Ele defendeu a reforma do Conselho de Segurança como fundamental para a democratização exclusivamente por meio da ampliação da representação da Ásia, da África e da América Latina.
“Apoiamos as candidaturas do Brasil e da Índia a assentos permanentes no Conselho, juntamente com a correção da injustiça histórica em relação à África, em parâmetros definidos pelos próprios países africanos”, disse ele.
“Esperamos uma discussão construtiva sobre o desenvolvimento da Organização durante a sessão especial do Conselho de Segurança que a Rússia, como presidente, planeja organizar no Dia da ONU, 24 de outubro deste ano”.
A reforma da ONU é apenas uma parte da tarefa mais ampla de transformar todo o sistema de governança global, frisou ele, incluindo a verdadeira democratização do FMI, do Banco Mundial e da OMC, proporcional ao peso e papel do Sul e do Leste Global nas economias, comércio e finanças mundiais.
Ele também afirmou que a Rússia permanece aberta a negociações para abordar as causas profundas do conflito ucraniano e que o presidente Vladimir Putin vem afirmando tal disponibilidade desde o início.
Garantir os interesses da Rússia e os direitos dos russos nos territórios controlados por Kiev é a base para negociações sobre garantias de segurança para a Ucrânia”.
Os povos da África e da Ásia se recusaram a viver sob o jugo dos colonizadores, assim como, após o golpe de 2014 na Ucrânia, a Crimeia, Donbass e Novorossiya se recusaram a se submeter ao poder ilegalmente tomado pelo regime neonazista de Kiev, pontuou Lavrov.
A Rússia não tem planos de atacar os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), reafirmou ele, “mas qualquer agressão será recebida com uma resposta decisiva”, declarou Lavrov.
“A OTAN já está espremida na Europa e agora se projeta no Oceano Pacífico, no mar do Sul da China, no Estreito de Taiwan — minando os mecanismos universais da ASEAN e criando ameaças não apenas à China e à Rússia, mas também a outros países da região”.
“A Rússia está sendo acusada de estar prestes a planejar um ataque contra a Aliança do Atlântico Norte e os países da União Europeia. O presidente Putin tem repetidamente desacreditado essas provocações”, disse Lavrov.
Lavrov, que está no cargo, disse que Moscou está alarmada com comentários de alguns políticos nas capitais da UE e da OTAN de que uma iminente Terceira Guerra Mundial é um “cenário provável”.
“Esses números estão minando qualquer esforço para encontrar um equilíbrio justo de interesses entre todos os membros da comunidade internacional ao tentar impor suas abordagens unilaterais a todos os outros”, declarou ele.
“Este regime não só falhou em representar os interesses de sua população, como também desencadeou uma guerra contra ela. Nem os colonizadores nem o regime de Kiev tiveram qualquer consentimento dos povos que pretendiam governar”As tragédias das bombas da OTAN na Iugoslávia, da invasão do Iraque e da operação da OTAN na Líbia são exemplos claros. Hoje, o uso ilegal da força por Israel contra os palestinos, bem como ações agressivas contra o Irã, Catar, Iémen, Líbano, Síria e Iraque ameaçam mergulhar todo o Oriente Médio no caos.
Sanções contra Cuba e Venezuela
Lavrov também reafirmou que a Rússia defende o fim do bloqueio a Cuba e expressa apoio à Venezuela.
Ele se disse muito alarmado com o reforço naval dos EUA em águas internacionais ao redor da Venezuela, “a situação é muito grave”, comentou.
“Nada justifica o castigo coletivo ao povo de Gaza, onde crianças morrem sob bombas e de fome, hospitais e escolas são destruídos, e centenas de milhares perdem seus lares. Nada justifica os planos de anexar a Cisjordânia. Trata-se, de fato, de uma tentativa de golpe para enterrar as resoluções da ONU sobre a criação do Estado da Palestina”, disse ele.
Após o discurso, Lavrov deu uma coletiva à imprensa internacional e respondeu uma série de perguntas de jornalistas. Dentre elas, que a Rússia nunca direcionou drones ou mísseis para países localizados na Europa, membros da União Europeia ou países da Aliança do Atlântico Norte.
E garantiu que os países que tentarem abater qualquer objeto no espaço aéreo russo se “arrependerão disso”.
Ao comentar sobre o Irã, ele disse que a essência do mecanismo de sanções de retorno rápido da Resolução 2231 da ONU é “manter o Irã constantemente sob controle.
“Esse chamado mecanismo de retorno não é característico de nenhum outro regime de sanções e, em essência, permitiu que qualquer país submetesse uma resolução à votação para estender o regime de suspensão das sanções. E mesmo um único país com poder de veto poderia bloquear tal resolução, o que significaria que não haveria prorrogação do período de suspensão das sanções”, disse ele durante a coletiva. “Ele foi formulado com o único propósito de manter nossos colegas iranianos sob pressão constante e impedi-los de dar um único passo para a esquerda ou para a direita”, concluiu o ministro.
EUA e Rússia
A terceira rodada de Lavrov também reafirmou que a Rússia defende o fim do bloqueio a Cubaconsultas entre Rússia e EUA sobre irritantes bilaterais ocorrerá em breve, declarou Lavrov.
“Agradecemos que o governo [do presidente dos EUA, Donald] Trump tenha proposto retomar nosso diálogo desde o início, e nós o retomamos. Estabelecemos imediatamente em fevereiro, durante uma reunião com [o secretário dos EUA] Marco Rubio e, posteriormente, em uma ligação telefônica entre os presidentes [da Rússia, Vladimir] Putin e Trump, que reconhecemos a existência de interesses nacionais para a Rússia, os EUA e outros países”.
Ele também acrescentou que, durante sua última reunião com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, foi constatado o desejo de avançar em projetos nos quais os interesses de ambas as nações coincidem.
A Europa, por sua vez, transformou a diplomacia em um processo de cortejar os responsáveis em Washington, com o objetivo de continuar seguindo “o caminho de Biden”, lamentou Lavrov.
Fonte ==> Ba.gov