Religião deve ser ensinada desde cedo? Estudo diz que sim – 27/06/2025 – Cotidiano

A imagem mostra uma grande multidão reunida em um evento ao ar livre, com pessoas de várias idades e estilos. No centro, há um caminhão de som decorado com balões coloridos, onde estão duas pessoas em cima, possivelmente se apresentando. Ao fundo, é possível ver uma cidade com prédios altos e árvores ao redor. O céu está claro e ensolarado, e algumas pessoas estão usando guarda-sóis.

Qual o lugar da religiosidade para crianças e adolescentes brasileiros? Suas crenças os tornam mais felizes? Os pais ajudam ou atrapalham a vida dos filhos com a instrução religiosa?

Estas questões têm sido investigadas pelo Nupes (Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde), da Universidade Federal de Juiz de Fora. Uma das pesquisadoras, a psicóloga Vivian Hagen, recebeu destaque no maior centro de pesquisas em espiritualidade, a Duke University.

Ao comparar as respostas sobre espiritualidade com a escala de felicidade, seu estudo encontrou uma associação consistente e robusta entre ambas. Independentemente da confissão, quem se considera religioso tem 80% mais chance de se considerar feliz do que quem não se considera religioso.

Isso, no entanto, não quer dizer que o não religioso é infeliz. “Tivemos um score positivo para felicidade, pois investigamos uma amostra de crianças saudáveis. A divisão da escala foi em ‘feliz’ e ‘menos feliz'”, explicou a pesquisadora.

Em sua conclusão, Vivian Hagen aponta consequências para os profissionais de ajuda:

“Se a religiosidade e a espiritualidade são importantes para tantas pessoas, por que ignorar ou evitar essa abordagem justamente em contextos tão sensíveis como clínicas, hospitais, consultórios e escolas? Ao contrário, acredito que precisamos estar treinados para tratar do tema com ética, respeito e sensibilidade. Isso significa, acima de tudo, centrar nossa escuta e atuação nas crenças, valores e demandas de cada paciente, sempre com cuidado e responsabilidade, evitando o proselitismo.”

Como a pesquisa foi feita

Vivian aplicou questionários, validados internacionalmente, em 277 alunos de 10 e 11 anos de escolas públicas e privadas, sobre práticas de religião e espiritualidade. Depois, os alunos preencheram uma escala que avalia o grau de felicidade. Os pais das crianças também responderam questionários padronizados sobre a experiência religiosa dos filhos e suas relações com a felicidade. A maioria se declarou católico (56,8%) seguida de evangélicos (25,85%) e espíritas (11,6%). Apenas dez alunos (3,6%) declararam não ter religião. As meninas totalizaram 50,7% da amostra, e 56,7% do total se declarou branco.

A pesquisa se concentrou em experiências espirituais diárias, valores e crenças de religiosidade/espiritualidade. As respostas dos alunos surpreenderam: mais de dois terços (68%) “concordaram fortemente” e 29,4% “concordaram” com a afirmação “Eu acredito em um Deus que cuida de mim”; 67,9% indicaram que eram moderadamente ou muito religiosos; e 88,7% consideraram que religião e espiritualidade eram importantes para eles. Todos os pré-adolescentes, exceto um, descreveram Deus positivamente, principalmente como criador/pai (71%) e protetor/cuidador/guia (56%). As respostas não variaram de acordo com as diferentes crenças representadas.

Os 11 pré-adolescentes (4%) que disseram nunca sentir a presença de Deus “tiveram 93% (ou 14 vezes) menos chance de entrar no grupo que se considera feliz”. A frequência religiosa também foi associada à felicidade: os 210 pré-adolescentes (77%) que participam de serviços religiosos têm 70% mais chance de se considerar feliz.

Os resultados, com revisão por pares, foram publicados no International Journal of Latin American Religion, em coautoria com a professora Mary Lynn Dell, atual coordenadora da Seção de Espiritualidade da Associação Psiquiátrica Americana e professora de psiquiatria e neurociências do comportamento na Universidade da Virginia, nos EUA. A pesquisa de Vivian não está sozinha nos resultados que associam espiritualidade e felicidade. Como ela informa em seus artigos, há outros trabalhos semelhantes, com populações mais amplas.

O título da dissertação de Vivian é “Religiosidade, Espiritualidade e Felicidade na Infância e Adolescência“. Ela foi defendida em 2019, dentro do programa de pós-graduação em saúde brasileira, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Por que médicos evitam falar sobre espiritualidade?

Diante disso, pode-se perguntar: onde estão os traumatizados pela religião na infância, tão frequentes nos consultórios de Freud e outros pioneiros? Será que a forma de viver a espiritualidade na atualidade está menos ligada à angústia e mais ao amor? Será uma combinação desse fator de realidade com a capacidade dos pré-adolescentes de depurar as influências recebidas?

Em um programa da TV Nupes, a autora e seus orientadores, Alexander Moreira-Almeida e Márcia Favero de Souza, debatem a necessidade de a história espiritual ser mais abordada pelos profissionais que cuidam das famílias. Com isso, é possível descobrir os recursos espirituais presentes e também ajudar a lidar com crenças negativas e culpabilizantes.

O lugar da religiosidade na infância foi um dos temas debatidos por Freud e seu amigo psicanalista e pastor Oskar Pfister. Este defendeu, junto ao criador da psicanálise, a ideia de que a religiosidade pode fazer bem à criança, ampliando seus horizontes e estimulando sua curiosidade. Isso, desde que seja uma religiosidade amorosa e aberta ao livre pensar (“O Futuro de uma Ilusão”, Vozes). Será essa a vivência dos pré-adolescentes pesquisados por Vivian?



Fonte ==> Folha SP

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