Kim Ho-yeon, best-seller coreano, virá à Bienal do Livro – 08/05/2025 – Ilustrada

Kim Ho-yeon, best-seller coreano, virá à Bienal do Livro - 08/05/2025 - Ilustrada

O sul-coreano Kim Ho-yeon já foi roteirista de filmes, escritor de HQs e de vários romances. Foi aos 48 anos, após duas décadas de carreira, que o reconhecimento veio, e com tudo. Em cerca de um ano, vendeu na terra natal 1 milhão de cópias de “A Inconveniente Loja de Conveniência”, história sobre um morador de rua que ganha um emprego num mercadinho ao salvar a bolsa roubada de uma senhora.

O sucesso abriu portas para uma sequência, uma peça musical e será adaptada para um k-drama. Os dois volumes venderam 1,7 milhão de cópias na Coreia do Sul e foram exportados para 27 países, incluindo o Brasil. Kim virou um dos principais nomes da literatura coreana e virá pela primeira vez ao país para participar da Bienal do Livro do Rio.

O próprio autor questiona o que fez seu romance virar febre pelo mundo. “É curioso até mesmo para mim e para a editora”, diz. Na trama, uma professora de história aposentada de 70 anos gerencia uma loja de conveniência que não dá muito lucro. Para compensar o “morador de rua com princípios” que a ajudou, oferece a ele marmitas e a vaga de funcionário noturno do mercadinho.

Dok-go é um senhor de meia-idade que vive na estação de Seul, um dos raros lugares onde se encontra pessoas em situação de rua na capital da Coreia do Sul. Ele não se lembra de seu passado, efeito colateral da bebedeira. “Queria trazer uma perspectiva das pessoas que muitas vezes são excluídas da sociedade”, explica Kim sobre os protagonistas.

O escritor narra pessoas comuns em situações cotidianas. Para isso, escolheu como cenário uma loja de conveniência, estabelecimento que faz parte do dia a dia dos coreanos, com unidades a cada esquina. “Gosto de falar sobre a vida simples, então uma loja de conveniência traria naturalmente essas histórias.”

De início, o novo funcionário, que tem fala lenta e um porte de urso, incomoda a clientela. Mas logo ele consegue amolecer o coração de todos e vira uma espécie de conselheiro para os clientes —como uma dramaturga travada para escrever a próxima peça e uma mãe com dificuldade para lidar com o filho desempregado.

Ao mesmo tempo, Kim diz que queria fazer uma crítica da sociedade coreana, abordando questões como a pressão por uma carreira bem-sucedida, choque entre gerações, suicídio e descambando até para falar de cirurgia plástica e negligência médica.

A relação com o trabalho também tem peso, embora Kim afirme que não tenha sido proposital. Há jovens frustrados por não conseguir emprego ao sair de faculdades de prestígio, pessoas de meia-idade com dificuldade em se inserir no mercado, um executivo insatisfeito com a vida.

A muitos deles restam trabalhos de meio período em lojas de conveniência. “Era uma ferramenta para que as pessoas entendessem essas personagens”, diz Kim.

Numa sociedade tão competitiva quanto a coreana, isso pode ajudar a explicar a explosão de vendas. O best-seller é um dos pioneiros da chamada literatura de cura no país asiático —gênero que virou febre com histórias que oferecem certo consolo ao mostrar pessoas comuns que encontram a plenitude.

Por mais complicados que sejam os problemas, todos são resolvidos. Kim, no entanto, diz que isso foi questão de timing, não escreveu a trama pensando numa tendência específica.

“Esse cenário global, especialmente durante a Covid-19, impactou todo mundo e fez com que as pessoas buscassem um pouco desse sentimento de cura”, diz Kim. “Com guerras acontecendo no mundo, elas querem buscar algo que pode as deixar mais confortáveis.”

A obra foi publicada em 2021, durante a pandemia —o tema aparece mais ao fim e até se relaciona com o destino do protagonista. No segundo livro da série, o coronavírus faz parte do cotidiano e traz preocupações como vacinas e máscaras. Alguns personagens saem de cena: a loja é comandada pelo filho vigarista da professora e o funcionário noturno é outro.

As restrições do período atrapalharam, e a divulgação da obra foi feita no boca a boca, diz o autor. “Acho que, no fim, foi isso que fez com ‘A Inconveniente Loja de Conveniência’ virasse best-seller.”

Como o sucesso, é claro, veio a pressão para atingir as expectativas com os próximos títulos. “Por isso, penso bastante sobre o que dizer”, diz Kim, que não quer se atar apenas à literatura de cura. “A única coisa que mudou realmente foi que minha vida ficou um pouco mais ocupada.”

No ano passado, publicou “Meu Dom Quixote”, sobre pessoas que perseguem sonhos e os personificam —o título será lançado pela Bertrand Brasil na Bienal do Livro.

O escritor diz que ficou surpreso com a repercussão no Brasil. No segundo livro, ele faz menção a “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos, uma obra conhecida na Coreia do Sul. “É um dos meus favoritos, li quando estava no ensino médio e me emocionou bastante.”

“Estou com grande expectativa de conhecer a cultura brasileira e acredito que isso também pode me inspirar nas outras obras também”, diz Kim, que vem à Bienal do Livro por meio do Centro Cultural Coreano no Brasil. Ele participa de dois debates no dia 15 de junho.



Fonte ==> Folha SP

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