caso é investigado pelo DHPP, e a PM acompanha o inquérito.
Fonte ==> Folha SP