Reaprender a sonhar

Reaprender a sonhar

Há dias em que a vida parece um jogo de tabuleiro desmontado: peças perdidas, regras improvisadas, e um dado que teima em cair sempre no mesmo número. Foi pensando nisso que me lembrei daquela música antiga “Brincar de Viver”, de Guilherme Arantes, aquela que fala de girar, pular, dançar, como se o mundo fosse um parque de diversões abandonado, mas ainda cheio de graça.

Arantes tinha razão: a gente “vira criança” quando se permite esquecer, por um minuto, que crescer é obrigatório. Vejo isso no senhor carrancudo que, preso no trânsito, faz caretas na janela para o menino no carro ao lado e ambos sorriem. Ou na mulher que, ao fechar a loja, dá uma pirueta discreta no meio da calçada vazia, só para sentir o vento. São fugazes, esses momentos em que a vida vira um “carrossel de origamis”, mesmo que o ‘ingresso’ custe horas de trabalho, contas e o ônibus lotado.

Mas eis o detalhe irônico: a música fala de “brincar”, e nós, adultos, transformamos até isso em meta. “Preciso me divertir mais!”, anotamos na lista entre “pagar o IPTU” e “marcar terapia”. Compramos tênis coloridos, matrículas em aulas de dança, viagens relâmpago para postar fotos no Instagram; tudo muito planejado, muito “adulto”.

Perdemos a espontaneidade do brincar que não precisa de plateia. Talvez a verdadeira arte seja “voltar atrás e recomeçar” sem medo do ridículo. Que sobrevivam os pequenos absurdos: o guardanapo que vira avião, a caminhada que vira sapateado, o bilhete anônimo deixado no elevador: “Sorria, você está sendo filmado pelo amanhã.”

No fim, a crônica da vida se escreve assim: entre tropeços e risadas, lembrando que, mesmo quando o jogo aperta, sempre resta a chance de ‘girar’. Afinal, “a história não tem fim” e “continua sempre que você responde sim à sua imaginação”.



Fonte ==> Bahia Notícias

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