Um empresário foi agredido pelo segurança de uma adega em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, e abandonado na calçada por cerca de duas horas sem socorro. Ele chegou a ser levado a um hospital, mas morreu quatro dias depois.
Paulo Vinicius dos Santos, 35, havia ido com um grupo de amigos a uma choperia na noite de domingo (19). Depois que todos foram embora, ele seguiu para a adega Imperium, que fica na mesma rua, no Jardim Barbosa.
Já na madrugada de segunda-feira (20), por volta de 2h35, imagens de câmera de monitoramento mostram que ele estava na porta da adega e parece discutir com um homem, que lhe dá um soco no rosto. Ele cai desmaiado, com parte do corpo na calçada e parte entre veículos que estavam estacionados.
“Eu acredito que ele estava lá dentro e saiu para se despedir e depois tentou retornar para o local. E o segurança deve ter barrado ele”, contou a irmã de Vinícius, Caroline Martins dos Santos, ao Fantástico, da TV Globo.
O homem que agrediu o empresário foi identificado como David Ferreira, 45, segurança da adega. Ele teve a prisão temporária decretada e foi preso na manhã desta segunda-feira (27), em Arujá, na Grande São Paulo.
As imagens mostram que dez minutos após a agressão, o empresário continuava imóvel, caído em frente à adega. Então, o segurança e outro homem carregaram a vítima até um estacionamento ao lado, em local difícil de ser visto.
“Eles foram ainda mais cruéis. Tiraram ele do local e jogaram ele num local um pouco mais escondido. Impedindo que outra pessoa passasse e pudesse socorrê-lo ali. E além disso, tiraram os documentos dele. Impedindo que ele fosse identificado, que ele pudesse ser socorrido. Porque ali tinha a carteirinha do convênio de saúde dele”, afirmou a irmã.
Às 3h09, o empresário começa a se mexer, e depois de um tempo, aparece novamente deitado na calçada próximo a adega. Um grupo que deixava o local por volta das 4h o viu, percebeu que Vinicius estava ferido, e chamou socorro.
Imagens mostram que diversas pessoas saíram da adega, inclusive o segurança que o agrediu.
Segundo Caroline, o segurança teria se mostrado incomodado com os jovens que chamaram socorro para Vinícius. Somente por volta das 4h30, duas horas após a agressão, o empresário foi socorrido por agentes do Corpo de Bombeiros.
Ele estava sem os documentos e foi levado para o Hospital de Guarulhos, onde foi internado como desconhecido.
Na segunda (20) de manhã, um amigo ligou para Vinicius e uma enfermeira atendeu a ligação e explicou que ele estava internado, com traumatismo craniano, e sem identificação. Só então, a família foi avisada e o transferiu para um hospital particular, porém seu estado de saúde se agravou e ele morreu na sexta-feira (24).
O boletim de ocorrência foi registrado apenas na quinta-feira (23) depois de a família conseguir acesso às imagens da agressão.
A Justiça decretou a prisão temporária do segurança e expediu também mandado de busca e apreensão contra ele.
“Hoje [nesta segunda] pela manhã cumprimos o mandado de busca e apreensão na residência dele, no entanto, recebemos a informação de que ele se evadiu logo após do crime”, disse à imprensa o delegado Halisson Ideião, do 1º DP de Guarulhos, responsável pela investigação.
Horas depois, ele foi detido na cidade de Arujá.
“Até o momento conseguimos identificar a pessoa que desferiu o soco. Existem outras pessoas ali, uma que ajuda a carregar a vítima, outras pessoas ali que parecem ter se omitido, não prestaram socorro, não ligaram para o socorro para tentar ajudar aquela vítima. Então, todo mundo que estava ali, participou de alguma forma e terá de ser verificada a sua responsabilização ou não diante dos fatos”, declarou o delegado.
A reportagem tentou contato com a adega por ligação e mensagem na manhã desta segunda-feira (27), mas não houve resposta até a publicação deste texto. A defesa de David Ferreira também não foi localizada até a publicação deste texto.
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), assim que tomou conhecimento do caso, o delegado determinou a análise das imagens de câmeras de segurança que registraram o ocorrido e iniciou diligências para identificar os envolvidos. O inquérito segue em andamento, para o devido esclarecimento dos fatos.
Os advogados Luis Gabriel Vieira e Gabriel Constantino, que representam a família do empresário, disseram que ele era um pilar da família, que está devastada. Segundo os defensores, Vinicius era brincalhão, da paz, e que não se envolvia em confusão. Eles afirmam que vão lutar para que o segurança seja punido com o rigor da lei e que a família receba indenização material pelo crime.
“A banca constituída e os familiares da vítima lamentam profundamente o ocorrido e repudiam, de forma veemente, o ato covarde e injustificável que culminou nesse trágico desfecho. Reiteram, ainda, que não pouparão esforços para que a apuração dos fatos ocorra de maneira célere, rigorosa e transparente, assegurando a devida responsabilização de todos os envolvidos neste triste e lamentável episódio”, traz trecho de nota da defesa.
Vinicius deixou um filho de 14 anos e uma filha de 7.
Fonte ==> Folha SP
