No Brasil, a advocacia vive um dilema: é proibido fazer propaganda, mas é preciso ganhar visibilidade. Como o profissional do Direito pode se destacar sem infringir o Código de Ética? A resposta está justamente na escrita, à ferramenta mais ética e poderosa de que a advocacia dispõe.
Cada vez mais, advogados têm recorrido a artigos, colunas e textos de opinião para demonstrar conhecimento e construir autoridade. Escrever tornou-se uma ferramenta legítima de posicionamento no mercado e não apenas uma atividade acadêmica. A OAB, inclusive, permite esse tipo de conteúdo informativo, desde que não tenha caráter publicitário. O limite é claro: vender serviço, não; compartilhar conhecimento, sim.
O problema é que a formação jurídica ainda ignora essa dimensão. Nas faculdades, a produção escrita muitas vezes se resume ao TCC, que mal recebe leitura crítica e acaba arquivado. Resultado? Pouca prática, pouca autoria e escassa presença nos espaços públicos de debate.
O preço dessa ausência é alto. Quem não escreve, não aparece. Em tempos de reputação digital, não escrever é desaparecer. A ausência de conteúdo é também ausência no mercado.
Grandes escritórios já entenderam isso e investem pesado em marketing de conteúdo. Mas a boa notícia é que essa estratégia não depende de uma estrutura robusta. Há casos de advogados a solo que, com um único artigo bem escrito em sites acessíveis ao público, conseguiram convites para eventos, entrevistas e até parcerias, tudo dentro da legalidade.
Por muito tempo, achou-se que publicar em revistas jurídicas ou canais da OAB era o caminho para se destacar. Mas esses espaços seguem restritos e voltados à própria classe, não ao cliente, que continua fora do alcance dessa visibilidade.
Infelizmente, no Brasil, a classe dos advogados ainda não entendeu que o cliente está, literalmente, na palma da mão. Ou melhor: nos celulares, tablets e demais telas digitais. Escrever é mais do que produzir conteúdo: é existir.
Enquanto a advocacia continuar falando apenas para si, seguirá invisível para quem realmente precisa dela, o cidadão.