PM que matou homem negro é afastado do trabalho em SP – 07/07/2025 – Cotidiano

Um homem negro está posando em frente a um mural colorido que apresenta uma onça e vegetação tropical. Ele está vestido com um terno claro e uma gravata rosa, com os braços cruzados e um sorriso confiante. O fundo é vibrante, com tons de verde e detalhes da fauna.

O policial militar Fabio Anderson Pereira de Almeida, 35, apontado como responsável por matar Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, na noite de sexta-feira (4), na estrada Ecoturística de Parelheiros, na zona sul de São Paulo, fará companhia no trabalho administrativo a outros dois PMs do mesmo batalhão afastados após a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, em novembro passado.

Os três atuam na 2ª Companhia do 12° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, com sede na Vila Mariana, na capital.

Os casos, porém, guardam diferenças e semelhanças. Almeida estava de folga, enquanto os outros soldados estavam em serviço. Por outro lado, em ambos os casos os delegados do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) entenderam que não havia a necessidade de manter os PMs presos.

O afastamento de Almeida foi confirmado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) por meio de nota.

Os soldados Guilherme Augusto Macedo e Bruno Prado respondem pela morte de Acosta em liberdade, após o Ministério Público pedir as detenções e a Justiça negar. Uma primeira audiência está marcada para quinta-feira (10). O jovem foi baleado após dar um tapa no retrovisor da viatura e correr para um hotel. Nesse caso, uma delegada é alvo de investigação da Corregedoria da Polícia Civil pela ausência de fundamentação da não prisão em flagrante de Macedo, autor do tiro.

Já no caso deste fim de semana, Guilherme Ferreira, que trabalhava em uma empresa de fabricação de móveis, havia acabado de deixar e a fábrica por volta das 22h30 de sexta e seguia para um ponto de ônibus, quando foi baleado na cabeça por Almeida, que o teria confundido com um ladrão.

O cabo Almeida, na PM desde 2011, preferiu se manter calado no DHPP, conforme ele, por orientação de seu advogado. A reportagem procurou a defesa do PM, que respondeu, que, por ora, não iria se manifestar.

Almeida, no entanto, teria relatado para colegas de farda ainda no local a sua versão sobre o ocorrido. Um PM contou para policiais civis ter ouvido de Almeida que ele foi abordado por criminosos em diversas motocicletas ao parar em um semáforo.

Os bandidos estariam armados e teriam anunciado o roubo. Temendo por sua vida, pelo fato de ser policial militar, o cabo teria dito que conseguiu sacar sua arma e disparar, não sabendo se atingiu alguém.

Os criminosos teriam fugido e deixado para trás uma moto Honda CBX 250 Twister de cor azul. Ainda de acordo com a narrativa do policial militar que apresentou a ocorrência, Almeida contou que foi surpreendido com o retorno de indivíduos a pé, provavelmente no intuito de pegar a motocicleta que ali havia sido deixada.

Foi neste momento que Almeida atirou e matou Ferreira, que nada tinha a ver com a tentativa de assalto.

Outras duas pessoas sem relação com o crime também foram vitimadas. Uma mulher foi baleada e socorrida por terceiros ao hospital. E um outro homem, colega de trabalho de Ferreira e que também caminhava até o ponto de ônibus, foi detido suspeito de ter participado do assalto. Na delegacia, diante da absoluta falta de provas, foi solto.

Em depoimento, uma testemunha disse ter sido vítima do mesmo grupo de ladrões. Ela teria conseguido escapar depois da intervenção do policial.

O delegado Kaue Danillo Granatta, do DHPP, classificou a morte de Ferreira como homicídio culposo, ou seja, sem intenção.

“Os elementos apurados e o cenário encontrado no atendimento de local de crime, no entanto, indicam que Guilherme não seria um dos criminosos e se aproximava com relativa pressa para se dirigir ao ponto de ônibus, situado cerca de 50 metros do local onde foi atingido”, escreveu o delegado.

Granatta estipulou uma fiança de R$ 6.500 , que foi paga.


Linha do tempo da morte de Guilherme

4.jul.25 – 22h28 – Guilherme Dias Santos Ferreira, 26, registra saída no relógio-ponto da empresa Dream Box e caminha até o ponto de ônibus. Deillan Ezlan da Silva Oliveira, 21, também funcionário, bate o ponto em horário próximo;

– 22h35 – O policial militar de folga Fábio Anderson Pereira de Almeida, 35, passava pela região em sua moto Triumph Scrambler 400x verde, quando cinco motociclistas armados o cercam e anunciam roubo;

Fábio reage a tiros, e o grupo foge abandonando na via uma Honda CBX 250;

Guilherme surge correndo rumo ao ponto de ônibus, segundo amigos, para não perder a condução. Fábio o vê e dispara, segundo boletim de ocorrência, acreditando se tratar de um dos envolvidos na tentativa de assalto que estaria voltando à cena do crime. Guilherme morre a cerca de 50 metros do ponto;

Uma mulher também é atingida pelos tiros e é socorrida por terceiros;

Deillan, que também caminhava em direção ao ponto de ônibus, é detido como suspeito de participar do roubo. Acabou liberado na delegacia;

5.jul.25 – 4h38 – Perícia chega ao local do crime

Com Guilherme foram encontrados carteira, celular, chaves, livro, remédios, itens de higiene, uma bolsa térmica e uma marmita com talheres;

Um funcionário da Dream Box se apresenta e mostra vídeos e fotos de WhatsApp que apontam que Guilherme e Deillan tinham saído do trabalho às 22h28 e, portanto, não tinham ligação com o roubo;

14h52 – Fábio é autuado em flagrante por homicídio culposo, paga fiança de R$ 6.500 e é liberado;

Fonte: Boletim de ocorrência



Fonte ==> Folha SP

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