Trânsito na COP30: Belém aposta em novas vias e ‘geladões’ – 02/05/2025 – Ambiente

A imagem mostra um cenário urbano com tráfego de veículos. Há vários carros na pista, incluindo um carro branco em destaque à frente. Ao fundo, é possível ver prédios altos e uma construção cercada por uma parede de proteção com anúncios. O céu está parcialmente nublado, indicando que é um momento do dia com luz natural.

“Em Belém, nós temos congestionamento do entroncamento [entrada da cidade] até o Ver-o-Peso [região central], praticamente a cidade toda”, diz Elias, motorista de Uber, em meio a um engarrafamento na avenida Marquês de Herval a caminho do Hangar Centro de Convenções da Amazônia.

Junto com o Parque da Cidade, esse será um dos locais da COP30, conferência climática global que ocorrerá em novembro na capital paraense. “Normalmente, este nosso trajeto duraria 10 minutos [partindo do bairro do Reduto, no centro] e levamos 30 minutos”, descreve.

Elias, que trabalha há mais de 30 anos como motorista, aponta as obras da COP30, espalhadas pela cidade, como um dos motivos para os congestionamentos.

“Mas não é só isso, houve uma piora do trânsito nos últimos anos”, diz ele, que não quis informar seu sobrenome por receio de infringir a política da plataforma de transporte.

Essa percepção é corroborada por Luciano de Oliveira, titular da Segbel (Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade de Belém). “Na última década, a frota de veículos mais que duplicou, e os espaços continuam os mesmos. Houve a popularização do acesso ao carro próprio. A gente vê o congestionamento gerado por isso. Vejo mais como uma questão estrutural do que operacional”, diz.

O titular da Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística), Adler Silveira, acrescenta que “Belém é uma cidade antiga, com vias estreitas, principalmente no centro, que não comportam a quantidade atual de veículos”.

Segundo o Detran-PA, com dados de 2024, Belém tem uma frota de 556.577 veículos. A cidade possui cerca de 1,3 milhão de habitantes, de acordo com o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para a engenheira civil Patrícia Bittencourt, diretora regional da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) em Belém, o principal problema do trânsito na cidade é a deficiência do transporte público.

“Se fosse de qualidade e eficiente, as pessoas o utilizariam, e isso reduziria muito a quantidade de veículos”, analisa ela, que também é professora da UFPA (Universidade Federal do Pará).

Em 12 de abril, o governo do estado, em parceria com a prefeitura e o Sindicato das Empresas de Transporte de Belém, entregou 300 novos ônibus, equipados com ar-condicionado, wifi e câmeras de segurança, apelidados de “geladões”, que já estão circulando pela cidade.

Para a auxiliar administrativo Dicelma Fialho, que pega dois ônibus para chegar ao trabalho, “a aquisição foi positiva, principalmente para quem mora mais distante”. Porém, ela ainda não subiu em um “geladão”. “Como fica todo fechado por causa do ar-condicionado, tenho receio de contrair alguma virose ou mpox, pois já houve até morte aqui em Belém.”

Para além dos “geladões”, ela considera o transporte público em Belém “péssimo”. “Os ônibus são imundos, velhos, sucateados. Às vezes chove mais dentro do que fora”, desabafa.

Oliveira afirma que o plano é substituir toda a frota. “A ideia é que a gente chegue a uma idade média aceitável dos veículos, de três anos”, diz. Antes da entrega dos 300 novos ônibus, a idade média dos cerca de mil ônibus em circulação em Belém, segundo o secretário, era de mais de dez anos.

Novas vias e BRT

Entre as obras para melhorar o trânsito em Belém e na região metropolitana estão o prolongamento e a duplicação da rua da Marinha e a construção da avenida Liberdade. Ambas são criticadas por ambientalistas devido ao impacto em áreas de floresta. O Governo do Pará diz que elas estão dentro da legalidade.

Para o secretário Silveira, “a rua da Marinha é uma obra que vai conseguir desafogar o trânsito, fazer a ligação de sete bairros populosos que ficam na região da avenida Augusto Montenegro, como Tapanã e Marambaia, com o centro da cidade”.

“Já a avenida Liberdade cria um corredor paralelo à BR-316, que hoje é a única entrada e saída de Belém. É uma obra que a gente considera primordial”, completa.

Outra obra importante, que começou em 2019, é o BRT Metropolitano, com promessa de inauguração no segundo semestre deste ano. Ele vai integrar a capital paraense a municípios da região metropolitana como Ananindeua, Marituba e Benevides. Haverá também uma ciclovia ao longo dos cerca de 10 km do BRT.

“Todas essas nossas obras têm ciclovias: a rua da Marinha, a avenida Liberdade, a avenida Ananim, que a gente entregou em 2023, em Ananindeua [região metropolitana]”, diz o secretário estadual.

Na COP

No período da COP30, diz Luciano de Oliveira, “o governo federal trabalha com a possibilidade de trazer 350 ônibus de fora”. Esses veículos seriam usados para transportar, por exemplo, os participantes que ficarão hospedados nos dois transatlânticos no porto de Outeiro, distrito de Belém, a cerca de 30 km dos locais de realização da conferência.

“Devem ser implementados corredores e sinalização específica para essas áreas, para permitir o deslocamento.”

O secretário destaca ainda outras medidas tomadas para aliviar o trânsito de Belém no período da COP30: “Vamos ter férias escolares e funcionários públicos em home office”. “Isso vai impactar seriamente na questão da fluidez. Por exemplo, em julho [período de férias escolares], você vê que o trânsito melhora.”

O titular da Seinfra cita ainda que, durante a COP, o governo pretende implantar linhas de lanchas para os distritos de Icoaraci, Mosqueiro e Outeiro, “onde haverá um fluxo de pessoas”.

Legado sustentável?

Patrícia Bittencourt questiona o legado da COP30 para a mobilidade em Belém. “É um evento que discute a crise climática e a sustentabilidade, e praticamente todos os investimentos são em infraestrutura rodoviária”, afirma. “Nós temos um potencial hidroviário que não é utilizado para os deslocamentos e que deveria ser explorado”, opina.

Ela afirma que “o discurso sempre foi que o sistema hidroviário tem um investimento inicial caro”. “Então por que não fez agora com os recursos da COP? Desde a época da borracha, não se fazia tanto investimento na cidade em um curto espaço de tempo.”



Fonte ==> Folha SP

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