Tarifas: Empresas pedem isenção após Trump poupar iPhones – 22/04/2025 – Mercado

A imagem mostra uma seção de um supermercado, onde há um grande display com a frase

Quando as pesadas tarifas do presidente Donald Trump ameaçaram fazer o preço dos iPhones disparar, o CEO da Apple, Tim Cook, telefonou para a Casa Branca —e logo garantiu um alívio para sua empresa e para o setor de eletrônicos em geral.

Quase imediatamente, os principais assessores de Trump insistiram que não haviam desviado de sua promessa de aplicar impostos de importação em toda a economia com exceções mínimas, se é que haveria alguma. Ainda assim, a isenção chamou a atenção de muitas empresas nos Estados Unidos, desencadeando uma nova corrida por ajuda semelhante em meio a guerra comercial global.

Os principais grupos de lobby dos setores de agricultura, construção, manufatura, varejo e tecnologia têm implorado à Casa Branca nos últimos dias para relaxar tarifas. Muitos deles argumentam que existem alguns produtos que eles precisam importar simplesmente porque são muito caros ou impossíveis de produzir nos EUA.

Na segunda-feira (21), executivos de varejistas, incluindo Home Depot, Target e Walmart, levaram suas preocupações diretamente ao presidente, enquanto o setor continua se preparando para a possibilidade de que impostos elevados sobre importações aumentem preços para milhões de consumidores americanos.

“Tivemos uma reunião produtiva com o presidente Trump e nossos colegas do varejo para discutir o caminho a seguir sobre o comércio, e continuamos comprometidos em oferecer valor para os consumidores americanos”, disse um porta-voz da Target, Jim Joice, em um comunicado.

Doug McMillon, CEO do Walmart, já reconheceu anteriormente as muitas “variáveis” em torno das tarifas de Trump e dos preços no varejo. Um porta-voz do Walmart confirmou a reunião de segunda, descrevendo a conversa em um comunicado como “produtiva”. Outras empresas não responderam aos pedidos de comentário.

“A janela para acordos pode estar aberta”, disse David French, vice-presidente executivo de relações governamentais da Federação Nacional de Varejo, em uma entrevista na semana passada. Ele disse que o setor buscou uma reunião com Trump e sua equipe para argumentar que “o consumidor está em alerta máximo para o que teme estar a caminho em termos de aumento de preços”.

Muitas empresas dizem que querem atender às exigências do presidente e começar a produzir ou comprar mais produtos domesticamente, mas também tentaram ressaltar para Trump e seus assessores que não podem reconfigurar suas complicadas cadeias de suprimentos globais da noite para o dia, especialmente se impostos elevados sobre máquinas e outros componentes críticos aumentarem custos de fabricação.

“Estamos pedindo à administração que defina insumos específicos de fabricação de que precisamos, especificamente para fazer as coisas na América”, disse Charles Crain, vice-presidente de política da Associação Nacional de Fabricantes, cujo conselho de administração inclui executivos da Caterpillar, Dow Inc., Pfizer e Toyota.

Kip Eideberg, vice-presidente sênior de relações governamentais da Associação de Fabricantes de Equipamentos, disse que seu grupo “argumentou para a administração que, se eles querem alcançar seu objetivo declarado de fortalecer a manufatura dos EUA e reforçar nossa competitividade global, então precisa haver alívio”.

Sua associação, que representa uma ampla gama de empresas de equipamentos agrícolas e de construção, pediu uma “abordagem geral, sem tarifas para peças e componentes que são críticos e não podem ser obtidos em escala em nenhum outro lugar”.

Agora totalmente envolvido em uma guerra comercial global, Trump tem enviado mensagens contraditórias sobre o que ele descreveu como uma estratégia tarifária “flexível”.

Na semana passada, o presidente reconheceu que havia “ajudado” a Apple a pedido de Cook, poupando os iPhones da nova tarifa americana de aproximadamente 145% que atualmente se aplica às importações chinesas. Falando a repórteres no Salão Oval, o presidente disse: “Não quero prejudicar ninguém”.

Mas, depois, a administração Trump tomou as primeiras medidas formais de tarifas específicas sobre semicondutores, os chips de memória que alimentam iPhones e outros dispositivos de computação, bem como as máquinas que ajudam a fabricar esses produtos. A medida sugeriu que qualquer alívio para a Apple pode, no fim das contas, durar pouco.

Trump sugeriu no mesmo dia que poderia estender ajuda semelhante às montadoras, que agora sofrem tarifa de 25% sobre carros e autopeças importados para os EUA. O presidente reconheceu que o setor precisaria “de um pouco de tempo” para começar a fabricar veículos e componentes nos EUA, em comentários que imediatamente fizeram os preços das ações das montadoras dispararem.

Nenhum alívio desse tipo foi anunciado, mas os assessores do presidente se mostraram dispostos em conversas privadas a discutir isenções tarifárias. Em algumas ocasiões no último mês, funcionários do Conselho de Política Doméstica e de outros órgãos do governo pediram a grupos empresariais que fornecessem listas de materiais e maquinário que não podem ser fabricados rápida e facilmente nos EUA, segundo duas pessoas familiarizadas, que pediram anonimato para falar sobre as discussões.

“A administração mantém contato regular com líderes empresariais, grupos industriais e americanos comuns sobre nossas políticas comerciais e econômicas”, disse Kush Desai, porta-voz da Casa Branca, em um comunicado. “O presidente Trump, no entanto, tem sido claro: se você está preocupado com tarifas, a solução é simples. Faça seu produto na América.”

Por enquanto, a administração tem se concentrado principalmente em negociar uma série de acordos comerciais bilaterais com dezenas de países que, para Trump, estão envolvidos em práticas comerciais injustas, como a imposição de tarifas e outras restrições a produtos americanos.

Este mês, Trump anunciou tarifas pesadas sobre quase todos os parceiros comerciais dos EUA, incluindo Índia, Itália, Japão, Coreia do Sul, Vietnã e União Europeia, antes de pausar essas taxas por 90 dias para se engajar em negociações.

Na segunda, o vice-presidente J.D. Vance se reuniu na Índia com o primeiro-ministro do país, Narendra Modi, enquanto a Casa Branca corre para tentar fechar “90 acordos em 90 dias”, como disseram alguns assessores. Sem um acordo, a Índia poderia enfrentar uma tarifa “recíproca” de 26%.

Mesmo sem nenhum acordo comercial em mãos, Trump destacou sua abordagem como um sucesso, gabando-se de que suas políticas ajudaram a atrair trilhões de dólares em investimentos privados de empresas como Apple, OpenAI e Nvidia.

“Desde nosso anúncio do DIA DA LIBERTAÇÃO, muitos líderes mundiais e executivos de negócios vieram até mim pedindo alívio das tarifas”, postou o presidente no Truth Social no domingo (20). “É bom ver que o mundo sabe que estamos falando sério, porque ESTAMOS!”

Trump acrescentou: “Mas para aqueles que querem o caminho mais fácil: venham para a América e construam na América!”

Mas a realidade é mais complicada. Indicadores iniciais sugerem que algumas empresas realmente desaceleraram gastos por preocupação de que as tarifas elevem os preços de insumos. Uma pesquisa do Fed (Federal Reserve) de Nova York, divulgada em abril, descobriu que a atividade de manufatura na região havia diminuído pelo segundo mês consecutivo, com as empresas dizendo que esperavam “que as condições piorassem nos próximos meses”.

Alguns grupos empresariais ecoaram esses temores, alertando a Casa Branca de que as empresas americanas podem não ser capazes de cumprir suas próprias metas de investimento doméstico se a economia piorar. Essas empresas podem não conseguir criar novas fábricas e empregos, como prometeram, sem mercados financeiros estáveis, mão de obra disponível e acesso a matérias-primas e maquinário —insumos que podem se tornar mais caros devido às recentes tarifas.

“Do nosso ponto de vista, o objetivo da administração Trump é claro: entrar em acordos comerciais, e eles estão se movendo em um ritmo acelerado”, disse Jason Oxman, presidente do Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação, cujos membros incluem Apple e Nvidia.

“Mas a questão para as empresas que buscam investir nos Estados Unidos é por quanto tempo suas despesas operacionais serão mais altas devido ao regime tarifário, o que pode reduzir o investimento disponível para despesas de capital”, acrescentou Oxman, ressalvando que não estava falando em nome desses gigantes da tecnologia.

A administração isentou alguns metais, incluindo cobre e zinco, bem como minerais de terras raras das tarifas recíprocas anunciadas e posteriormente suspensas no início de abril.

Mas muitos especialistas em comércio disseram que quaisquer isenções podem ser apenas temporárias. Assim como fez para semicondutores, o governo abriu uma investigação para determinar se as importações de madeira representam uma ameaça à segurança nacional, um precursor para Washington emitir tarifas específicas para o setor sob uma disposição legal conhecida como Seção 232.

Isso refletiu uma escolha estratégica da Casa Branca “para dar às empresas tempo para relocar sua produção de volta aos EUA e aumentar a capacidade e produção nos EUA o suficiente para atender à demanda”, disse Nick Iacovella, vice-presidente executivo da Coalizão para uma América Próspera, um grupo de defesa que apoia as políticas comerciais do presidente.

“Sempre haverá empresas que vão querer isenções”, continuou Iacovella, acrescentando que a administração deveria resistir a esses apelos porque eles ameaçam “minar” os objetivos de Trump.



Fonte ==> Folha SP

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