Um terço de indígenas no Brasil é evangélico, diz Censo – 06/06/2025 – Cotidiano

A imagem mostra um evento noturno em um espaço aberto. Há um grupo de pessoas sentadas em cadeiras, assistindo a uma apresentação que ocorre em um palco à direita. O ambiente é iluminado por luzes artificiais, e ao fundo, há uma construção simples. O céu está escuro, indicando que é noite.

A proporção de evangélicos entre os indígenas é maior do que em qualquer outra divisão de cor ou raça no país, mostram dados do Censo Demográfico 2022 publicados nesta sexta-feira (6) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O recorte indica que três de cada dez (32,2%) pessoas desse contingente professam a fé protestante.

Somando 1.369.916 habitantes, a população autodeclarada indígena no país com 10 ou mais anos de idade é predominantemente católica (42,7%). Em terceiro lugar, estão pessoas sem religião (11%). Quem é adepto de tradições indígenas soma uma parcela de 7,6%.

Com isso, os indígenas (que somam 0,5% das pessoas com 10 anos ou mais no Brasil) representam 0,7% dos evangélicos. A proporção aumentou na comparação com 2010 (0,5%).

Entre os outros grupos, 30% de quem se considera pretos se declara evangélico, 29,3% entre pardos, 23,5% entre brancos e 14,3% entre amarelos.

No total da população, 56,7% dos brasileiros se declararam católicos, 26,9% evangélicos, e 9,3% sem religião. Outros 0,1% disseram seguir tradições indígenas.

O Norte do país concentra a maior parcela (39,3%) de indígenas evangélicos. Centro-Oeste (37,1%), Sul (36,1%), Sudeste (29,4%) e Nordeste (22,7%) aparecem na sequência.

Na comparação entre os estados e o Distrito Federal, as maiores proporções de evangélicos entre indígenas estão em Rondônia (49,5%), Amapá (46,9%) e Mato Grosso do Sul (45,2%). Na outra ponta, Pernambuco (12,3%), Alagoas (13,7%) e Piauí (13,8%) têm as três menores parcelas.

Em números absolutos, Manaus tem o maior número de indígenas evangélicos entre os municípios, com 26.918 pessoas, o que representa 44,1% do total de pessoas indígenas com 10 anos ou mais de idade na cidade. Em termos relativos, 382 municípios tinham 100% de seus residentes indígenas autodeclarados evangélicos.

A pergunta para os residentes de terras indígenas e em setores de agrupamentos indígenas foi “qual a sua crença, ritual indígena ou religião?” O instituto não divulgou nesta sexta dados separados por territórios indígenas.

A definição de uma única religião por meio do recenseamento pode ser mais delicada entre populações indígenas, segundo especialistas ouvidos pela Folha. Na Terra Indígena Yanomami, por exemplo, onde já se estabeleceram missões religiosas de diferentes vertentes, como católica e evangélica, as pessoas podem conhecer outros deuses sem deixar de lado os próprios.

“Mesmo que alguém tenha se declarado católico, não quer dizer que tenha deixado, por um princípio da cultura yanomami, de participar dos rituais yanomami. Não faz sentido ser uma coisa ou outra”, diz o coordenador do programa Povos Indígenas no Brasil do Instituto Socioambiental, Moreno Martins. Para ele, a definição em uma categoria estanque pode não refletir a pluralidade espiritual entre comunidades indígenas.

Já no Sul do país, a natureza mais aberta da fé evangélica pode ajudar a explicar sua popularização, mas não no formato original levado pelos missionários, ao menos em territórios kaingang. É o que diz o doutor em antropologia pela UFSC Ledson Kurtz de Almeida, que pesquisou rituais, a cosmologia e as religiões cristãs entre esse povo indígena nos três estados do Sul.

“São abertas a receber, mais que a católica, uma ascensão de líder indígena que pode se tornar dirigente ou pastor. Muitas vezes fazem cultos na língua indígena ou conduzem os cultos para um ritual a que já estão acostumados, um xamanismo ou crença.”

Em territórios das etnias guarani e kaiowá na região de Dourados (MS), a relação com outras profissões de fé, como a evangélica, tem sido marcada por conflitos, diz o pesquisador kaiowá Izaque João.

Em parte, diz ele, isso acontece porque algumas tradições cristãs veem com maus olhos características e rituais das etnias. “As igrejas nunca tiveram uma relação amiga com a tradição guarani-kaiowá. Isso sempre acarretou grandes conflitos sociais, emocionais, culturais. Porque a tradição guarani-kaiowá tem muito a ver com canto, dança, uso de cocar, de se pintar.”

O sociólogo Clemir Fernandes, diretor-adjunto do Instituto de Estudos da Religião (Iser), aponta ainda outros fenômenos que podem influenciar a relação dos indígenas com as religiões. Jovens que vão às cidades, especialmente os universitários, diz ele, podem buscar uma reconexão com tradições por questões de memória e saudade. “É uma coisa muito forte.”

Já as populações dentro dos territórios, mesmo que professem fé cristã, por exemplo, tendem a se distanciar menos das tradições por causa da relação com o ambiente. “É pela proximidade com as lideranças tradicionais, da família. Quem está dentro talvez seja muito mais sincretizado, porque tem mais possibilidade de assimilar [outras vertentes] com saberes tradicionais.”



Fonte ==> Folha SP

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